Vasco estampou o logo do SBT para a final da Copa João Havelange, em 2001 - Reprodução Internet
Vasco estampou o logo do SBT para a final da Copa João Havelange, em 2001Reprodução Internet
Por Thiago Gomide
A torcida vascaína gritava insistentemente e quase que de maneira uníssona verdadeiras pérolas do cancioneiro brejeiro do SBT.

“Ão, ão,ão, é o jogo do milhão”, “Ah, é Silvio Santos” e até “ritmo, é ritmo de festa”.

Quem era do traçado e estava assistindo pela TV Globo, entendia que a equipe da emissora operava verdadeiros milagres para não deixar transparecer os protestos, que ainda se estendiam a xingamentos e o batido “O povo não é bobo, fora TV Globo”.

Por mais talento envolvido, era impossível. O logo do SBT estava no peito de cada craque. E o Vasco tinha uma seleção, que contava com Romário, Euller, Juninho Pernambuco, Jorginho, Pedrinho e Juninho Paulista.

60 milhões de pessoas, espalhadas pelos quatro cantos do Brasil, presenciavam o feito orquestrado por um dos mais polêmicos gestores de futebol da história, Eurico Miranda.

Eurico tinha ficado revoltado com a TV Globo pela cobertura do segundo jogo da final da Copa João Havelange, que era o campeonato brasileiro de 2000. O cartola, na situação ocupando a vice-presidência, achou que foi tendenciosa.

O que aconteceu? São Januário estava abarrotado naquele 30 de dezembro de 2000: mais de 30 mil ingressos foram vendidos. Apesar dos trâmites legais indicarem que o estádio podia sediar uma partida tão importante, a realidade acabou se impondo.

Na metade do primeiro tempo, após a saída de Romário por contusão, um tumulto se formou perto do alambrado, que acabou cedendo. As cenas eram fortes. Centenas de feridos. Sangue. Ferros retorcidos. Ambulância. Helicópteros.

Enquanto começava o atendimento médico, uma guerra ganhava corpo. O juiz Oscar Godoy queria reunir elementos para dar como encerrada a partida. O chefe da Defesa Civil afirmava que o jogo poderia continuar. Eurico desejava ou que o jogo voltasse ou que o Vasco fosse declarado campeão, afinal tinha trazido para o Rio a vantagem do empate sem gols.

O governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho bateu o martelo: mandou suspender.

O time do São Caetano, adversário que surpreenderia naquele campeonato, cogitava entrar na justiça. O time do Vasco, impressionantemente, chegou a dar volta de campeão erguendo a taça, como se Garotinho não tivesse poder.

A TV Globo fez reportagens mostrando Eurico Miranda tentando botar os feridos para o lado do campo e chamando Garotinho de incompetente e frouxo.

A imagem do clube ficou arranhada. Parecia insensibilidade.

Com a remarcação da final para janeiro do ano seguinte, entra em campo um ingrediente: o patrocinador do ano 2000 não renovou para o ano 2001, portanto na nova final ou o Vasco entraria sem nada no uniforme ou fecharia um acordo a jato ou tiraria algo da caixola.

Possesso com a TV Globo, Eurico Miranda resolveu provocar a rival. Aparentemente sem consenso do SBT, ele resolveu homenagear Silvio Santos.

O jogo terminou 3 a 1 pros vascaínos. Lembro do Romário comemorando um dos gols virando de costas pra câmera.

Era impossível a Globo não dar publicidade para sua então principal concorrente.

*

São Caetano x Fluminense

O Fluminense tinha um goleiro chamado Murilo.

Murilo adorava contar que também treinava munido de um computador. Segundo o atleta, a tecnologia contribuía para conhecer minunciosamente as características do chute de cada adversário.

Maracanã. Adhemar, atacante do São Caetano, bateu uma falta quase do meio de campo. Gol. Frango.

Fluminense eliminado.

Nunca mais acreditei nesse papo de goleiro hightech