Arco do Teles: reduto das maldades de Bárbara dos Prazeres  - Reprodução Wikipedia
Arco do Teles: reduto das maldades de Bárbara dos Prazeres Reprodução Wikipedia
Por Thiago Gomide
Você vê como é a vida. O Arco do Teles, no centro da cidade, era um lugar super elegante em 1748, em 1758, em 1765.

O juiz Antônio Teles Menezes até comprou ou construiu várias casas nessa região, para alugar. Arco do Teles é uma reverência a esse homem.

O Senado da Câmara, que hoje, comparando, seria a câmara de vereadores, ficava na parte superior do famoso Arco.

Em 1790, pegou fogo. Incêndio criminoso. Feridos. Mortos. Perdas irreparáveis humanas, econômicas, históricas. Vários documentos da cidade viraram cinzas.

De luxo a degradação. O espaço se tornou, rapidamente, um canto de prostituição, com grande concentração de doentes e mendigos.

É nesse instante que entra Bárbara dos Prazeres.

Portuguesa, ela se mudou para o Brasil com o marido. Tinha 20 anos. Chamava atenção pela beleza.

Chegou aqui e, em pouco tempo, se enroscou com um outro gajo.

Acha que ela perdeu tempo? Nada. Passou a foice no maridão. Matou o cara.

Não é que Bárbara começou a sacar que o novo companheiro estava de graça, só querendo a grana dela, que era um encostado...

Acha que ela perdeu tempo? Vala.

Precisando pagar as contas e sem saber o que fazer, Bárbara acabou entrando na prostituição. Era bela. Nova. Desejada.

Fazia ponto bem nessa área do Arco do Teles. Os clientes eram, principalmente, os abonados. Gente com dinheiro.

Você vê como é a vida: Bárbara que era tão desejada foi envelhecendo, como todo mundo, e perdendo, como todo mundo, a jovialidade.

É assim, não é?

Essa perda para a Bárbara representava a perda de clientes, de condição de viver...Além do mais, ela estava doente, o que agravava a situação.

Então qual seria a saída?

Encontrar uma fórmula mágica de juventude eterna.

Nessa época, e até hoje, tinham muitos feiticeiros indicando poções mágicas. Alguns atendiam no centro. Outros em alguns morros da região.

Bárbara, não se sabe aonde e nem quem, recebeu uma indicação, no mínimo, macabra, cruel...

Para ela ter juventude, beleza novamente, precisava se banhar com sangue de criança. E foi isso que ela colocou em prática.

Inicialmente, sequestrava filhos e filhas de mendigos, no centro. Buscava sempre crianças que não estavam acompanhadas.

Isso gerou um burburinho enorme. A população com medo de deixar as crianças brincarem nas ruas.

A Guarda Real da Polícia, que foi criada em 1809, por Dom João VI, estava atenta, tentando encontrar. Muitos suspeitos, em especial pessoas escravizadas, foram agredidas acusadas de serem os responsáveis pelos sumiços.

Bárbara, com o fecho cercando, começou a sequestrar crianças na Roda da Santa Casa.

Roda é um tipo de bandeja giratória que a mãe ou o pai que não desejasse o bebê colocava ali. Depois uma enfermeira, no caso da Santa Casa, ou uma freira, no caso de inúmeras Igrejas, pegava e levava para um orfanato.

Era comum. Triste, mas comum.

Bárbara interceptava. E matava para se banhar com o sangue.

Ela some da cena na década de 1830, sem ser presa. Sem ser pega.

A história da Bárbara dos Prazeres é lotada daquela velha máxima: aumenta um ponto daqui, outro dali e assim vamos criando um terrorzinho básico, uma lenda, um mito...

Há quem diga ( ha-ha-ha) que Bárbara aterroriza a área até hoje.

*

Carmen Miranda

A mãe da cantora tinha uma pensão no Arco do Teles.

Quando passar por lá, preste atenção que há uma placa indicando o lugar.

*

Gerson Brasil

Há autores sérios falando de Bárbara dos Prazeres.

Alguns com mais, outros com menos tintas.

Gerson Brasil, no clássico “História das ruas do Rio”, é um dos que fala sobre, trazendo as ocorrências policiais.