Deputada Tabata Amaral (PDT-SP) - Reprodução Facebook
Deputada Tabata Amaral (PDT-SP)Reprodução Facebook
Por Chico Alves

A desavença entre a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) e o seu partido por causa do voto dela a favor da Reforma da Previdência do governo deixou mais claro um dos novos mitos da política brasileira. Segundo a lenda da moda, a solução para todos os problemas das agremiações partidárias está fora delas. Seriam os tais "movimentos de renovação política", a um dos quais Tabata deve boa parte de sua formação, os instrumentos para fazer o Congresso respirar novos ares, deixar de lado o fisiologismo e criar um futuro brilhante para os eleitores. Pura balela. Alguns integrantes desses grupos têm boa intenção, outros nem tanto, mas o episódio Tabata x PDT revela como é tortuoso o raciocínio em que baseiam a sua ação.

Uma das iniciativas planejadas por esses "renovadores" da política é um projeto de lei para tornar os partidos "mais democráticos". No caso da deputada paulista, nada houve de autoritário na conduta do PDT. Vejamos: o partido fechou questão contra a Reforma da Previdência em processo aberto, com votação unânime de seus integrantes, inclusive da própria Tabata. Mesmo assim, ela resolve votar no sentido contrário do que foi decidido na convenção. Diante da infidelidade, o partido abre processo disciplinar, onde todos os que fizeram o mesmo serão julgados com amplo espaço para defesa, podendo ser advertidos, suspensos ou expulsos. É assim em todas as democracias do mundo.

Em reação à reprimenda, Tabata escreveu artigo na Folha de S. Paulo dizendo que “as siglas ainda ostentam estruturas antigas de comando, e na maioria faz falta mais democracia interna". Quer método mais democrático que votação na convenção? No texto, a deputada defende que muitos partidos não representam mais a sociedade, mas apenas nichos. Faltou dizer quais. Se inclui o PDT entre eles, qual o motivo de ter ingressado?

O tal movimento Acredito, que formou a deputada, soltou nota na qual afirma que partidos são barreiras à renovação. Vai-se fazer política como, então? Esses grupos patrocinados por empresários vão dividir entre si as legislaturas daqui para a frente? Isso sim seria autoritarismo.

Desde o início dessa disputa começaram a circular na mídia artigos e comentários louvando a intervenção desses movimentos "renovadores". A linha de raciocínio usada leva à conclusão de que os partidos estão ultrapassados. Não há dúvida de que as legendas merecem uma enxurrada de críticas e que esse tipo de linchamento virou esporte nacional. O problema é quando, com tantos erros a corrigir, as agremiações são atacadas justamente por aquilo que ainda têm de bom. O conceito de fidelidade partidária serve para que o eleitor saiba a que tipo de ideário se filia o parlamentar em que está votando, que tipo de causas vai defender se for eleito. Caso isso caia por terra, a política vira um "cada um por si".

Se os "renovadores" acham que as legendas deixam a desejar, deveriam lembrar uma antiga lição: nada é tão ruim que não possa piorar. Usar os partidos como simples cabides de ideias nas quais o eleitor não votou é receita infalível para fazer a política ainda mais rejeitada.