No meio de uma turma repleta de falantes crianças havia uma que não interagia. Quieta entrava, quieta saía.

Ao lado de uma aldeia de pescadores, a escola municipal em Pedra de Guaratiba abraçava os estudantes mais carentes da região. Olhar trinta ou quarenta crianças ao mesmo tempo nem sempre é possível. Administrar uma sala de acolhimento com tantos pequenininhos nunca é fácil. Há quem deixe passar o mais quietinho.

Anne Pimentel era o contrário. Além de ceder toda a energia para a meninada, fazia questão de entender os porquês do aluno retraído não participar.

A resposta veio.

Em um evento, perto da praia, o menino puxou a mão da professora e fez a pergunta que é a manchete dessa coluna.

Colocando em pauta o protagonismo do estudante, Anne pesquisou em tudo que era canto e junto de toda a classe construiu um projeto que mostrava aos pais a resposta da questão.

Nas apresentações o mais falante era o menino quieto.

Virou projeto premiado. Discutido em rodas de educadores. Exemplo da força que é o olhar. O escutar. O permitir.

De professora foi caminhando para a Gerência de Educação Infantil, onde ficou de 2010 a 2018.

Ajudou na construção de projetos importantes para a Educação do Rio de Janeiro, como a Jornada Pedagógica da Educação Infantil, mobilizando milhares de professoras, professores, merendeiras...

Em 2019 foi para o Instituto Helena Antipoff, estabelecimento público referência em ensino especializado em Educação Especial.

Quando fui trabalhar na MultiRio, empresa pública de midiaeducação, vinculada a Secretaria Municipal de Educação, pedi à Anne que fizesse uma palestra para os funcionários sobre o universo da Educação Infantil, tão rico e distante do conhecimento de jornalistas e afins.

Além de preparar uma apresentação impecável e convidar duas colegas para dividir o palco, Anne pacientemente respondeu as mais diferentes perguntas.

Até quem não falava, falou.