Aglomerações em bares e nas ruas em volta têm sido uma constante - Reprodução Internet
Aglomerações em bares e nas ruas em volta têm sido uma constanteReprodução Internet
Por Thiago Gomide
Sonhadoramente, alguns defendiam que sairíamos dessa pandemia de forma distinta. Melhores. Mais humanos. Transformados.
Cético, sempre argumentei que isso era bonito, mas papo de quem está distante da real. 
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Historicamente, vimos que as tragédias humanas alteram pouco. Infelizmente. Quase nada, para ser mais justo.
Depois da Segunda Guerra Mundial, aplaudimos os pracinhas e muitos até hoje ( já mortos, ok? ) não receberam o que foi prometido. Duvida? Escreve soldados da borracha no Google e perceba a situação. Aproveite e veja como foi depois da gripe espanhola, que ceifou milhares de pessoas no Brasil e milhões no mundo.
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A maioria segue o barco, esquecendo, ignorando ou não cumprindo. Quando tratamos de mais abonados, aí que o tapar de olhos é uma beleza.
Entendível, na boa, uma pessoa com dificuldades financeiras, morando em uma residência apertada, romper os limites para tentar respirar. Entendível, repito. Duro, triste e entendível.
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Em alguns cantos é tradição a convivência nas vielas, nas ruelas, nos bares. Complicado culturalmente quebrar essa força.
Mas o que estou falando não é sobre isso. É sobre o ignorar de uma turma que sabe que o respirador já está esperando no hospital de ponta. É sobre o ignorar de uma turma que tem certeza que está acima de todos. É sobre o ignorar de uma turma que sabe o que estamos metidos, que nega não por desconhecimento e sim por egoísmo.  
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Não queria estar na pele de médicos, médicas, enfermeiras, enfermeiros, assistentes de hospitais, policias, bombeiros e, entre tantos que estão na frente, entregadores das mais distintas comidas. Eles, que estão na batalha, arriscando as vidas e eliminando o contato com os filhos, veem a moçada dourada literalmente se divertindo com a tragédia.
Entenda, não é lutar pelo leite das crianças. Entenda, não é enfrentar uma incapacidade de moradia. Entenda, não é espairecer e voltar razoavelmente renovado. Entenda, por favor.
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Reabrir significa responsabilidade. De todos os envolvidos. Há normas. Há indicações que são científicas. Ignora-se porque ignora-se tudo. Ignora-se o que virá. Ignora-se o que estamos vivendo. Ignora-se que outras pessoas estão por aqui. Escrevo ignora-se porque o verbo certo não é bonito.
Freud defendia que a fuga é para ser sempre pesquisada. Fugir do que estamos atravessando é altamente perigoso – e isso é óbvio. A enganação tem conta e, nesse caso, já ultrapassou 60 mil enterros e mais de um milhão de contaminados. Pode-se rir tomando um chopinho na praia. Pode-se pensar que nada aconteceu e nem irá acontecer. Custa olhar para o lado e ver que mães, avós, pais, filhos e amigas e amigos de outros foram e estão sendo perdidos? Custa quanto? 
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Os bares estão lotados no Leblon. Há pessoas gravando com emoção que estamos “vivendo o normal de novo”. Outras gravando que “dane-se as máscaras e a COVID-19”. A distância é esquecida. As regras são deles e delas, em uma individualidade exemplar.
Lamento, mas não há nem haverá normal da maneira que por ventura conhecíamos. Razões óbvias além da pandemia: crise acentuada econômica, aumento ainda maior da desigualdade, novos players apitando em diferentes mercados e, entre tantos outros pontos, as ressonâncias de quem perdemos e dos atos de agora.
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A COVID-19, mesmo quando eliminada, já venceu. Mostrou que vários defendem que estamos sós. “Cada um por si” virou frase feita. Na volta de Canudos, indicaram a moradia no morro. No Titanic, cortaram os barcos. Após colher látex na selva, disseram que não somos dignos.
Tínhamos tudo para vencer. O resto é balela.