- Reprodução da internet
Reprodução da internet
Por Thiago Gomide
De repente pipoca no seu zap aquela informação que muda o mundo: “Os Estados Unidos já descobriram a cura do coronavírus”. Ou pode ser também “médica brasileira relata os horrores de um hospital na Itália”. Ou “misturar vinagre e agrião fortalece imunidade contra a doença”.

O melhor, para mim, sempre envolve Nostradamus. Segundo a rede internacional de fake news, Nostradamus previu tu-di-nho. Nada passou ao rapaz. Medo. 

Recente pesquisa de um dos centros intelectuais mais prestigiados dos Estados Unidos, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras.

Na última coluna, o médico Gabriel Bronstein falou sobre os impactos das fake news em quem sofre de ansiedade e depressão. O psiquiatra também apontou que devemos ter cuidado com esses áudios sensacionalistas, com essas figuras tentando se passar por especialistas...

Temos que ter mais cuidado mesmo. Duvidar mais. Dificilmente não há vontades políticas encobertas. Dificilmente não há exibicionismo. Sadismo. Vontade de destruir.

Na história, a indústria de informações mentirosas para ludibriar o público sempre existiu.

Na peste negra, na Europa, durante muito tempo, foi propagado que os estrangeiros eram os responsáveis. Sabia-se que não, mas por causa da xenofobia fazia-se.   

Na febre amarela, aqui no Brasil, pessoas que queriam desinformar defendiam que não era o mosquito Aedes o transmissor. Isso fez com que parte da população se revoltasse com o governo. 

Por causa de uma vacinação forçada também em 1904 houve uma revolta no Rio de Janeiro. Um dos motivos foi por causa de notícias falsas que diziam que o desejo era infectar e não proteger da varíola.

Os casos são muitos e não param. Pelo contrário, continuam. A xenofobia ainda é propagada. O método de pegar a doença ainda é alterado, fazendo com que as pessoas desconheçam as origens do mal. Há ainda quem publique que vacinação não adianta de nada.

Com o zap, o bicho aumentou de tamanho. Tem a piada do tio do pavê e tem a realidade do tio fake news.

Duro cotidiano.

As escolas precisam entrar nesse jogo, contribuírem para o enfrentamento.

Como?, alguns devem estar perguntando. “Diz aí, malandrão”, as mais debochadas podem estar me provocando.

Respondo: implementando seriamente a área de educação utilizando as ferramentas da comunicação.

Quando o estudante conhece a trajetória de uma informação, o DNA dela, tudo muda.

Os bastidores acabam sendo revelados.

Para isso, o estudante precisa participar pesquisando, debatendo, fazendo roteiro, produzindo, entrevistando, gravando e editando.

Vídeos, textos, podcasts e fotos. Diversos conteúdos podem ser pensados, feitos e discutidos.

Com o poder nas mãos e entendendo os caminhos, vai ser mais complicado de cair e de compartilhar. Mais: vira agente de transformação e quebra a célula das fake news em casa, com os familiares, com os amigos.
Isso é coisa de rico? Aqui nessa mesma coluna já mostrei alguns exemplos na rede pública municipal do Rio de Janeiro.

Escola na Cidade de Deus. Escola no Alemão. Escola na Maré.

A garotada, com suas diferenças, é produtora e/ou consumidora ávida de conteúdos produzidos por eles mesmos. Nas redes sociais. No zap. Nos cantos que só saberemos daqui a três meses.
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Ser produtor não significa refletir automaticamente sobre o que está produzindo, por isso também a escola, o colégio, universo das trocas de saberes, tem papel fundamental. 

As fake news são consideradas o grande problema da comunicação desse século. Elas matam.

Quando envolvem saúde, especialmente. Quantas pessoas deixam de fazer exames? De se precaver? De não negligenciar? De deixar de transmitir algum mal?

Mas não só na saúde, entenda.

Em 2014, uma mulher foi linchada até a morte no interior de São Paulo. Uma notícia rodou pelas redes sociais que ela sequestrava crianças para sacrificar em rituais de magia negra.

A história, não preciso nem dizer, era inverdade.

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MultiRio
Falei das escolas enfrentando as fake news, certo?
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Há uma empresa pública do município do Rio de Janeiro, ligada à Secretaria Municipal de Educação, que é pioneira também nesse debate. 
A MultiRio tem 27 anos e desde o começo contribui para que crianças e adolescentes estejam preparadas para a leitura e construção de mídia. 
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Que sirva de exemplo para muitos outros municípios. 
Olha o site deles aqui.  
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