Gil Vianna abraço filho Bruno na cerimônia de seu casamento - Acervo pessoal
Gil Vianna abraço filho Bruno na cerimônia de seu casamentoAcervo pessoal
Por Leonardo Maia
Campos — Não tem nem um mês que Bruno perdeu o pai. Não tem nem um mês que Bruno, aos 23 anos, perdeu o pai e não pôde velá-lo. Sem mesmo o tempo para viver o luto, precisou assumir responsabilidades e carregar o peso do nome de seu pai. Não tem nem um mês que Bruno Vianna perdeu o pai, o deputado estadual Gil Vianna, para o coronavírus. Uma morte que deu nome e rosto à pandemia na cidade, que conta outros 53 mortos pela covid-19.
“Perdi a pessoa mais importante na minha vida”, diz Bruno, ao falar pela primeira vez publicamente sobre a perda do pai.
Publicidade
O deputado estadual Gil Vianna morreu em 19 de maio, vítima do coronavírus - Divulgação
A morte de Gil, então pré-candidato a prefeito de Campos, ganhou repercussão nacional. Não apenas por se tratar de um parlamentar do Rio, mas também porque o policial reformado era do PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, que desde sempre minimiza a gravidade do coronavírus e é criticado pela política de combate à doença. O que inevitavelmente levou a suposições e insinuações sobre sua posição acerca do assunto.
Publicidade
“Meu pai sempre levou com muita seriedade a pandemia, preocupado com a minha família, até porque ele não podia ficar isolado, por causa da função de servidor público dele”, garante Bruno. “Ele sempre levou com muita seriedade”.
Publicidade
De fato, uma rápida busca pelas redes sociais do deputado resulta em vídeos e declarações em que pede que as pessoas se cuidem e fiquem em suas casas.
Mas agora é Bruno quem precisa responder a esses questionamentos. Com a morte de Gil, Bruno assumiu a liderança do PSL nas regiões Norte e Noroeste Fluminense. E será candidato a uma cadeira na câmara de vereadores de Campos.
Publicidade
“Por tudo o que estou vivendo com meu pai, não posso ser hipócrita, não posso dizer que quero que a gente volte ao normal”, diz o jovem. “Não posso dizer que sou contra o isolamento, porque sei o que estou passando”.
Bruno Vianna, de 23 anos, filho do deputado Gil Vianna, é pré-candidato a vereador de Campos pelo PSL - Acervo pessoal
Publicidade
“Consigo entender quem quer abrir, o comerciante. Mas eu, pela experiência pessoal, não posso dizer para reabrir, a minha dor é irreparável. O vírus é muito traiçoeiro, vi meu pai duas horas antes de morrer e ele parecia bem”.
Bruno se refere à velocidade com que o quadro do deputado se agravou. No dia 6 de maio, Gil apresentou algumas sintomas, depois de retornar do Rio, do trabalho na Alerj. Ao testar positivo, ele se isolou num apartamento diferente do qual morava com a mulher e os três filhos.
Publicidade
“Não parecia grave, mas tossia muito, principalmente à noite, sentia muita dor no corpo. E passou a não comer bem, por causa do paladar”, relembra Bruno.
No dia 11, à medida que não melhorava, buscou o hospital da Unimed. No dia 14, foi transferido para a UTI, com o pulmão já bem comprometido. Mesmo assim, estava lúcido e perguntando sobre a família e os amigos, conta o filho. No dia 19, uma terça-feira, Bruno o visitou e conversaram através de uma parede de vidro.
Publicidade
“Estava bem abatido, mas saí mais motivado do hospital. Até coloquei um vídeo no Instagram dizendo que estava bem. Poucas horas depois, recebi uma ligação dizendo que ele teria de ser entubado”.
Às 22h45 daquele dia, Gil Vianna, pai de Bruno, havia morrido por covid-19.
Por sua figura pública, por sua filiação partidária, a morte do deputado provocou muita especulação. O jornalista Lauro Jardim, de O Globo, publicou em seu blog que Vianna foi tratado com hidroxicloroquina.
Publicidade
“Não sei dizer (se usaram o remédio), sinceramente. Meu pai estava isolado, e foi sozinho para o hospital. Se ele recebeu cloroquina, foi por decisão do médico e com autorização dele”.
Gil foi internado no hospital da Unimed em Campos. Questionada, a direção da unidade, por meio de sua assessoria, disse que não há protocolo definido para o uso da hidroxicloroquina para pacientes com covid. E que cabe ao médico, com consentimento do doente ou de sua família, a prescrição do medicamento, caso a caso.
Publicidade
Bruno também relativiza a classificação de bolsonarista atribuída ao pai. Gil se aproximava das bandeiras do bolsonarismo relacionadas à segurança pública, especialmente, tendo sido um policial militar e integrante do Exército. Mas não se alinhava ao núcleo ideológico mais radical do movimento.
“Meu pai sempre foi muito conciliador, mesmo sendo PM, meio duro, ele era muito conciliador”, conta Bruno. “Nunca foi um extremista”.
Publicidade
Em fevereiro do ano passado, Gil assumiu a liderança do PSL na Alerj, mas deixou o posto já em maio do mesmo ano. À época, ele alegou que precisava se dedicar à campanha para prefeito de Campos. Mas nos bastidores comentava-se que alguns integrantes do partido o achavam “radical” de menos.
“Não posso confirmar essa versão, mas meu pai realmente não era um cara de conflito”, reforça o filho. “Tanto é que vários deputados, de vários partidos, destacaram esse perfil dele na homenagem que fizeram depois de sua morte”.
Publicidade
Bruno diz que o pai tinha boa relação com os Bolsonaro, e era amigo de Flavio, um dos filhos do presidente. No entanto, a partir da dissensão interna do PSL com a saída de Jair e de Flavio, e a divisão da sigla entre os que se mantiveram fieis ao clã presidencial e os que se alinharam no espectro oposto, Gil se aproximava mais do pólo que se antagonizou ao bolsonarismo.
“Nesses últimos meses posso dizer que ele pendeu mais para esse lado”.
Publicidade
E como Bruno se coloca nessa disputa, agora que é líder regional do partido e precisa conduzir e dialogar com filiados também separados nesse campo?
“É uma pergunta muito delicada. Eu e meu pai sempre debatíamos muito sobre isso. Eu falava com ele que chegaria a hora em que teria de tomar uma posição mais definida”, revela. “Acho que me aproximo do posicionamento do meu pai, mas o partido está dividido e preciso liderar e unir esse grupo. Preciso ouvir todos e tentar conciliar, para seguir o legado do meu pai”.
Publicidade
Bruno e Gil Vianna juntos: filho pretende seguir legado do pai na política campista - Acervo pessoal
Bruno destaca que ainda está sob o baque da morte do pai, e aprendendo e buscando seu espaço na política. Mas diz que vai buscar reproduzir a personalidade conciliadora de Gil. O pré-candidato a vereador também pondera que, na esfera municipal, essas disputas ideológicas têm menos relevância.
Publicidade
Meia-atacante, campeão da Copa Rio com o Americano em 2018, Bruno perdeu ainda pequeno uma irmã, portadora de necessidades especiais. Foi a dor de perder uma filha com deficiência que levou Gil Vianna à política. Bruno também vê na responsabilidade de levar adiante a luta do pai o melhor caminho para lidar com sua ausência.
“É o que me faz levantar da cama todos os dias, seguir o legado dele. É um pouco doloroso, porque todos que encontro falam do meu pai. Mas também me dá muito orgulho.”