O meu Fluminense tinha até contratado o inglês Archibald French, que chegou com status de estrela.
Habilidoso, era meia-esquerda, fez bonito na estreia contra o Santos, no campo do adversário: 2 gols na goleada de 6 a 1.
Na época, Cariocão era coisa séria. Disputa levada a ferro e fogo. Título comemorado com ruas fechadas.
O Fluminense fez uma campanha impecável. Juntou pontos suficientes para sagrar-se campeão com antecedência.
Contando assim, parece que tudo deu certo. Nada.
Chegando ao fim do torneio, a maioria dos jogadores pegou Gripe Espanhola.
Pra quem não tem noção do que isso significava, trago uma pergunta do tricolor Nelson Rodrigues, que viveu o período:
"Quem não morreu na Espanhola?"
Um a cada vinte infectados morria.
Em outubro de 1918, foram registrados mais de 20 mil doentes no Rio de Janeiro.
A contaminação era por espirro, da mesma forma que o coronavírus. Ou seja, fácil, fácil de acontecer.
Depois de perceber que alguns jogadores estavam infectados, o Fluminense determinou que o time não treinaria.
Mas já era tarde demais.
French, após 12 jogos e 6 gols, não resistiu, acabou falecendo.
O Fluminense nem conseguiu entrar em campo na última partida. Não tinha gente apta. Perdeu por WO pro Carioca.
Não há registros de jogos cancelados, apesar dos riscos inerentes.
Ainda bem que hoje o entendimento foi outro. Ainda bem.
O rebaixado em 1918 foi o Sport Club Mangueira, time formado na Tijuca e composto principalmente por moradores do morro da...Mangueira.
Faz falta.
Infelizmente o Mangueira não teve muito sucesso. Em 1909, o Mangueira levou de incríveis 24 a 0 do Botafogo.
Aí é aquela, né? Virou piada.
Em 1927, o Mangueira saiu definitivamente de cena.
Parte dos jogadores foi para o Flamengo.
Gripe Espanhola teve um fim em 1919.
Estima-se que cerca de 35 mil brasileiros morreram.
E no mundo? Há vertentes históricas que defendem 50 milhões de mortos. É mais do que a soma de pessoas mortas na Primeira e na Segunda Guerra Mundial.