Por monica.lima

Todo setor econômico é complexo porque tem suas relações particulares com o emprego e o rendimento médio da população, com o movimento e o nível da atividade econômica em geral, com outros setores e, considerando cada um individualmente, com ele próprio. A indústria, por exemplo, tem uma pronunciada complexidade porque mantém relações de todos os tipos relacionados acima, sendo que também a diferencia a forte relação que tem os seus ramos entre si, algo que os demais setores não acusam na mesma escala.

Os setores também se diferenciam pelo o que eles geram de mais importante para a economia. Todos geram renda, emprego, tributos, divisas, etc., mas cada um tem sua posição peculiar. No Brasil, por exemplo, não há setor como o agropecuário para gerar divisas. E não há outro setor para gerar efeitos encadeados na economia, inovações e receitas tributárias como a indústria. Já o setor de serviços não tem igual em termos de geração de emprego.

Este último é também um setor muito complexo em termos de sua inserção na economia. Como é muito amplo — responde por mais de dois terços do PIB — e diversificado, seu dinamismo depende de múltiplos fatores. O nível de renda da população é um deles, pois determina a capacidade de compra de serviços prestados às famílias, a exemplo de alojamento, alimentação e educação, além de serviços pessoais.

A tecnologia e a disseminação de práticas tecnológicas avançadas é outro determinante, por abrir canais de prestação de serviços modernos, como os associados à tecnologia de informação e comunicações. Por outro lado, cada vez mais os serviços técnico-profissionais e serviços administrativos, a exemplo de administração de aluguéis, são transferidos das empresas dos demais setores para corporações grandes, mas também a muitas de pequeno porte e individuais especializadas nessa categoria de serviços.

Muito associado aos demais setores, como agropecuária e indústria — além de relacionar-se intimamente com o nível geral de atividade e o comércio exterior — os serviços de transporte e correio espelham o desenvolvimento dos setores produtores de bens e a circulação de mercadorias na economia. Todas as categorias de serviços, de uma forma geral, têm sua dinâmica também relacionada ao nível global da atividade econômica, muito especialmente à indústria.

Todos os determinantes vistos acima tiveram significativa expansão no ciclo recente da economia brasileira, levando a um especial impulso às vendas de serviços. Por ter ramos diferenciados, este custou a refletir o declínio gradativo da economia nos últimos quatro anos, um processo que, no entanto, nesse início de 2015 parece denotar uma fase abrangente de regressão.

No corrente ano até fevereiro, relativamente ao mesmo período de 2014, a receita nominal do setor cresceu 1,3%, segundo o IBGE divulgou ontem. Para uma inflação ao consumidor que chegou a 8,1% no mesmo período, esta variação nominal corresponde a uma queda muito expressiva em termos reais.

Anteriormente o quadro fora muito diferente. Por exemplo, para o ano de 2012 a receita nominal teve aumento de 10%, de 8,5% em 2013 e 6% em 2014, nesse último caso já se posicionando abaixo da inflação oficial.

O segmento que ainda bloqueia uma maior queda real de faturamento do setor é o de serviços prestados às famílias, cujo aumento nominal nesse início de ano, de 7,9%, correspondeu praticamente à inflação. Nesse caso, como o desemprego só está iniciando sua trajetória de aumento e por enquanto os níveis de rendimento real da população estão sendo preservados, os efeitos sobre a demanda de serviços pessoais ainda estão relativamente contidos.

Como a perspectiva em especial para o setor industrial é negativa e o nível de atividade da economia deve prosseguir caindo, é de se supor que o setor de serviços, que serviu de “resistência” para que o processo cumulativo de retração econômica não fosse tão adiante, siga em marcha mais acelerada seu percurso declinante. Este é um componente a mais do quadro pessimista que se projeta para a economia em 2015.

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