Em 1889, com equipamentos vindos da Inglaterra, a empresa deu os primeiros passos em uma história que envolveria a reconfiguração de um bairro, o investimento em um time de futebol campeão carioca e a inserção da moda brasileira no mundo.
Existe uma Fábrica Bangu antes e outra depois da família Silveira tomar conta do negócio.
E, nessa coluna, vou me dedicar a segunda fase do empreendimento, quando Guilherme da Silveira, ou Silveirinha, assume a presidência, em 1923.
Com forte entrada na high society carioca, Silveirinha fez com que os olhos dos frequentadores das rodinhas mais seletas se virassem pra uma área da cidade praticamente desconhecida. E fez com que a moda gerada na Fábrica ganhasse do salão nobre do Copacabana Palace, com desfiles, aos centros mundiais do design.
Na década de 1950, por exemplo, todo mundo acompanhava o Miss Elegante Bangu, que, no frigir dos ovos, era o Miss Brasil. As filhas dos bacanas disputavam. As revistas davam o resultado. Quem fosse coroada ali, o céu seria o limite.
Estilistas famosos, como o francês Hubert de Givenchy, desenhavam ou para Fábrica ou para coleções próprias usando unicamente o algodão produzido por lá.
Mulheres badaladas, como a modelo francesa Brigitte Bardot, usavam roupas da Fábrica.
Poderosos, como Juscelino Kubitschek e Agildo Barata, iam até o bairro pra entender a administração daquele espaço.
De 1930 a 1960, muito dinheiro pingou, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial ( 1939-1945). Países impossibilitados de comprarem roupas direto da Europa, como África do Sul, recorriam à Bangu.
Evidente que todo esse avanço modificaria a realidade de um bairro isolado do centro nervoso econômico. No auge, só na Fábrica, trabalhavam 6000 funcionários. Criou-se um mundo para fazer a roda girar – e para a emoção não perder fôlego.
Casas para os operários, hospitais, escolas, farmácias, bibliotecas( ...) foram construídas. A movimentação mais comum era de bicicleta.
A turma do bairro começou a andar de cabeça erguida. Orgulho.
Nada melhor que um time de futebol competitivo para elevar ainda mais o moral. É agora que entra nosso querido Bangu Atlético Clube, fundado em 1904 pelos operários da própria Fábrica.
Campeonato Carioca de 1933. Silveirinha, que morava no bairro, era um grande estimulador do time. Bangu foi campeão. O povo parou as ruas para saudar os vitoriosos.
O primeiro título incentivaria ainda mais o clube a ganhar estrutura moderna e pensamento grande. Ousadia.
Silveirinha seria presidente do clube de 1937 a 1949 – depois virou patrono. Zizinho, pai de Castor de Andrade, chegaria na sequência, continuando os investimentos e abocanhando o cariocão de 1966.
O sonho dourado do progresso foi desidratando com o passar do tempo. A morte de Guilherme da Silveira, em 1989, no centenário da empresa, abriu uma fissura familiar e levantou uma frase comum: “e aí, o que fazer?”.
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Joaquim Silveira
Joaquim Silveira, irmão do Silveirinha, também foi presidente da Fábrica Bangu.
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