Por O Dia
Rio - Ô Luar, conta uma daquelas histórias pro governador! - a frase, dita pouco antes das 22 horas no gabinete do governador Garotinho, no Palácio Guanabara, em final de uma noite, não me pegou de surpresa. Eu estava trabalhando na assessoria de imprensa do Governo do estado e meu escritório era no anexo do palácio, ali em Laranjeiras. O Peninha, secretário de estado de imprensa, havia me convocado para ser apresentado, oficialmente, ao governador e foi logo pedindo uma história. Missão dada, missão cumprida (esse negócio de missão tá na moda, hoje em dia). O governador, ainda no início do mandato, gostava de verificar, in loco, andamentos de atendimentos em hospitais e delegacias de polícia, sempre após as 22 horas. E não tinha hora para terminar e nem mesmo um destino certo. Poderia ser um hospital em Santa Cruz ou uma delegacia em Seropédica. Ou em Petrópolis? E se acontecer no presídio em Magé? E eu, contratado para ser olhos e ouvidos dele, tinha que estar junto. Mas vejam bem, minha jornada de trabalho começava cedinho. Saia de casa pouco depois das 5 horas. Lá pelas 6 horas, estava na redação de O Dia. Encarava até as 13 horas. Saia do jornal, almoçava correndo, atravessava o Túnel Santa Bárbara e começava o turno no Guanabara. A partir daí, não tinha hora para terminar a jornada. Chegava em casa lá pela meia noite. Os plantões de finais de semana eram desencontrados dos do jornal, ou seja, não tinha folgas semanais. Cheguei ao ponto, em 4 meses, cochilar em qualquer lugar onde havia uma cadeira. O cachorro, no quintal da casa em Água Santa, chamava Cão, quase não me reconhecia. Mal tinha tempo de ir ao barbeiro ou para a imprescindíveis saliências conjugais.

Nessa noite que fui levado ao governador pelo Peninha, minha mulher, a Jô, havia me ligado - como de costume - lá pelas 21 horas. Conversamos, rapidamente, falamos sobre a vida, a casa, os animais, o casamento, as dívidas, etc. Ela ainda lembrou do tempo em que passeávamos no Recreio dos Bandeirantes, acampando no Camping Club, lá perto de Grumari. Recordar é bom, mas impossível não querer voltar tudo novamente. Perguntei, no final do papo, o que ela tinha reservado para a minha janta: "Ô Jô, o que tenho para comer? Ela, quase sorridente: Luar, tem salada, carne assada recheada, um arroz de forno e, a sobremesa... EU! Jô estava com a razão. Cheguei a ficar corado diante da realidade exposta por ela.
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Já notaram qual foi a história engraçada que contei ao governador? Confesso que tava difícil levar uma vida "normal". Mas, aproveitando o convite do Peninha, resolvi tentar ganhar um outro salário e, assim, liquidar algumas dívidas. Esse segundo emprego veio a calhar. Amigos, haja preparo físico. Encarei o desafio, aceitei o convite e contei a história. Cacetada! Deu certo! O governador entendeu o recado da Jô. Ele deu um tapinha nas minhas costas, piscou o olho para o Peninha e decretou:, - Vai para casa. Ô Peninha, ele está livre, agora deixa ele ir. Pelo menos nessa noite, não iremos dar flagrantes nas delegacias. - Meu Deus, saí do gabinete correndo, peguei meu jipe Gurgel imundo e voei para casa. Não avisei à mulher que estava a caminho. Bati o recorde de velocidade a bordo do lento veículo. Nessa noite, oh graças, cheguei mais cedo, brinquei com o Cão, tomei banho de banheira e comi a "sobremesa" antes do jantar.