KakayDivulgação
Por Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
Publicado 20/05/2021 06:00
O Brasil virou um país ridículo, triste, banal. Tenho dito que, em um sistema presidencialista, a figura do presidente tem um valor simbólico forte e significativo. Para a formação de um povo, de uma geração, a presença de um líder do Executivo medíocre, inepto, desonesto, mentiroso e inculto é avassaladora. O presidente da República envergonha a todos nós pelo que ele simboliza em sua completa ignorância. A sua figura abjeta deixa a sensação de um tremendo mal-estar, uma vergonha alheia, um sufoco engasgado na garganta.

O país se acostumou a um presidente falastrão, que faz manifestações machistas, homofóbicas, misóginas e racistas como se fossem normais. Um Presidente que mente o tempo todo, que distorce os fatos, que não tem compromisso com a verdade e que não tem respeito mínimo pelo cargo que ocupa.

Um homem capaz de, por razões políticas, manipular dados, desdenhar do sentimento das pessoas e rir da dor do outro enquanto fecha os olhos para a realidade que o cerca. Sádico, gargalha da morte e, no meio da maior crise sanitária de todos os tempos, se gaba de ser “imorrível, imbrochável e incomível”!!
Claramente uma manifestação de deboche de alguém que está vivendo em um universo paralelo, onde o poder vale pelo poder e a vida é um nada perto da insensibilidade que domina as entranhas de uma mente doentia e perversa. Mas que encontra respaldo em parte de uma sociedade que se nivelou com a barbárie e com a mediocridade.

No dia em que o Brasil apresenta o número oficial de 437 mil mortos pela covid, o governo insiste em se desgarrar da realidade e criar um mundo paralelo sem nenhuma correlação com a verdade dos fatos. É como se fosse possível eleger a mentira como regra para manter a existência desse mundo teratológico, de monstruosidades e de deturpações.

E como criar, nesse mundo de valores corrompidos, uma juventude que consiga se manter íntegra? Como resistir a um bando de idiotas incultos vomitando inverdades com ares de falsa inteligência, de pretensa intelectualidade? É absolutamente assustador.

A Comissão Parlamentar de Inquérito se transformou em um show de horrores. Autoridades que ocuparam ou ocupam cargos importantes no governo Bolsonaro se dispõem a comparecer para mentir sem limites, para contar histórias inverossímeis, para proteger crimes e para ridicularizar as pessoas minimamente informadas. Para rir do povo brasileiro. Para fazer chacota com a dor dos que perderam seus entes queridos. Um desastre. Uma infâmia.

Um desespero desalentador para quem tinha fé na hipótese de um Senado Federal independente e comprometido com a investigação da verdade. Um disparate e um atestado de falência de um povo e de uma geração. Nós fomos vencidos por malandros de quinta categoria sem charme e sem ginga. Milicianos com ternos bem cortados, mas bregas. Ignorantes com orgulho da boçalidade. Violentos na sua empáfia. Um esgoto a céu aberto onde os excrementos boiam.

Não há mais pudor. Não existe nenhum cuidado em ter que contar uma história com razoável coerência, uma necessidade de manter uma lógica ou, pelo menos, de não ser pego em um raciocínio medíocre. Nada mais importa. A mentira é de forma desavergonhada a base de sustentação de toda narrativa e é o que embasa suficientemente para virar “verdade”.

Caíram todas as máscaras e as cortinas foram levantadas. Não há mais necessidade de fantasiar nada. É no seco. Com as luzes acesas e todos fora das coxias, no palco principal, disputando a ribalta. Quem mentir mais, quem fizer frente ao jogo de sombras que o governo criou vai ter espaço no jogo de marionetes no qual os fantoches insistem em rir, deixando claro que estão rindo de nós. Que nós, o povo brasileiro, deixamos de ser sujeitos para sermos objetos desse mundo de horror em que se transformou o país.

É necessário, ainda assim, manter uma última chama de esperança acesa. Quando a mentira é a linha condutora de toda uma história, é preciso acreditar ser possível mudar e esperar que as pessoas acordem. Senão, não terá valido a pena. Para isso a resistência tem que ser diária, cotidiana. É a velha e surrada lição de Eduardo Galeano:

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte se corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”


Leia mais