Moradores de regiões nos limites da cidade, como Donana, costumam reclamar da escassez de ônibus - Divulgação/Prefeitura
Moradores de regiões nos limites da cidade, como Donana, costumam reclamar da escassez de ônibusDivulgação/Prefeitura
Por Leonardo Maia

Campos — Quem circula por Campos com olhar atento nota algo problemático. Muitos carros e poucos ônibus nas ruas. O que gera inconvenientes mais relevantes do que meramente a constante lentidão do trânsito, acima do que seria aceitável para uma cidade totalmente plana de 500 mil habitantes. Muitos bairros periféricos estão desassistidos, outros com vans e ônibus em conflito por passageiros. E até regiões mais nobres não oferecem a alternativa do transporte coletivo, obrigando os moradores a tirar seus carros da garagem para percorrer distâncias relativamente curtas.

Na tentativa de mudar esse cenário, a prefeitura começa a implementar no mês que vem o novo sistema de transporte público, que vai se inspirar em modelos em disseminação nas grandes cidades do mundo, com um perímetro central na cidade sendo alimentado por linhas que vão atingir as localidades mais afastadas.

“Nós temos um sistema falido desde 2011, quando muitas vans foram legalizadas sem critério e ordenação”, argumenta Felipe Quintanilha, presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), que assumiu a pasta no ano passado.

Segundo Quintanilha, a competição entre vans e ônibus é o cerne das dificuldades. Com a sobreposição de rotas, muitas linhas dos coletivos ficam inviabilizadas comercialmente. Em sua estimativa, Campos tem hoje 180 ônibus em operação, de uma frota de cerca de 260. Ou seja, 80 estão nas garagens das empresas concessionárias. “Empresário não joga dinheiro fora. Se colocarem mais veículos nas ruas, tomam prejuízo”.

O prejuízo maior, porém, fica com a população que depende do transporte público. “Muitas vezes fico mais de uma hora no ponto, esperando passar um ônibus com lugar. Passam dois ou três ônibus lotados, com gente pendurada na porta, antes de vir um vazio”, reclama Tânia Regina, trabalhadora doméstica, moradora do Parque Guarus, às margens da BR-101 rumo ao Espírito Santo. “Antes das 9 horas é quase impossível conseguir pegar um ônibus”.

Juliana Coutinho, manicure, tem sua clientela quase que exclusivamente restrita ao “lado de lá da ponte”, aos bairros de Guarus, porque não há condução para a região central do Jardim Carioca, onde mora. “E olha que o prefeito mora no meu bairro”, destaca.

“Sabemos de todos esses problemas. Justamente por isso estamos mudando todo o sistema”, diz Quintanilha. “A melhoria passa, obrigatoriamente, pelo fim da disputa entre vans e ônibus”.

A prefeitura concebeu o novo projeto a partir do conceito de linhas-tronco e linhas-alimentadoras, com os ônibus maiores circulando por um raio mais restrito, e vans e micro-ônibus partindo de seis terminais nos limites da cidade para as áreas mais afastadas. Não apenas para acabar com a autofagia do sistema atual, mas para mitigar um desafio geográfico.

Campos é o maior município do Estado, o sexto maior do país, com 4000km2, mas tem 72% de sua população limitada a um raio de 60km2, enquanto os outros 160 mil habitantes se espalham por 98% do território, uma área de 3600km2.

“Isso gera muitas dificuldades. Não há condições de manter uma linha que percorra 80km para uma área com baixa demanda populacional. Vamos colocar as vans e micro-ônibus para atender essas pessoas. Um micro-ônibus tem 1/3 do custo de um ônibus tradicional”, exemplifica Quintanilha, que projeta a necessidade de pelo menos 200 ônibus e 100 vans e micros em circulação para satisfazer os trajetos já existentes. Mas a intenção é licitar novas linhas para acompanhar o ritmo de expansão constante da cidade.

O novo sistema vai trabalhar a partir de seis grandes regiões distritais: Baixada Campista, Barretos (no limite com São João da Barra), Norte (BR-101 rumo ao Espírito Santo), Sapucaia e Três Vendas (BR-356, Itaperuna), Rio Preto (RJ-158, São Fidélis), e Serrinha e Dores de Macabu (BR-101, Niterói).

“Tenho consciência de que enfrentarem muitas dificuldades e reclamações durante a implementação do novo sistema. Meu objetivo é que no fim do ano a população perceba que houve uma melhora significativa”, projeta Quintanilha.

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