Luarlindo Ernesto, o Luar - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Luarlindo Ernesto, o LuarDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
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Todos têm um passado. Nós, também. Então, em 1960, aconteceram coisinhas que andei lembrando. São 60 anos que rolaram sob nossos pés. Sem o tal de 'zap-zap'. Quer se comunicar com urgência com alguém que não tem telefone? Só pelo telegrama, do Correios e Telégrafos...

Acho que, hoje em dia, poucos ouviram falar. Mas o América Futebol Clube, lembram dele? Pois foi o campeão carioca de 1960 quando derrotou o Fluminense por 2 a 1, em partida transmitida pela TV — TV Rio, TV Continental e TV Tupi — ao vivo (em preto e branco). Doze times brigaram pelo título e nenhum deles admitiam que as emissoras continuassem a mostrar os jogos (diziam que dava prejuízo).

O baixo astral que assolou o Rio (opa, Distrito Federal), no final dos anos 1950 e início dos 1960, parecia praga de ex-sogra. Morreu muita gente. E Niterói?, aqui ao lado, foi recordista de desgraça. O incêndio do Grande Circo Norte Americano matou uns 500. A maioria, umas 330, crianças. E foi mal explicado. (Até hoje, acho que arranjaram um culpado). Eu estava lá, no mesmo dia, em meio aos escombros.

O Rio, caramba, DF, ainda chorava as dezenas de mortos na colisão de dois trens em frente à Mangueira (1958, lembrei semana passada), quando dois aviões — um DC-3 da Real e um DC-6 da Marinha americana — se chocaram sobre a Baía da Guanabara (1960), matando 66 pessoas. Só mesmo o nascimento de Aírton Senna da Silva, nosso eterno campeão da Fórmula 1, em março deste ano para quebrar a maldição.

Bem, JK dava retoques finais para inaugurar Brasília, Tião Medonho acabara de roubar o dinheiro — Cr$ 127 milhões (a moeda era Cruzeiro) do trem pagador da Central do Brasil, em Japeri, e Éder Jofre ganhou o Cinturão de Ouro de boxe, categoria Peso Galo. Caramba, acho que tô começando a ficar um tanto quanto velho. Ah, o Carnaval "quente" só no "Mamãe eu vou às compras", ou "Vermelho e Preto". Animação? "Bloco da Chave de Ouro", que saía na Quarta de Cinzas no Engenho de Dentro.

E o inesquecível Chico Anísio? Foi no início dos anos 1960 que levou para a TV Rio, o Chico Anísio Show, sua estreia na TV. Antes, desde a década passada, era conhecido pela voz, nas rádios. A partir da televisão, não parou mais de criar personagens. Várias vedetes, oriundas das 'Certinhas do Lalau' — as boazudas do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta — vieram no reboque do Chico para brilharem no programa semanal.

Acredito que ainda tem gente que lembra do Gregório Fortunato, o 'Anjo Negro'. Foi assassinado na prisão na Rua Frei Caneca. Gregório foi o chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas. Esteve envolvido no 'atentado da Rua Toneleiros', quando o major Vaz, da FAB, foi morto e Carlos Lacerda baleado no pé. O já Estado da Guanabara começou em meio a complicações. Até racionamento de energia elétrica encaramos. Pois ficamos meio no escuro de maio até outubro, em 1963. Eram 40 minutos diários de apagão em toda a área abrangida pela Light. Começava a proliferação dos rádios de pilha. Quase que faltou velas. Residências, comércios, escolas, hospitais, fábricas, delegacias, prédios residenciais e comerciais ficavam às escuras. Até os poucos bandidos entraram no racionamento. Caramba. Muita gente perdeu capítulos de novelas. Tínhamos sérios problemas de abastecimento de água. Marchinha de Carnaval lembrava a coisa no refrão: "De dia falta água, de noite falta luz!".

Jacarepaguá era considerada Zona Rural. Barra, Recreio, também. Aliás, Campo Grande e Santa Cruz estavam no mesmo barco. Mas, Jacarepaguá, assolada pela explosão imobiliária, foi promovida e virou Zona Oeste, de ricos e emergentes. Mas, amigos, os residentes na Baixada de Jacarepaguá se danaram com o valor do IPTU. Jacarepaguá virou o 'subúrbio da Barra e do Recreio'. Dá-lhe exploração imobiliária. E assim foi com vários outros locais da Guanabara. O Lins de Vasconcelos abrigava um sub-bairro: Boca do Mato. Que sumiu rapidinho do mapa. Aliás, até o Lins foi incorporado ao Grande Méier, assim como Andaraí e Grajaú viraram Grande Tijuca. Por outro lado, ouvíamos cada música de dar inveja. Miltinho gravou 'Mulher de Trinta', Tito Madi mandou bem com 'Menina Moça', Dolores Duran veio com 'A Noite do meu Bem', Anísio Silva emplacou a 'Alguém Me Disse', Elza Soares com 'Se Acaso Você Chegasse' e Moacir Franco com 'Me Dá Um Dinheiro Aí'. A partir daí, meus amigos, o Rock tava chegando...Funk, ainda não...

 

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