Professor Rafael Monteiro  - Reprodução Internet
Professor Rafael Monteiro Reprodução Internet
Por Thiago Gomide
São 10 da noite de quarta. Recebo a notícia que professor Rafael Monteiro faleceu de COVID-19.

Rafael Monteiro era craque em caricatura, mestre de artes na extensa rede do município e trabalhava na comunicação do Estado.

A primeira vez que tive contato com a obra dele foi na sala da gerência de Midia-educação da Secretaria Municipal de Educação. Simone Monteiro, então gerente, e não parente do rapaz, me mostrou uma sequência de pinturas sobre personalidades da nossa literatura.

Era um primor. Traço sensível.
Nasci como estagiário no O Pasquim 21, filho de gênios da caricatura, dos cartuns, das charges. Ziraldo, Millor, Jaguar, André Dahmer, Allan Sieber, Laerte. Sabia que não estava encarando um qualquer.

Fotografei uma obra sobre um dos meus ídolos da escrita. Lima Barreto parecia ganhar vida na mão de Rafael Monteiro.

Nessa situação não tinha ainda conhecido o autor. Só li e ouvi que era do Rafael, nome de anjo, nome de meu primo, nome de um tal pintor que foi até homenageado nas Tartarugas Ninja.

Só fui ficar face a face com Rafael muito tempo depois. Na MultiRio. Ele estava trabalhando em um livro especial sobre contos escritos por profissionais da educação. “Arte dos Contos” tem outra cara também por causa do artista.

“Cara, gosto muito do seu trabalho”, falei para ele no banheiro. Face a face no espelho do banheiro. “Que bom!”, respondeu timidamente.

Era generoso. Modesto. Gostava de versar sobre seus pares, sempre os exaltando. 

Em um evento sobre literatura, dividimos a mesma mesa. Ele falando sobre criação e desenhando. Eu promovendo a mediação entre os mais diferentes atores da sociedade literária. O lugar era especial: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Ele fez caricatura de todos os participantes do evento. As crianças ficaram em alvoroço. Quando chegou minha vez, protestei do resultado: “Pô, dá uma melhorada aí, professor Rafael”.

Com um riso carinhoso, encurvando levemente o corpo para a frente, me disse que faria outro cortando uns quilinhos. “Você acha que ficou muito ruim?”, perguntou fechando os olhos.

Acompanho as dores de tantos. Momento complicado. Apreensivo, abraço as minhas amigas e amigos profissionais da educação.

Com a partida de Rafael lembrei de uma frase clássica: “A morte de um professor é a queima de uma biblioteca”.

Perdemos uma Alexandria.