Praia artificial foi construída para os hóspedes do Hotel Quitandinha Reprodução - Livro Apostas Encerradas - Flavio Menna Barreto Neves
Por Thiago Gomide
Publicado 07/01/2020 17:16 | Atualizado 07/01/2020 19:52
O pórtico da entrada principal de Petrópolis deixa claro ao visitante que ele está na Cidade Imperial.
Após alguns metros, é a vez de encarar uma construção nababesca, daquelas que nos remete aos filmes de castelos na Alemanha.
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O Hotel Quintandinha tem 50 mil metros quadrados, que acomodam piscina, um imponente e histórico teatro, 440 apartamentos e mais de 10 salões – entre eles, um com trinta metros de altura.
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A decoração é um capítulo à parte: foi feita pela cenógrafa nova iorquina Dorathy Draper e inspirado no mundo e na estética hollywoodiana.
Evidente que tanta riqueza tinha por trás um grande interesse. Cassino. Jogo. Roleta. O Quitandinha foi construído para ser o centro da jogatina na América do Sul.
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Pensou em fazer uma fé no preto 22? Quitandinha. Vermelho 36? Quitandinha. Quer Black Jack? Quitandinha. Poker? Quitandinha.
Festas sem fim? Diversão? Dinheiro? Contato com os ricos e famosos? Shows de artistas badalados? Qui-tan-di-nha, meu senhor, minha senhora.
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Para atrair jogadores e concorrer com outros cassinos, inclusive o Copacabana Palace, não podia pensar pequeno: precisava de um projeto ousado e com toques megalomaníacos.
Eis que entra no palco um personagem pouco conhecido mas muito interessante: o mineiro e tricolor Joaquim Rolla, que cresceu nos negócios sendo tropeiro, ganhou dinheiro investindo em estradas e construções, teve sociedade em jornal com Roberto Marinho e, jogando baralho, conseguiu abocanhar parte do famosíssimo Cassino da Urca.
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Ele que tirou o sonho do papel. 
Mesmo sem estar pronto, o Hotel-Cassino foi inaugurado em 1944. E dava pra ver as luzes de longe. O Quitandinha parecia Las Vegas. 
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Bem, não era pra menos: uma central elétrica, que abasteceria uma cidade, foi montada para que nem um brilhinho se apagasse, para que nem um curto entrasse em cena.
A rádio Tupi, líder de audiência, tal qual fazia nos shows do Cassino da Urca, transmitiu ao vivo o furdunço de lançamento. Entre marchinhas de carnaval e afins, um comentário predominava: era um feito colocar de pé o Quitandinha em plena Segunda Guerra Mundial, com as dificuldades de locomoção e os recursos escassos. Gasolina, por exemplo, estava cara e em falta.
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Enquanto as bombas caiam em solo europeu, as bolinhas rodavam nas mais diferentes mesas. “Paris é uma festa”, como escreveu Ernest Hemingway, parecia coisa do passado.
Ok, fui um pouco exagerado, mas sente só o naipe de quem frequentou aquele espaço: o cineasta Orson Wells, Greta Garbo, Walt Disney, Carmem Miranda, Henry Fonda e até Evita Perón, presidente da Argentina. 
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Tudo tão bacana na parte interna, nada mais justo que um olhar atencioso também chegasse ao jardim.
Coroando um gramado vistoso, um lago em formato do mapa do Brasil.
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E a praia, meu filho?, deve estar me perguntando o leitor mais ansioso.
Chegamos.
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Centenas de caminhões subiram a serra levando areia da praia de Copacabana, já uma das mais famosas do mundo.
Era o toque final do empreendimento. Chique.  
O hóspede podia pegar um bronze, com o pé na areia, caipirinha e, se batesse uma vontade, dava um mergulho.
As fotos da época mostram que alguns não tiveram vergonha em botar uma roupa de banho e pintar de madame em baixo do guarda-sol. 
Se já existisse Instagram...
A praia artificial não deu muito certo não. Como também não deu certo o negócio do Joaquim Rolla em terras imperiais.
O jogo foi proibido em 1946, pelo então Presidente General Gaspar Eurico Dutra, por influência direta de sua esposa, Carmela Dutra, mais conhecida como a adorável “dona Santinha”.
Sem condições de manter o Quitandinha, Joaquim Rolla vende em 1963. Era o fim de um sonho.
Se você decidir caminhar pelo bairro que dá nome ao antigo Hotel-Cassino constatará que o mineiro de São Tomé, que vendeu gasosa quando criança e perdeu muito dinheiro no Cassino do Copacabana Palace em 1932, é lembrado em diferentes lugares.
O pórtico avisa que a Cidade é Imperial, mas o Quitandinha vai ser sempre de Joaquim Rolla.
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Obra, custo e dinheiro emprestado pra banqueiro famoso
A obra foi orçada, na época, em 10 milhões de dólares.
Rolla pediu grana emprestada para Walter Moreira Salles, futuro dono do UNIBANCO, que, em contra proposta, tentou uma sociedade.
Não rolou no Quitandinha.
Tiveram juntos um cassino em Poços de Caldas, interior de Minas Gerais.
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Rolla disse não ao Oscar Niemeyer
Joaquim Rolla pediu que o famoso arquiteto fizesse o desenho do Quitandinha. O resultado não agradou.
Fim da história: Rolla contratou Luiz Fossati, que trabalhou com mais de 50 arquitetos.
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Inauguração fracassada e briga de Roberto Marinho com irmão de Getúlio Vargas
Com a demora a servir comidas e a alta quantidade de bebidas alcoólicas, a turma foi ficando bêbada.
Muito bêbada.
Lá pelas tantas, o encrenqueiro Benjamin Vargas, irmão do Presidente Getúlio Vargas, resolveu tirar satisfação com o empresário Roberto Marinho.
Roberto Marinho não teve medo não. Peitou o rapaz. Beja, como era conhecido, chegou a puxar o revólver.
Graças a Deus os seguranças do Quitandinha e o próprio Joaquim Rolla apartaram.
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Piscina coberta
A pintura das paredes da piscina coberta é inspirada em “20 mil léguas submarinas”, obra clássica do escritor francês Júlio Verne.
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Concurso de Miss Brasil
O concurso de Miss Brasil, durante muito tempo, foi disputado no Quitandinha.
Lá, em 1954, que Martha Rocha foi coroada.
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Quantidade de funcionários
O Quitandinha chegou a ter 1200 funcionários.

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Sugestão de livros
Quer muito, muito, muito mais informações sobre o Joaquim Rolla e sobre o Quitandinha?
Leia "O rei da roleta", do João Perdigão e Euller Corradi. Saiu pela editora Casa da Palavra. 
Leia "Apostas Encerradas", do Fávio Menna Berreto Neves. Saiu pela editora Global mídia Comunicação.
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