Segundo andar do botequim Vaca Atolada, na LapaThiago Gomide
Por Thiago Gomide
Publicado 14/12/2020 17:48 | Atualizado 14/12/2020 17:52
Para alguns, o "Vaca Atolada", na Lapa, é considerado "a embaixada carioca". Reduto de samba, cerveja e o espírito de quem nasceu, vive ou está na cidade.
No primeiro andar, lá no fundinho do estreito botequim, há uma roda de samba. Varia, mas todas sempre com extrema qualidade. Bebe-se dois copos, três, dança no apertadinho e sai para tomar um ar. Como nos melhores mergulhos, sem balão de oxigênio, toma-se fôlego, volta e vai ser feliz imerso na diversificação do lugar e das pessoas.
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Uma escada de madeira, daquelas que lembram a subida da gafieira Elite, nos dá acesso a um segundo ambiente. Os ventiladores de teto não são o bastante para tanto samba, suor e cerveja. As grandes janelas que marcam a fachada do tradicional prédio ajudam para uma brisinha litorânea rodar. Ninguém se importa com isso. Ninguém pode se importar com isso. Margarete Mendes, uma força cantando, não deixa faltar nada.
Não há ingresso ou couvert. Nada se paga por grandes rodas de samba. Vai do camarada pendurado ao médico, do que junta moedinhas para comprar o litrão ao que deixa o troco para a moçada que se desdobra para o gelo não faltar. Os estrangeiros amam esse espaço. Lá pelas tantas se sentem em casa, não mais apontados. 
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A perda do Vaca Atolada é um golpe na tradição carioca. Há mais de 10 anos faz parte do orgulho dessa cidade. Cidade que tem uma de suas veias boemias e artísticas os barzinhos. Não os pasteurizados. Os botecos com identidades próprias, vivos, que deixam lembranças das experiências. O turismo também vive disso.
O simbólico Vaca Atolado é o Rio em estado incrível.  
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Seremos cópias de nós mesmos?
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Evidente que há muitos motivos para o fechamento e não cabe aqui, agora, discuti-los. Fica a vontade que tudo isso se reverta e que as lideranças políticas entendam que os botequins, rodas de samba e afins fazem parte do calendário turístico. Gringos e brasileiros escolhem o Rio por causa também desses espaços. 
Sem eles, perde-se a alma, o simbólico. Aos poucos pode-se tornar uma cópia de nós mesmos.
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Coluna dedicada
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Coluna dedicada ao Vitor Ottoni e Fernanda Farias, companheiros de tantos sambas no Vaca.
   
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