Rio - Temos refletido neste espaço sobre a Quaresma e sobre como estamos nos preparando para a Páscoa. A Quaresma é este tempo em que Deus nos convida à conversão profunda. Por isso, devemos silenciar para ouvir a Deus e para ouvir o que grita em nossa vida e precisa de conversão. Como é difícil desconectar, deixar as coisas um pouco de lado, parar e fazer silêncio!

Estamos sempre com pressa, sem tempo para assimilar todas as experiências que temos. No entanto, a Quaresma nos convida a ir ao deserto, seguir os passos de Jesus, acompanhando sua busca. O silêncio que devemos nos propor não se reduz à ausência de palavras, mas antes, à predisposição de escutar outras vozes: a do nosso coração e, sobretudo, a voz de Deus.

Também é um tempo para prestar atenção no outro, partilhar, acolher. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários e consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de onipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.

Escutar nunca é fácil, significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Buscando momentos de silêncio e estando mais abertos ao outro, também devemos nos preocupar com a nossa participação no ambiente digital. As redes sociais virtuais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. Desejo que este período da Quaresma nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo; e expulse todas as formas de indiferença. Em silêncio, também se constrói uma verdadeira comunicação.