Rio de Janeiro - RJ - 16/03/2020 - Coronavirus na cidade do Rio - Movimentaçao na Estaçao Central do Brasil, centro do Rio - Foto Reginaldo Pimenta / Agencia O DiaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Thiago Gomide
Publicado 17/03/2020 13:01 | Atualizado 17/03/2020 13:03
Sem alarde, mas indo direto ao ponto: o problema maior é o colapso do sistema público (e privado) de saúde e isso não é nada complicado.

Na Itália, está acontecendo. O medo norte-americano caminha também para esse lado.

Nos casos sérios, o coronavírus exige cuidados especiais, como ventilação mecânica. Essa especificidade não tem em qualquer quarto, em qual leito, em qualquer hospital, seja público ou até mesmo privado.

Você não está totalmente assegurado porque tem um plano de saúde. E dependendo do seu plano é capaz de não ter nada.

“Coronavírus é uma doença de velho”, alguns apontam. Não só. É uma doença que arrebenta cardíacos, hipertensos, pessoas com problemas respiratórios, com baixa imunidade...

Vamos aos números:

1. Cardíacos no Brasil: cerca de 33 milhões de brasileiros sofrem com problemas cardíacos, segundo o Ministério da Saúde.

2. Hipertensos no Brasil: mais de 35% da população brasileira sofrem desse mal, segundo o Ministério da Saúde, que ainda informa que muitos nem sabem que estão desregulados. Doença silenciosa.

3. Mortos por causa da poluição: de acordo com pesquisas do Ministério da Saúde, de 2006 a 2016 aumentaram 14% os mortos por decorrência da poluição do ar.

Parei nesses três, mas poderia tranquilamente trazer alarmantes quantidades de cidadãos com bronquite, asma, enfisema pulmonar, câncer, aids e por aí segue.

No fim das contas, acaba-se percebendo que muitos brasileiros estão no grupo de risco. Aqueles que atravessaram os 80 anos estão mais vulneráveis, mas logo atrás vem um batalhão.

Olhar para o próprio umbigo, em uma crise como essa, com esses detalhes, com as informações disponibilizadas, é inevitavelmente sentenciar a morte de alguém.

Com os hospitais lotados, sem leitos disponíveis, os médicos terão que fazer escolhas. Parece duro o que escrevo, mas é a pura verdade. Não adianta se enganar.

Praias privativas são deliciosas. Barzinho sem ter trabalho no dia seguinte é uma beleza. Acreditar que está tudo tranquilo é confortável. Achar que é imbatível dá sensação de eternidade. Abraçar e beijar até o garçom faz parte da nossa cultura.

Mas se atente ao fato de que não estamos de férias, não estamos vivendo nem o pior momento da crise, morremos muitas das vezes por questões bobas, os beijos e abraços devem ficar para depois e, se você está trabalhando de casa, sinta-se um privilegiado.

De acordo com o IBGE mais de 40 milhões de pessoas sobrevivem na informalidade. Não preciso ir muito longe: quantos motoristas de aplicativo ou entregadores de comida você conhece?

Não precisa ser amigo, basta usar o serviço.

Muitos deles provavelmente não vão poder parar. A conta não fecha no fim do mês. É tipo se arriscar para pagar a luz, o gás, a comida.

Pensar nesse grupo é, por que não, pensar em uma família alimentada.

A frase infeliz “cada um por si e Deus por todos” não faz nenhum sentido ontem, amanhã e principalmente hoje.

Se nada do que eu escrevi lhe convenceu, ok, sugiro ver a lista dos dez mil mais ricos do Brasil. Eu não estou. Provavelmente você também não. 
Todas as pandemias nos ensinaram que na hora H salva-se quem tem mais poder de compra. E isso independente de ser direita, centro ou esquerda.
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O momento é de seguir as autoridades sanitárias. O momento é de pensar no coletivo. 
Mesmo que, por um trabalho árduo dos nossos cientistas, descubram uma vacina capaz de conter o vírus, diversas pessoas estão com o alvo no peito. Mesmo que essa solução fosse revelada agora.  

Vamos nos ajudar. Vamos nos ajudar. Vamos nos ajudar.