
As últimas mensagens reveladas mostram que, em 2016, o procurador Deltan Dallagnol orientou os colegas a investigar Dias Toffoli, hoje presidente do Supremo Tribunal Federal. Ministros do STF não podem ser investigados por procuradores da primeira instância e, portanto, a iniciativa é ilegal. (Veja aqui) Também ilegalmente, Dallagnol teria buscado informações sobre finanças pessoais de Toffoli e sua mulher sem qualquer determinação judicial.
O primeiro a se manifestar foi o ministro Gilmar Mendes, que defendeu apuração sobre a atuação da força-tarefa pelos conselhos do Ministério Público e da Justiça. Criticou também o fato de Dallagnol usar a Receita Federal para investigar mulheres de ministros do STF, além dos próprios. Foi feito um relatório sobre Guiomar Mendes, mulher Gilmar, e sobre Roberta Rangel, mulher de Toffoli, vazado para a imprensa no início do ano.O ministro Marco Aurélio Mello também fez crítica pública e considerou “inconcebível” o acontecido.
Depois das palavras, vieram as ações. Primeiro, Luiz Fux concedeu liminar determinando que as mensagens sejam preservadas e enviadas ao STF. À noite, o ministro Alexandre de Moraes também requisitou a íntegra do material apreendido pela Polícia Federal na Operação Spoofing. A ordem deve ser cumprida dentro de 48 horas.
Assim, a Polícia Federal e o juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, não têm mais controle sobre as informações contidas no material apreendido com os quatro presos acusados de serem os hackers que invadiram celulares de autoridades e extraíram diálogos privados.
Para levar Deltan e seus colegas às cordas por completo, o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Fernando Mendes, afirmou que “se as conversas divulgadas pela Folha de S.Paulo realmente aconteceram, o fato é muito grave”. A nota da Ajufe, que até então só havia se manifestado para apoiar a Lava Jato, continua: “se havia qualquer indício de crime praticado por ministros, caberia à Procuradoria-Geral da República representar para que os tribunais superiores fizessem as apurações devidas, e jamais realizar ou estimular investigações paralelas em flagrante desrespeito ao devido processo legal.”
A posição dos integrantes força-tarefa e do ex-juiz Sergio Moro nunca esteve tão frágil. Procuradores do MPF, no Rio, comentam reservadamente que o risco de uma punição a Deltan é iminente. Imagina-se que a noite de quinta-feira tenha sido de insônia para o chefe da força-tarefa. Se for confirmada a afirmação do jornalista Glenn Greenwald, de que o mais grave ainda não veio à tona, a turma da Lava Jato teve ontem uma boa amostra dos dias turbulentos que terão virão pela frente.