Intelectual admirado por Caetano Veloso, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, é uma usina de ideias. Se desafiado, apresentará soluções para todos os problemas do país. Há alguns anos, por exemplo, quando ocupava o mesmo cargo no governo Lula, apresentou um ambicioso projeto para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O modelo complexo, baseado em vários eixos e subeixos, não chegou a sair do papel, mas conquistou a simpatia de militares ufanistas que temiam e ainda temem a internacionalização da Amazônia. Naquela época, a SAE (como é conhecida em Brasília) estava abrigada no sexto andar do prédio do Ministério do Exército, na Esplanada. O professor Mangabeira Unger, portanto, despachava no lugar certo e tinha público cativo para sua propalada criatividade. Mesmo assim, o Plano Amazônia não foi adiante.
Agora, o neto do líder político baiano Otávio Mangabeira está de volta ao Planalto, com ideias ainda mais desafiadoras. Coube a ele, por decisão da presidente Dilma Rousseff, traçar o roteiro que levará o Brasil a honrar o título de “Pátria Educadora”. Há uma semana, em audiência pública na Câmara, o ministro, que é professor de Harvard, falou sobre os eixos centrais de seu projeto, que vai “sacudir a mediocridade”. E aproveitou para fazer considerações sobre o quadro atual da educação. Para ele, o ensino hoje segue “um modelo vidrado em decoreba e fixado na enciclopedia”. Eis sua conclusão a respeito do tema: “O palco para a aquisição das competências analíticas é o aprofundamento seletivo. O conteúdo é muito menos importante, o que vale é que ele seja abordado com profundidade”.
Parece hermético, mas Mangabeira Unger é assim mesmo. Seu pensamento acadêmico não é accessível ao comum dos mortais. Mas esta não é uma preocupação do professor. Tão pouco importa a viabilidade de suas recomendações. No caso do Plano Nacional de Educação, além de questões explosivas defendidas por ele, como a intervenção federal em municípios e a adoção de critérios de mérito no magistério, chamou a atenção a ausência do Ministério da Educação no debate da estratégia. Ao assumir a pasta, o professor Renato Janine Ribeiro teve o constrangimento de saber que Mangabeira Unger fora encarregado de traçar os rumos da Educação. Apesar de sua resignação, especialistas do setor questionaram o conflito de autoridade. Quem, afinal responde, pelas políticas educacionais: o MEC ou a SAE?
Janine Ribeiro tentou por panos quentes. Em nota oficial, explicou que o MEC está em constante diálogo com outros ministérios e justificou a contribuição do colega: “O ministro Mangabeira Unger é um grande pensador que contribuirá muito para o projeto de educação do governo federal”. Se é assim, vai aqui uma sugestão para o ministro da Educação: já que Mangabeira Unger mantém canal aberto com a presidente Dilma, por que não pedir sua ajuda para repor as verbas do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), que foram cortadas à metade pelo Ministério da Fazenda? Mais de 250 mil estudantes ficaram a ver navios e terão de trancar a matrícula. Janine resume-se a dizer que os recursos acabaram, mas a OAB nacional adverte que “não se pode fazer ajuste fiscal na Educação”. Por enquanto, o pensador da “Pátria Educadora”, não se manifestou. Talvez o corte do FIES seja uma questão concreta demais para Mangabeira Unger.