Publicado 24/12/2020 08:00
Muitas vezes é complicado ver o que nasce após a onda enorme. A sensação de impotência cresce e bate o desespero. Normal. Angustiantemente normal. É como estar sem rumo e perceber faltar o básico. É como não ver mais sentido.
Se você está nesse estágio, não deixe de procurar ajuda médica. Alguns podem acreditar que é frescura, coisa para rico ou algo do gênero, mas não é. É importante, tem de graça ( ligue 1746) e contribui para olharmos com mais atenção o agora e o que virá depois do vendaval.
Além disso, deixa eu lhe convidar para uma visita ao passado. Juntos, iremos perceber que, em outras épocas, de outras maneiras, diversas pessoas nessa mesma cidade enfrentaram catástrofes. Não e nunca haverá comparações, mas vale como bons exemplos de garra, superação e união.
“João pegou varíola. Vai morrer!", “Maria faleceu ontem de febre amarela", “ Carlos tá com peste bubônica". Essa era a realidade do Rio lá para 1890, 1900. Éramos considerados o “túmulo dos estrangeiros". Bateu aqui, a chance era grande de não voltar para casa. Parecia que estávamos fadados ao fim, como capital, como nação. O centro do Rio de Janeiro era considerado ainda mais perigoso, por causa das doenças. Saúde era coisa para gente com dinheiro e ponto final. Adianto: em 1904 o cientista Oswaldo Cruz e uma equipe de estudiosos conseguiram enfrentar esses males. Ultrapassamos o maremoto, com vários combates, mas ultrapassamos. Em 1907 o número de pessoas com varíola na cidade era perto do 0.
Em 1918, corpos eram retirados do meio da rua. Coveiros já não existiam e foi preciso fazer com que presos assumissem os enterros dos inúmeros mortos. Havia brigas por canja de galinha, alimento considerado fortificante. Famílias inteiras morreram. Não havia hospitais suficientes, muito menos rede pública. A informação sobre a doença era a conta gotas, dificultando tudo. A gripe Espanhola devastou o Rio de Janeiro. Os registros desse período mostram uma cidade desolada. Uma população que parecia não ver saída. Adianto: o carnaval de 1919 foi uma loucura de dar gosto. Em 1920, viveríamos uma década agitada social, econômica e culturalmente no Rio.
Desde o começo da Segunda Guerra Mundial ( 1939- 1945), as notícias chegavam picotadas, entretanto uma assustou de cara o nosso país: navios brasileiros foram atacados por submarinos nazistas. Ou seja, o inimigo estava na nossa costa. Deixava de ser uma coisa lá longe. As viagens aquáticas foram suspensas, o que prejudicou até o abastecimento de determinadas regiões. Estocou-se comida. Muitos tiraram a garrucha da parede esperando o pior. Assistimos nossos bravos pracinhas se despedirem para o enfrentamento - e muitos para a morte. Pegue os jornais da época. O temor tomava conta. Muitos se suicidaram pensando na chegada de Hitler ao Brasil. Adianto: a Alemanha perdeu e a década de 1950, seguinte ao término do conflito, foi da bossa-nova, com festas intermináveis, com a conquista mundial da nossa arte.
O surto de meningite foi uma pedrada em plena década de 1970. A felicidade do tri campeonato de futebol deu lugar ao desespero. Mais e mais pessoas estavam doentes. Crianças e mais crianças ocupando o obituário. Em pleno regime militar, as notícias eram incompletas. Nesse caso, especificamente, ficamos meses sem saber o que estava acontecendo. Só quando a bomba estourou, com milhares de pessoas contaminadas, que começou uma luta contra o tempo. Adianto: nos protegemos e houve vacinação em massa, milhões de doses. Controlamos a meningite. Na década de 1980 muitos que acharam que iria morrer dançaram com Beto Barbosa.
Aprendemos que é preciso se proteger. Que é preciso que os governantes façam. Os que perdemos precisam ser sempre lembrados. Todos têm nome, sobrenome, família, sonhos. Valorizar mais estar aqui. Um dia após o outro é receita mágica na história. Depois do tsunami que venha o carnaval inesquecível, um novo ritmo musical que balance o mundo e a vontade de se acabar dançando, por que não, lambada.
Se você está nesse estágio, não deixe de procurar ajuda médica. Alguns podem acreditar que é frescura, coisa para rico ou algo do gênero, mas não é. É importante, tem de graça ( ligue 1746) e contribui para olharmos com mais atenção o agora e o que virá depois do vendaval.
Além disso, deixa eu lhe convidar para uma visita ao passado. Juntos, iremos perceber que, em outras épocas, de outras maneiras, diversas pessoas nessa mesma cidade enfrentaram catástrofes. Não e nunca haverá comparações, mas vale como bons exemplos de garra, superação e união.
“João pegou varíola. Vai morrer!", “Maria faleceu ontem de febre amarela", “ Carlos tá com peste bubônica". Essa era a realidade do Rio lá para 1890, 1900. Éramos considerados o “túmulo dos estrangeiros". Bateu aqui, a chance era grande de não voltar para casa. Parecia que estávamos fadados ao fim, como capital, como nação. O centro do Rio de Janeiro era considerado ainda mais perigoso, por causa das doenças. Saúde era coisa para gente com dinheiro e ponto final. Adianto: em 1904 o cientista Oswaldo Cruz e uma equipe de estudiosos conseguiram enfrentar esses males. Ultrapassamos o maremoto, com vários combates, mas ultrapassamos. Em 1907 o número de pessoas com varíola na cidade era perto do 0.
Em 1918, corpos eram retirados do meio da rua. Coveiros já não existiam e foi preciso fazer com que presos assumissem os enterros dos inúmeros mortos. Havia brigas por canja de galinha, alimento considerado fortificante. Famílias inteiras morreram. Não havia hospitais suficientes, muito menos rede pública. A informação sobre a doença era a conta gotas, dificultando tudo. A gripe Espanhola devastou o Rio de Janeiro. Os registros desse período mostram uma cidade desolada. Uma população que parecia não ver saída. Adianto: o carnaval de 1919 foi uma loucura de dar gosto. Em 1920, viveríamos uma década agitada social, econômica e culturalmente no Rio.
Desde o começo da Segunda Guerra Mundial ( 1939- 1945), as notícias chegavam picotadas, entretanto uma assustou de cara o nosso país: navios brasileiros foram atacados por submarinos nazistas. Ou seja, o inimigo estava na nossa costa. Deixava de ser uma coisa lá longe. As viagens aquáticas foram suspensas, o que prejudicou até o abastecimento de determinadas regiões. Estocou-se comida. Muitos tiraram a garrucha da parede esperando o pior. Assistimos nossos bravos pracinhas se despedirem para o enfrentamento - e muitos para a morte. Pegue os jornais da época. O temor tomava conta. Muitos se suicidaram pensando na chegada de Hitler ao Brasil. Adianto: a Alemanha perdeu e a década de 1950, seguinte ao término do conflito, foi da bossa-nova, com festas intermináveis, com a conquista mundial da nossa arte.
O surto de meningite foi uma pedrada em plena década de 1970. A felicidade do tri campeonato de futebol deu lugar ao desespero. Mais e mais pessoas estavam doentes. Crianças e mais crianças ocupando o obituário. Em pleno regime militar, as notícias eram incompletas. Nesse caso, especificamente, ficamos meses sem saber o que estava acontecendo. Só quando a bomba estourou, com milhares de pessoas contaminadas, que começou uma luta contra o tempo. Adianto: nos protegemos e houve vacinação em massa, milhões de doses. Controlamos a meningite. Na década de 1980 muitos que acharam que iria morrer dançaram com Beto Barbosa.
Aprendemos que é preciso se proteger. Que é preciso que os governantes façam. Os que perdemos precisam ser sempre lembrados. Todos têm nome, sobrenome, família, sonhos. Valorizar mais estar aqui. Um dia após o outro é receita mágica na história. Depois do tsunami que venha o carnaval inesquecível, um novo ritmo musical que balance o mundo e a vontade de se acabar dançando, por que não, lambada.
Que você, querida leitora, querido leitor, tenha um Natal de paz.
Como na foto que ilustra essa coluna, há um mundo atrás dessa imensa nuvem.
Calma, essa desgraça vai passar.
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