São Januário  - Divulgação/ Vasco
São Januário Divulgação/ Vasco
Por Thiago Gomide
“No tempo que Dondon jogava no Andaraí”, diz a composição de mestre Nei Lopes.

A letra não faz menção a um grande companheiro de equipe de DonDon: o poderoso Arubinha.

Arubinha protagonizou uma maldição ao Vasco da Gama. Arubinha estava naquele fatídico jogo de dezembro de 1937.

Chovia no Laranjeiras. O estádio do Fluminense seria o campo de um clássico: Andaraí, clube de futebol da Fábrica de Tecidos Confiança, e Vasco da Gama.

Por não ser o mandatário do jogo, o time da colina não pode optar pelo seu caldeirão.

Hoje os jogadores vão de ônibus bombadão, em alguns casos tem até carros da polícia fazendo escolta. Em 1937, meu amigo, minha amiga, era “vamos chamar o táxi” ou até mesmo “qual busão que passa por Laranjeiras?”.

Zero moleza.

O time do Andaraí chegou na hora marcada. Entrou em campo na hora marcada. Ficaram lá, na chuva, esperando o adversário.

Passavam os minutos e nada do Vasco aparecer. O juiz apitava e nada dos vascaínos darem as caras. Cogitou-se até dar WO, mas uma notícia mudou os rumos da prosa.

Vários jogadores foram machucados porque o táxi que eles estavam bateu num caminhão da Comlurb. Teve internação e tudo.

Abatidos e molhados, os jogadores do Andaraí, que sabiam que a única chance de ganhar o jogo era com o Vasco não entrando em campo, aceitaram o atraso.

O pedido, fora das quatro linhas, era que os adversários não massacrassem, como estava acontecendo infelizmente com certa frequência. O Andaraí era quase um Íbis dos cariocas.

Mal a partida teve início e gol atrás de gol. Uma máquina. Um grupo sem perdão. Uma baleia brincando com um pequeno golfinho.

1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12 a 0.

Arubinha, que esquentava o banco do Andaraí, ficou revoltado. Esperar é uma coisa, esperar e tomar uma surra é outra. Na chuva, o que é pior.

Aquilo não ficaria assim. Arubinha berrou para quem quisesse ouvir que o Vasco passaria doze anos sem ser campeão.

Mesmo depois da sapatada, ele não esqueceu e foi mais longe: disse que tinha ido a São Januário e enterrado um sapo. O sapo da maldição. O sapo que faria o Vasco esquecer como se escreve vitória.

Uau.

Quando os jogadores e a direção do clube ficaram sabendo da praga do Arubinha, meu Deus, foi um faz sinal da cruz para cá, chama quem pode resolver aquela parada e até o mais radical, furar o campo todinho atrás do esqueleto do bichano.

Nada era encontrado.

Em 1938, o Vasco não levantou taça. A maldição era real.

"Chama o Arubinha. Vamos pagar esse cabra para falar. Para desfazer esse troço". Só Arubinha era a salvação.

Com o dinheiro no bolso, ele revelou que não tinha nada de sapo enterrado, que essa maldição era uma total birutice e que futebol se ganhava e se perdia com bola na rede.

Não é que o Vasco só foi ganhar campeonato carioca em 1945?

O Andaraí fechou as portas para o futebol profissional em 1973.

Durante muito tempo, e recentemente, um massagista do Vasco era conhecido por fechar o gol cruzmaltino. Pai Santana era um tipo de talismã energético. Diz-se até que ele enterrava ovos atrás da baliza.
Parabéns, Vascaínos. 
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Times demolidores
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Sou tricolor, mas cresci com todos os primos vascaínos. Todos mesmo. 
E pior: minha adolescência foi com o meu time lutando no revezamento entre segunda e terceira divisão. O Vasco atravessava aquela sequência de seleções.  
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Em 1994, final Vasco e Fluminense, estava lá no Maracanã. Ricardo Cruz era nosso goleiro e chegou a pegar pênalti. Jardel acabou com a festa. 
Vi Dener jogar. Edmundo destruir. Ricardo Rocha, um gigante. Carlos Germano era mais goleiro que Taffarel e pra mim seria o número 1 da seleção em 94. Vi a contratação de Juninho Pernambucano. Valdir, antes de ganhar o apelido mas já apresentando a bela bigodeira, virar um jogo na Vila Belmiro. Carlos Alberto Torres. Ouvi pelo rádio do carro um Pimentel endiabrado fechar o caixão de um clássico com o Flu. Romário e associados virando contra o Palmeiras. 
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O Vasco precisa ser muito respeitado. Grande torcida. Grande história.     
Fica aqui meu beijo especial para Mariana, Gustavo, Raphael e Rodrigo. E, claro, à tia Lúcia e ao tio Luís, que certa vez teve que levar os filhos e o sobrinho para testemunharem, na torcida vascaína, um Paulinho McLaren desesperado contra uma máquina mortífera. 
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