Presidente Bolsonaro recebe o CEO da Liberty Media, grupo que comanda a Fórmula 1, Chase Carey, acompanhado do governador do Rio, Wilson Witzel, e do senador Flávio Bolsonaro - Valter Campanato/Agência Brasil
Presidente Bolsonaro recebe o CEO da Liberty Media, grupo que comanda a Fórmula 1, Chase Carey, acompanhado do governador do Rio, Wilson Witzel, e do senador Flávio BolsonaroValter Campanato/Agência Brasil
Por Chico Alves
É um recorde: apenas seis meses após o novo presidente tomar posse, já teve início informalmente uma nova disputa presidencial. A largada foi dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, quando, há uma semana, deixou escapar aos que o escutavam na Marcha Para Jesus o sonho com a reeleição: “Meu muito obrigado a quem votou e quem não votou em mim. Lá na frente, todos votarão, tenho certeza”. O confronto com o possível rival de 2022 também foi antecipado e tem hoje como espaço de disputa o Rio de Janeiro. Mais precisamente, o autódromo do Rio.

Esse é um dos principais motivos que levam Bolsonaro a turbinar a ideia de fazer em território fluminense uma nova pista, que levaria o nome de Ayrton Senna, para sediar provas de Fórmula 1 em 2021. Assim, tiraria de São Paulo o seu principal evento turístico, que movimenta R$ 334 milhões, impondo uma derrota ao governador João Dória (PSDB), visto por todos como potencial candidato a presidente na próxima eleição. O primeiro anúncio foi feito no dia 8 de maio, quando Bolsonaro assinou termo de cooperação para construção do circuito em Deodoro e anunciou que a F1 se mudaria para o Rio. Dois dias depois, Dória deu entrevista rebatendo e disse que a prova continuaria em São Paulo.

Na última semana, o tema voltou a esquentar por conta da visita ao Brasil do principal diretor executivo da categoria automobilística, Chase Carey. Ontem, falando no Palácio do Planalto na presença de Carey, o presidente garantiu que tudo estaria 99% acertado ("ou mais", disse ele) para que a Fórmula 1 seja realizada no futuro autódromo carioca, em 2021. O executivo americano falou depois do presidente e negou que haja definição sobre o assunto: "No momento não temos nada fechado, estamos ainda em negociação. Não queremos eliminar qualquer possibilidade. Estamos negociando com o Rio de janeiro, mas também com São Paulo".

Dória, que não é bobo nem nada, já tinha identificado na disputa uma tentativa de ultrapassagem eleitoral. "A questão da Fórmula 1 não é política. É econômica. Não é hora de eleição, é momento de gestão", afirmou o tucano, ainda na segunda-feira. Nesta terça-feira, depois da fala de Bolsonaro, o governador paulista reafirmou que quer manter a prova em São Paulo e anunciou um plano de 20 anos de permanência. Seja lá qual for o vencedor, o certo é que Dória foi puxado por Bolsonaro para a primeira disputa da corrida eleitoral de 2022.

O empresário Paulo Marinho conhece os dois lados: foi apoiador de primeira hora da campanha de Bolsonaro e hoje é dirigente do PSDB do Rio, aliado de Dória. "Quem está dando essa conotação de disputa eleitoral é o capitão (forma como Marinho se refere ao presidente). Avalio que o projeto do Rio de Janeiro precisa de um investimento imenso, não sei se é viável do ponto de vista econômico, é uma operação complicada", disse o empresário. "Independente da decisão dos responsáveis pela Fórmula 1, acho um erro o capitão ter entrado nessa história, não faz sentido fazer essa disputa dessa forma". O dia inteiro de ontem foi de provocações e respostas de um lado e de outro. (Veja as provocações aqui)
A corrida presidencial de 2022 começou muito cedo, nunca houve uma prova tão longa. É impossível saber o que vai acontecer na linha de chegada, mas o certo é que a competição na pista promete muita emoção a cada curva.