Mais um garoto filho de lavradores. Mais um garoto pobre. Mais um garoto que tinha tudo para se dedicar a uma atividade rural. Mais um garoto a perder o pai cedo, aos 13 anos.
Como centro religioso de Campo Grande havia a Igreja Nossa Senhora do Desterro, presente até os dias atuais. O tempo e as intempéries, tal qual um incêndio em 1882, fizeram com que o templo ganhasse novas formas e novas cores, mas está lá a pedra estrutural.
No catolicismo, o pequeno Freire Alemão encontrou morada durante anos. Aproveitou a sacristia não só para o contato com a fé, mas também para desenvolver duas sabedorias revolucionárias: ler e escrever.
Isso no começo do século XIX abriu portas e mais portas, propiciando que o já não tão garoto assim encontrasse suas paixões: a medicina e os estudos da natureza.
O Brasil ficou pequeno. Foi para Paris a bordo de um navio de guerra. De Campo Grande para os corredores das universidades mais renomadas da França.
Tudo com bolsa de estudos, évidemment.
O escritor Nelson Rodrigues defendia a tese que sem sorte não se pode nem tomar um sorvete.
Talento o rapaz tinha. Determinação nem se diga. Em 1831, já estava diplomado no exterior. No ano seguinte, já em terras nacionais, trabalhava com medicina, botânica e zoologia.
Muitos doentes iam ao encontro de Freire Alemão. Pobres, ricos, anônimos e até Dom Pedro II.
Em um período onde médico era coisa rara (em alguns lugares do Brasil ainda é), a fama do ilustre filho de Campo Grande só foi crescendo.
Tratando do Imperador e contando com a proximidade, Freire Alemão estimulou o olhar governamental para os estudos dos elementos da natureza, envolvendo todo o país. O desmatamento também foi pauta.
Milhares de plantas foram catalogadas por ele, permitindo que estudiosos se debruçassem sobre os benefícios e particularidades de cada uma. As consequências positivas são imensuráveis.
Por falar no destruído Museu Nacional (absurdo!), em 1866 Freire Alemão foi nomeado diretor. Saiu em 1870, já debilitado.
Podendo escolher o canto que iria atravessar seus últimos anos de vida, Francisco Freire Alemão não teve dúvidas: voltou para a casa herdada de seus pais, em Campo Grande.
Ele falece em 1874 e é considerado por muitos pesquisadores o maior botânico brasileiro do século XIX.
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É verdade. Francisco Freire Alemão não merece uma biografia. Ele merece uma coletânea.
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