Rio de Janeiro - RJ  - 29/07/2020 - ESPECIAL - Materia Especial, a forca do olhar com rostos cobertos por mascaras durante a pandemia do novo coronavirus - na foto, Rebeca Moreira - Foto Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Rio de Janeiro - RJ - 29/07/2020 - ESPECIAL - Materia Especial, a forca do olhar com rostos cobertos por mascaras durante a pandemia do novo coronavirus - na foto, Rebeca Moreira - Foto Reginaldo Pimenta / Agencia O DiaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Thiago Gomide
A cidade do Rio de Janeiro ficou conhecida durante muito tempo como o “túmulo dos estrangeiros”.
Era bater aqui e ficar doente. Febre Amarela, varíola e peste bubônica eram algumas das doenças comuns.  
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Um navio italiano, só para um dar exemplo, perdeu quase todos os embarcados em 1895. Reforços vieram salvar quem sobreviveu. A Itália chegou a proibir a imigração.
Não tinha um que quisesse pôr os pés em um país atrasado e com a justificável fama de mortal.
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Sabe o que isso significava? Menos investidores e menos dinheiro. Quem por ventura vinha para cá não trazia grandes capitais, inteligência e, pior, sugava nossas riquezas baratinho, baratinho.
Para a imagem de túmulo sair do imaginário mundial demorou décadas. Para gringos virem para nossas terras, seja de turismo ou empreendendo, demorou décadas. Para grandes empresas olharem esse país como um lugar seguro demorou muito e caro tempo.
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Caso o leitor não esteja atento às dores das famílias, o desenvolvimento da doença, o caos social, peço que preste atenção no bolso. Dói tanto quando bate no bolso, não é mesmo?
No meio da névoa costumamos observar menos, às vezes até sugere-se que logo ali tudo irá ficar tranquilo, “com uma vacina o normal se estabelecerá”, mas veja o noticiário internacional.
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Estamos mais uma vez ganhando a fama de túmulo dos brasileiros, dos estrangeiros, de quem por ventura esteja aqui, independente se no Rio de Janeiro ou em Belém do Pará.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, não cansa de nos apontar como um péssimo exemplo na luta contra a Covid-19 – mesmo que seu país tenha quase o dobro de mortes registradas no Brasil.
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Embaixadas como a da Alemanha e Inglaterra sugeriram aos cidadãos de suas nacionalidades que deixassem o Brasil.
Em 2016, houve a queda da ciclovia na Avenida Niemeyer. Tragédia, feridos, mortos. Uma cena chamaria atenção: a poucos metros de dois cadáveres um grupo jogava futevôlei.
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A poucos metros de 100 mil mortos diversos grupos continuam jogando a bola de um lado para o outro.
Estamos vivendo o maior teste de coletividade do século XX. Sabemos os detalhes, o cenário e como nos preparar.
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Se vivermos com mais intensidade um “cada um por si e Deus por todos”, a chance de tragédias irão aumentar em inúmeros campos. E isso independente de Covid-19.
Vejo com frequência pessoas argumentando que sempre morreram muitas pessoas de ataques cardíacos, câncer e até de problemas proporcionados por resfriados.
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A triste média de mortos anualmente por homicídios ultrapassa os 60 mil no Brasil.
A diferença é que, em uma pandemia, a morte do vizinho ou do seu tio ou da sua mãe ou do seu sobrinho pode estar nas suas mãos.
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Se você tiver uma doença grave, que não seja transmissível, não causará danos aos outros caso deseje desrespeitar os limites do seu próprio corpo. O de sua consciência.
Com males tais como o novo coronavírus, o jogo é outro. A linha que divide o livre arbítrio e a infecção do inocente é muito curta.
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A marca do Brasil do “túmulo dos estrangeiros” passava pelo individualismo. A marca do Brasil da Covid-19 também.
Em um mundo tão competitivo, vai ser mais complicado revertermos a simbólica imagem de despreocupados com a vida alheia.
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Quando doer no bolso, talvez tenhamos consciência que o negócio é mais complexo que um videozinho de Tik-Tok.
Tomara que dê praia.