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Reprodução da internet
Por Chico Alves
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, anunciou ontem a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista para investigar fake news e outros tipos de ataques e difamação contra autoridades e instituições pela internet. Como já noticiou a coluna, é crescente a preocupação de senadores e deputados com o tom agressivo de internautas que ameaçam ou lançam mentiras contra os parlamentares quando eles se posicionam ou votam em divergência com os interesses destes grupos. Nada a ver com a discordância legítima que enriquece o debate democrático: são pura e simplesmente baixarias, notícias falsificadas, tentativas de coação.

Foi o que aconteceu na ocasião em que os senadores derrubaram os decretos das armas enviados pelo governo. É assim com o presidente da comissão especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PL-AM), que vem recebendo seguidas ameaças. Tem sido assim com o deputado David Miranda (PSOL-RJ), principalmente depois da publicação dos vazamentos de conversas de Sergio Moro com procuradores da Lava Jato pelo site The Intercept , dirigido por seu marido, o jornalista Glenn Greenwald. É, na verdade, o caso de vários outros congressistas. "O aparato tecnológico utilizado na propagação de notícias falsas vem assumindo níveis cada vez mais assustadores", diz Alcolumbre.

Apesar do apoio amplo dos políticos à iniciativa, houve parlamentares contrários. Um deles foi o deputado Filipe Barros (PSL-PR), que protocolou no STF um mandado de segurança com pedido de liminar para barrar a criação da comissão: " A CPMI das fake news é um apelido bonitinho para disfarçar a verdadeira intenção: criar fake news contra o governo, censurar a população que está se manifestando na internet e, no final, propor a 'regulamentação' da mídia, leia-se censura a liberdade de imprensa", diz ele.

O presidente do Senado nega tal intenção. "Países do mundo inteiro têm enfrentado esse desafio para garantir a liberdade de expressão sem ferir os direitos individuais e coletivos de cada pessoa, como os direitos à privacidade e à informação", explica .

Outro que se mostra contrário é o vice-líder do governo na Câmara, deputado Marco Feliciano (PSL-SP). Seu argumento é de que a oposição se mostra coesa no Congresso e poderá levar vantagem na CPMI contra os integrantes de seu partido, que, segundo ele, estão divididos. (Veja aqui)

É curioso que uma comissão de inquérito para coibir fake news e ameaças pela internet se transforme em mais um tema de embate entre governistas e oposição, quando deveria unir a todos. Tornar a discussão política mais saudável, eliminar notícias falsas e tirar dos debates o ingrediente da agressividade faria muito bem ao país. Infelizmente, o que se verá nos próximos dias será um bate-boca justamente contra a tentativa de antídoto para esse mal. E, certamente, temperado com muitas fake news.