Muitas vezes diminuídos pelo ofício, como se fosse uma vergonha contribuir para resolver o X de uma das questões mais importantes para o funcionamento de cidades cheias de problemas, os garis são conhecidos dessa forma desde 1876.
Por falar na França, há na história daquele país um sentimento parecido com o que enfrentamos até hoje no Brasil. Em 1884, os edifícios em Paris foram obrigados a entregar lata para que os moradores colocassem os restos ali. Os garis passariam em sequência para recolher. Foi um tumulto. Protesto. Não queriam colaborar. Parece um bando de gente que conhecemos.
Há uns anos, uma reportagem de TV mostrava uma fila enorme de candidatos para fazer o concurso para se tornar gari. Lá pelas tantas, a repórter indicava que até engenheiros estavam naquela disputa. Até engenheiros. Mais uma face dessa maneira de estigmatizar, né, minha filha?
Há mil possibilidades que são geradas a partir do trabalho dos garis. A reciclagem, por exemplo, gerou cerca de 100 milhões de reais de 2017 a 2018. Isso é fruto de uma pesquisa compilada no “Anuário da reciclagem”. Olha o quanto podemos avançar: o Brasil é o quarto maior produtor mundial de lixo plástico e recicla apenas 1,3% desse material. São bilhões de reais desperdiçados.
Na luta contra a Covid-19, não iremos vencer sem essa moçada. Impossível. No dia do gari, fica mais do que um simples parabéns. É pouco, formal, parece até post para ganhar uns likes. É preciso refletir sobre o papel deles e delas na sociedade. Falei sobre história, falei sobre social, falei sobre cultura, falei sobre economia. Estão na linha de frente de diversas batalhas. Ontem, hoje e amanhã. Tal qual Renato Sorriso na Sapucaí, devíamos aplaudir quando um caminhão de limpeza urbana atravessa as veias abertas da nossa cidade.