Maricá, um dos municípios que contam com um fundo soberano: dinheiro guardado para financiar investimentos futurosPrefeitura de Maricá
O papel dos fundos soberanos no futuro do RJ e do Brasil
Fundos soberanos transformam riqueza passageira em desenvolvimento duradouro e sustentável para o futuro das cidades.
Na clássica fábula da cigarra e da formiga, enquanto a primeira canta despreocupada durante o verão, a segunda trabalha incessantemente, armazenando provisões para o inverno. Quando o frio chega, a cigarra sofre as consequências da falta de planejamento, e a formiga colhe os frutos de sua prudência. A história, embora simples, ilustra bem uma diferença fundamental de comportamento que também se aplica à gestão pública: a capacidade de planejar o futuro quando o presente ainda é próspero.
É esse o espírito que move os fundos soberanos subnacionais que vêm surgindo no Brasil. Hoje, o país conta com seis fundos em operação, que, somados, administram R$ 9,6 bilhões em ativos. Criados com funções variadas — desde a estabilização fiscal até o incentivo a investimentos verdes —, esses fundos representam uma mudança de mentalidade: a de transformar recursos temporários, como os royalties do petróleo, em instrumentos permanentes de desenvolvimento e estabilidade.
No estado do Rio de Janeiro, três iniciativas se destacam. Niterói administra cerca de R$ 1,4 bilhão com uma política de investimentos voltada principalmente à estabilização de receitas. Já Maricá, com R$ 2 bilhões em seu fundo, combina prudência fiscal com visão de futuro. A cidade utiliza o fundo para financiar investimentos que a preparem para o cenário pós-royalties do petróleo, garantindo sustentabilidade mesmo quando as receitas do setor diminuírem. O Governo do Estado administra um fundo de R$ 3 bilhões, que tem como propósito tanto manter o equilíbrio fiscal quanto financiar o desenvolvimento fluminense.
Saquarema segue pelo mesmo caminho, estruturando seu próprio fundo para reduzir a volatilidade das receitas provenientes do petróleo, diversificar a economia local e estimular o desenvolvimento sustentável. Essa tendência reflete um amadurecimento na gestão dos recursos públicos, em especial nos municípios dependentes dos royalties: o entendimento de que riqueza não planejada é passageira.
Fora do Rio, o Espírito Santo tem se destacado com o Fundo Soberano do Estado do Espírito Santo (Funses), que adota um modelo mais voltado à promoção do desenvolvimento econômico. O Funses opera com três produtos distintos: o Funses 1, que investe em startups e empresas de base tecnológica; o Funses ESG Debêntures, voltado ao desenvolvimento regional com foco em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG); e o Fundo de Descarbonização, em desenvolvimento, que financiará projetos de descarbonização da economia capixaba — um tema que o estado levará à COP30, conferência global sobre mudanças climáticas.
Como observa Fernando Teixeira, diretor de projetos especiais e sustentabilidade do Fórum de Fundos Soberanos Brasileiros (FFSB), o investimento sustentável não era o propósito inicial desses fundos, mas surge de forma natural como uma oportunidade de futuro. Segundo ele, os fundos soberanos podem se tornar catalisadores de investimentos internacionais, atraindo o interesse de fundos soberanos globais e ampliando a entrada de capital estrangeiro em iniciativas sustentáveis.
Assim como a formiga da fábula, os entes federativos que criam e fortalecem seus fundos soberanos estão, na prática, guardando para o “inverno” — seja ele uma crise fiscal, uma queda no preço do petróleo ou uma mudança estrutural na economia. Mais do que simples reservas financeiras, esses fundos representam uma visão de longo prazo, que alia planejamento, inovação e sustentabilidade.
O desafio, agora, é fazer com que essa mentalidade se espalhe: que mais cidades e estados brasileiros aprendam com o exemplo das formigas — e saibam construir, enquanto há bonança, o alicerce sólido de um futuro próspero e sustentável.

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