Madureira nos anos 1960: as ruas da cidade contam suas histórias - Reprodução do Acervo fotográfico da Biblioteca Central do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Madureira nos anos 1960: as ruas da cidade contam suas históriasReprodução do Acervo fotográfico da Biblioteca Central do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Por Thiago Gomide
Acabo de devorar o último livro do historiador Luiz Antonio Simas. 
Papo de hora e meia dedicada a leitura. 
Publicidade
Com essa minutagem de voo literário, um desatento pode acreditar que a obra é menor. Não. Absolutamente não. 
"O corpo encantado das ruas", que saiu pela Civilização Brasileira, não gera bocejo, propõe que o visitante esqueça até de beber um gole de água (ou de cerveja). 
Publicidade
Simas nos faz caminhar pelas frestas das ruas, pelas múltiplas relações geradas por elas. As cidades, no plural, tal qual escreveu o cronista Marques Rebelo, se descortinam. 
Os Rios de Janeiro, evidente, são palcos de muitas reflexões. Simas atravessa personagens folclóricos, culturas herdadas dos ancestrais africanos e até curiosidades de bairros, mitos e populares. 
Publicidade
Ao escrever sobre Zé Pelintra, figura mítica do Candomblé, o botafoguense Luiz Antonio Simas explica:
"Há quem diga que foi morar na Lapa, farreou à vontade e teria morrido numa briga de faca no morro de Santa Teresa. Abandonou as vestes de mestre da jurema e passou a baixar nos terreiros da Guanabara nos trinques, trajando terno de linho branco, sapatos de cromo, chapéu-panamá e gravata vermelha". 
Publicidade
No capítulo 35, uma mulher pouco conhecida da história da nossa cidade dá as caras: a quitandeira Sabina. 
Julho de 1889. As laranjas que ela vendia serviram de armas para um protesto de estudantes de Medicina republicanos contra o monarquista visconde de Ouro Preto.   
Publicidade
A resposta oficial não tardaria. No dia seguinte, o tabuleiro estava apreendido e Sabina expulsa daquele canto. 
A resposta a resposta também chegaria de jumbo: estudantes, com ajuda da população em geral, organizaram um protesto. 
Publicidade
Esse é mais um dos casos que o historiador carrega o leitor pra dentro das fissuras das relações construídas nas ruas.
As ruas que, como sabemos e ressalta o pesquisador, "atormentam o poder". 
Publicidade
Professor de todos
Publicidade
Simas foi meu professor no último ano do ensino médio. Escola cursinho pra ricos. Aquele papo de preparação pro vestibular. 
Eu era bolsista por ter me dado bem na prova. Graças a Deus. 
Publicidade
Pense em um professor que ensina história tocando violão, cavaquinho e utilizando, muitas vezes, referências das ruas ou de personagens diminuídos ou nem citados.
Tal qual a obra, não dava pra piscar.   
Publicidade
Certa vez, ele foi convidado para ser coordenador de história. Recusou. Queria ter tempo pra escrever. 
Os alunos da escola cursinho eram classificados através das notas. Quem ia bem, ficava na turma 1. Quem ia mal, ficava na turma 5. O meio de campo se arrastava da 2 a 4.  
Publicidade
Ele cansava de falar que era muito melhor dar aula na turma 5.
Gerava até um certo desconforto.  
Publicidade
São as frestas das salas de aula. 
Muitos foram pra história por causa dele. 
Publicidade
*
Escreve, Sento Sé
Publicidade
Pedido público.
O jornalista Rafael Sento Sé conhece muito de Rio de Janeiro. Dedica-se a isso há anos. 
Publicidade
Na versão carioca da revista Veja, ele tinha uma coluna sobre a cidade. Super bem escrita e com informações preciosas. 
Um camarada como esse não pode não dividir seu olhar.
Publicidade
Escreve, Sento Sé