As pessoas devem cumprir as medidas protetivas, denunciar os estabelecimentos que não estejam cumprindo as determinações dos decretos municipais - Imagem Meramente Ilustrativa
As pessoas devem cumprir as medidas protetivas, denunciar os estabelecimentos que não estejam cumprindo as determinações dos decretos municipaisImagem Meramente Ilustrativa
Por Thiago Gomide
“Sou forte. Não vou pegar essa gripe por nada”, alguns dizem. “Mês que vem estará tudo normal”, lemos com frequência.

Essas são algumas das frases que o vírus mais ama. A ideia que somos inabaláveis já se mostrou um fracasso histórico. É muito frágil a percepção que, após uma pandemia que nos tirou o chão e que promete derreter economias, tudo será como antes.

Durante o surto da meningite, em 1974, havia pessoas que defendiam que só pegava quem dava mole. Era só evitar determinados lugares. O resultado foi trágico. Trágico pela displicência e trágico pela censura das informações.

No começo da década de 1980, a Aids mudou o tabuleiro envolvendo o sexo e o sangue. Mesmo que a pessoa tomasse todas as precauções possíveis, uma doação ofertada por alguém infectado levava ao mal. O sociólogo Betinho é um dos muitos exemplos de quem sofreu por causa de uma bolsa contaminada.

Até hoje há o risco de pegar dessa maneira. Bem menor, é verdade. O controle por parte dos hospitais é rígido. Testes rápidos estão disponíveis. Agora, imagine uma briga de rua onde os dois se ferem. Segundo o Ministério da Saúde, 135 mil pessoas estão com a doença e não sabem. Para quem tem consciência, a Aids mudou os cuidados do dia a dia.

A relação histórica do Congo com o Ebola nos ensina bastante sobre como é viver lado a lado com um vírus mortal. São décadas de convívio. No currículo 10 epidemias. Recentemente, a vacina foi testada e aprovada. Tudo resolvido, né? Nada. No mês passado, quando o país estava pronto para dizer que o problema tinha sido controlado, três novos casos apareceram. Voltaram duas casas. Ou melhor, estão esperando mais 42 dias para ver se nada de ruim acontece.

Quem no Rio de Janeiro conhece alguém que já contraiu dengue? Pode ser você mesmo. Todos nós sabemos, mais em algumas áreas menos em outras, de um cidadão que foi picado pelo multitarefa Aedes. Não temos vacina, mas sabemos muito bem qual é o vetor. Na teoria, é molezinha controlar. Na prática, o papo é outro: quase 18 mil pessoas foram infectadas em 2019.

O irlandês John Curran, que viveu de 1750 a 1817, falou uma das melhores frases que pode ser tele transportada para o que vivemos: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Teremos que ser vigilantes até depois de descobrirem a vacina. O ebola está aí para nos lembrar. Teremos que ser vigilantes com a gente para não diminuirmos o poder do vírus. O Aedes nos ronda todo verão. Teremos que ser vigilantes para aceitarmos que somos mortais. Estão aí as mais de 20 mil pessoas notificadas, só no Brasil, que se despediram para entrar na história.