Publicado 27/11/2020 11:23
Melancolicamente arrastavam-se desde 2013, com os protestos “Fora, Cabral”, as grades em frente ao Palácio Guanabara. Nada raro era ver funcionários movimentando o gradil um pouco para frente, um pouco para trás. Para os ligados ao simbolismo, a distância entre o poder e o povo estava estampado em um dos cartões postais arquitetônicos mais importantes da cidade.
O hoje conhecido Palácio Guanabara tornou-se residência da Princesa Isabel e de seu esposo, Conde D’eu, em 1865. Foi comprado pela família imperial, em um leilão, e dado como um presente de casamento. O que restou da época que esse lugar se chamava Paço Isabel? O chão “pé de moleque”, técnica trazida de Portugal e que é muito encontrada em cidades com raízes coloniais, como Paraty e Ouro Preto.
Com a chegada da República em 1889, o casal teve que sair da residência e do Brasil. O prédio acabou confiscado pela União. Isso geraria o mais antigo processo judicial da história brasileira, só recebendo as tintas finais há poucos meses. Reivindicando a posse, os herdeiros da família real perderam a batalha no STF, mas estão recorrendo. C'est la vie!
A proclamação da República trouxe uma nova finalidade: residência presidencial. Getúlio Vargas, por exemplo, morou de 1930 a 1945. E ali ele teve que resistir a intentona integralista, em 1938.
Sob liderança de Plínio Salgado, em maio de 1938, um grupo de cerca de 80 pessoas tentou invadir o Palácio. Eles protestavam contra a decisão de Getúlio em fechar os partidos, inclusive a AIB, a Ação Integralista Brasileira. O presidente ficou sitiado, mas venceu.
Outros conflitos marcariam a história desse lugar, inclusive após se tornar a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 1960.
O governador Carlos Lacerda chegou a organizar uma barricada contra...o presidente da república João Goulart. Ecos do começo de um regime militar.
Quando a visita estiver de volta à ativa, preste atenção nas tão ignoradas e importantes obras de arte.
Está no interior do imóvel a “A morte de Estácio de Sá”, de Antônio Parreiras, que mostra os instantes finais da vida do homem que lutou contra os franceses pela posse da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Foi pintado em 1911, em Paris. Outro quadro à óleo é “Abdicação de Dom Pedro I”, de Aurélio Figueiredo, que conta, como o nome já entrega, o momento que o imperador desistiu do trono brasileiro em 7 de abril de 1831.
Depois de 7 anos com grades, nada melhor que retirá-las. Isso é marcante para um Estado que já presenciou cinco ex-ocupantes máximos dessa Casa irem para prisão.
Que as histórias não se repitam. Que as grades nunca mais nos separem.
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