Por bruno.dutra

Essas politicas têm demonstrado resultados dúbios nos Estados Unidos e no Japão, mas um estrago enorme para outras economias que não podem simplesmente optar por emitir moeda forte para responder à crise. A pergunta que fica no ar é: o que um país, como o Brasil, pode fazer frente ao crescimento do clube do superativismo monetário?

Mario Draghi, o presidente italiano do BCE, resistiu mais de um ano à pressão (de governos, mercados, economistas e até mesmo do Fundo Monetário Internacional) para adotar um programa de QE parecido com o americano e o japonês. Com as economias da Zona do Euro, inclusive a Alemanha, mostrando sinais de estagnação e caminhando para deflação de preços, Draghi cedeu. Nesta semana, ele anunciou um QE na ordem de € 1 trilhão (ou cerca de US$ 1,3 trilhão).

Mas foi além de indicar como deve atuar o BCE que comanda: declarou apoio a uma expansão fiscal mais expansionista, voltada especialmente ao investimento público; e, de quebra, reiterou sua convicção da necessidade de uma série de reformas estruturais — especialmente dando mais “flexibilidade” aos mercados de trabalho e de produtos, reformando o sistema previdenciário, e reduzindo regulamentação e “privilégios” de algumas categorias de serviços profissionais. Estas declarações fizeram o euro despencar, mas o anúncio foi recebido com júbilo pelos mercados.

Com a declaração de Draghi, os países da Zona do Euro se unem ao clube das economias desenvolvidas que adotam políticas monetárias não convencionais, sem resultados claros sobre sua própria recuperação. Os Estados Unidos, por exemplo, ainda tem um crescimento volátil, especialmente devido à resposta titubeante do mercado de trabalho, como indica o ultimo relatório do Bureau of Labour Statistics norte-americano: um crescimento dos empregos de somente 142 mil, muito abaixo do esperado pelo mercado, e salários reais médios baixos e quase estacionados. No Japão, o boom de consumo gerado pela expectativa de aumento da taxação acabou em uma igualmente abrupta retração da demanda agregada, e da produção neste ultimo quadrimestre.

Se os resultados do QE de Draghi não parecem ser promissores para as economias da Zona do Euro, para países em desenvolvimento, que não possuem “moedas fortes”, as consequências são bem mais claras. Para alguns poucos de nós, como a China, o efeito será pequeno. Afinal os chineses controlam fortemente os fluxos de capital e mantêm o câmbio “pegado” ao dólar e a outras moedas fortes. Portanto, sua competitividade e seu comércio provavelmente não chegarão a ser afetados pelas desvalorizações das moedas fortes e/ou pelos fluxos excessivos no contexto da adoção do QE em economias desenvolvidas, da OCDE.

Porém, em outros, como o Brasil, além de não emitirmos moedas fortes, e adotarmos regimes macroeconômicos calcados em câmbio (mais ou menos) flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal, a simples desvalorização do euro, que já vem ocorrendo, poderá afetar nossas exportações para a União Europeia e para outros mercados. Mas, ao inundar o mercado financeiro global com liquidez, o QE europeu pode ampliar os incentivos de migração de capitais europeus de curto prazo em busca de arbitragem.

Isto acabaria por nos forçar a adotar políticas de esterilização ou atuar no mercado futuro para evitar mais uma rodada de sobrevalorização cambial — ou seja, a manter a taxa de juros no patamar elevado. E, com um real valorizado e taxas de juros elevadas, não há setor produtivo (especialmente o manufatureiro) que possa manter alguma competitividade — já baixa, devido a outros fatores, como as nossas deficiências de infraestura, logística e a baixa produtividade do trabalho.

Frente ao avanço das políticas de QE nas economias desenvolvidas, parece intuitivo que deveríamos começar a pensar seriamente em medidas extraordinárias de controle de capital. Não estou aqui sugerindo nada como o que vemos na China, mas, pelo menos, começar a explorar as margens dadas pelas recentes recomendações do FMI. É o mínimo que podemos fazer.

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