Cesário Melantonio NetoDivulgação
Publicado 12/11/2021 06:00
A triste performance do Brasil na cúpula de líderes do G20 de 2021, em Roma, foi marcada por apenas duas reuniões bilaterais e por inúmeros passeio inúteis pela Cidade Eterna. As poucas reuniões bilaterais são um claro sinal de desprestígio no momento em que o Brasil perde seu lugar no mundo. Conversas informais de corredor costumam ser casuais e rápidas, ao contrário das reuniões, marcadas com antecedência, duram mais tempo e, geralmente, têm pautas definidas.

O analfabetismo diplomático de Brasília ficou evidente em Roma, com um país sem aliados, sem amigos, menosprezado pelas outras nações em razão de um governante que agride verbalmente e pessoalmente outros parceiros. As imagens falaram por si mesmas, mostrando a nossa posição de país tóxico, evitado e marginalizado na cúpula de líderes mundiais.

Essa humilhação diplomática, ainda marcada por agressões a jornalistas, vai deixar uma triste marca e exigir muito esforço de reparação no futuro. Ser motivo de ironia, sarcasmo e chacota na imprensa nacional e mundial nunca esteve nos planos nem no radar de nenhuma política exterior.

Nenhum chefe de governo encontrou tempo para uma reunião com o Messias, com exceção dos diretores gerais da OMS e da OCDE - mas essas duas personalidades não tomam decisões relevantes, porque essas são reservadas aos chefes de Estado e de Governo. Sem programação, a visita se resumiu a caminhadas e turismo em uma preciosa perda de oportunidades relevantes de encontros internacionais de alto nível.
Encontros com líderes de extrema direita e fascistas na Itália danificam ainda mais a já combalida imagem internacional do Brasil, e em particular, na Europa. A realidade paralela na diplomacia nunca funciona quando o vexame internacional é claro, e não adianta querer tapar o sol com a peneira.

Uma agenda oficial que não é fundamentada em fatos reais nunca vai convencer os nossos principais parceiros internacionais. Mentira tem perna curta e ficou evidente na visita italiana, sendo o retrato do país sem lugar no Mundo e, em especial, no mundo em que a civilização ainda é um objetivo.

É a imagem de um desgoverno em sua missão de construir uma boa relação global. Daí o ódio ao chamado globalismo ou globalização. Diplomacia deve ser uma política pública para a abertura mundial, um instrumento de combate à fome, de desenvolvimento industrial, de atração de investimentos e de melhoria da qualidade de vida.

Os líderes mundiais deram claramente as costas para Brasília e a situação internacional do país ficou ainda pior com a tentativa de vingança contra os jornalistas. Nada pior do que aquele que quer se esconder, e fazer prevalecer uma versão mentirosa da história. A tentativa de calar a imprensa violentamente marcou o fim de uma triste visita italiana e mais um episódio melancólico da vida diplomática brasileira em 2021.

O Brasil ficou de fora da festa e assistiu, de longe, como uma criança olhando pelo vidro as comemorações na casa do vizinho. Ao ignorar em ações e teses a COP26, o Messias agravou ainda mais a imagem a imagem mundial brasileira. Não é por acaso que ele quer se livrar do mensageiro - a imprensa - para fazer prevalecer suas versões.

O desgoverno é autoritário e só não é mais porque o Brasil está resistindo e impedindo o avanço dessas forças. A preferência por ficar dentro de uma bolha particular, com suas histórias e suas mentiras, tornou a situação italiana ainda pior do que poderíamos imaginar em sã consciência.

Houve cenas públicas em que se viu o Messias fisicamente distanciado e excluído pelos chefes de Estado e de Governo. E essa oportunidade de encontros bilaterais relevantes foi perdida pela diplomacia brasileira que precisava cumprir esse papel. A volta à normalidade diplomática ainda vai levar algum tempo, e vai demandar um grande esforço de recuperação por parte do Itamaraty.

O Brasil segue isolado porque tanto no G20 quando na COP26, sua agenda vai na contramão da agenda mundial e dos interesses nacionais. O Brasil quer redução do desmatamento, quer o império das leis na Amazônia para a redução das emissões. Sempre fomos uma nação relevante nesse debate mundial sobre a luta contra o desmatamento e sobre as mudanças climáticas desde 1992, e por ocasião, da Rio92.

Agora nos isolamos porque o Messias se interessa em estimular e proteger desmatadores, grileiros, madeireiros e invasores de terras indígenas. A COP26 terá discursos de mais de cem chefes de Estado e Governo, e mais uma vez, o Brasil está fora da lista. Avesso à agendas verde, o Brasil rechaçou o apelo de líderes mundiais para participar, em alto nível, do evento em Glasgow.

Essa reunião tenta destravar o financiamento para preservação florestal e ampliar os compromissos assumidos pelos países com a redução das emissões de gases do efeito estufa, ação necessária, para os cientistas, para salvar os esforços previstos no Acordo de Paris e de conter o aumento da temperatura em 1,5%. A ausência brasileira nos palcos internacionais relevantes e das discussões internacionais, em alto nível, compromete o sucesso de qualquer diplomacia presidencial.
Cesário Melantonio Neto
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