Por O Dia
Rio - Quantos becos passaram por sua vida ? Incluindo aí, amigos, o inevitável Beco Sem Saída ? Eu lembro de, pelo menos, três. Todos marcantes na minha curta vida (?) ...Esse aí, acima, é o mais insistente e quase permanente. Mas, os outros, que lembro, são o da Fome, no Leme, o das Garrafas, em Copacabana e o da Cirrose, no Centro de Angra dos Reis. Frequentei todos. Bati ponto quase que diariamente em determinadas ocasiões.
Hoje em dia, os tais becos estão na lembrança, boa, é claro. A boemia, apesar dos anos de chumbo, não tinha tanta censura, só um pouquinho, graças ao bom Deus. Mas, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de dezenas de becos, ruelas, travessas e afins. Tinha e, ainda conserva, o dos Barbeiros (ainda está lá, entre as Ruas Primeiro de Março e a do Carmo), o das Cancelas (entre as Ruas do Rosário e Buenos Aires), o das Carmelitas, na Lapa, e o do Bragança, ligando a Rua primeiro de Março à Rua da Quitanda.
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Mas, hoje em dia, são locais mais limpos e quase frequentáveis por famílias. Quando foram abertos, eram sujos, mal iluminados e mal frequentados.
Hoje, o Beco da Fome sumiu. Um antro formidável. Tinha de um tudo: atores, atrizes, cantores, cantoras, mendigos, ladrões, policiais, jornalistas, desempregados, boêmios. Local que atraiu muita gente para morar na Rua Miguel Lemos e arredores. O Leme, então criou fama nacional. O local que mais era falado, nas madrugadas, era o boteco da mulata Lindaura (era funcionária do bar), onde era servido o "caldo verde da Lindaura". Tinha até fila ! Eta local porreta...

E o Beco das Garrafas? Ah, Ruy Castro, velho camarada de lidas, já escreveu muito sobre os bares "Ma Griffe", "Bacará", "Little Club" e "Bottle's". Para se ter ideia, Ruy eternizou a área no livro 'Chega de Saudade', de 1990.
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Sérgio Mendes, Elias Regina - começou por lá - e outros tantos se apresentavam ou davam canja naqueles "santos antros". Aliás, dizem as más línguas que o Beco começou como "Beco das Garrafadas", criado pelo Sérgio Porto, que explicou o nome: moradores dos prédios ao redor jogavam garrafas nos frequentadores boêmios, barulhentos. Depois, virou o das Garrafas. Se tinha prostituição ? Claro !
No da Fome, também tinha. E daí ? Eu frequentei muito, levado pelo companheiro Dinaldinho, irmão de um poderoso diretor da TV Globo (naquela época), e que não saia da redação do Globo, onde eu trabalhava. Dinaldinho foi o culpado da minha frequência no Beco nas madrugadas dos anos 1960. Kacetada ! Era cada encrenca que eu arranjava com a patroa. Casado, com duas filhas pequenas, e morando no subúrbio, era difícil conciliar os horários...E tome inquéritos matrimoniais.

Bem, vamos sair do Rio de Janeiro. Afinal, tem beco em outros municípios, também. Beco da Cirrose, bem no Centro de Angra dos Reis. Tá lá, até hoje. Nos anos 1960, era o local onde um dos bares servia a cerveja e o chope da companhia B. O restante do município, incluindo Mangaratiba e Paraty, somente serviam da companhia A. Eu era fã da B.
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Então, a desculpa era ir beber minha cerveja e o chope preferidos no único bar onde eram servidos. A Ambev não fora inventada (ou criada). O beco está localizado entre a Rua do Comércio - em frente a Igreja de Santa Luzia - e a Praça Nilo Peçanha. Tem uns 130 metros de extensão. Era povoado por lojas pequenas. Mas, a dos bares dominavam a área. Muito bom.
Ninguém conseguiu saber ao certo quem deu o nome ao local. Mutas histórias - incluindo a de pescadores - informam origens não confiáveis. Eu, particularmente, preferi a última: "o beco só tem fregueses com cirrose", diziam alguns mais velhos, ainda "conservados" sobreviventes que eu conheci por lá. Dizem que há prostituição. Bem, eu sempre fui lá para beber e saborear os "tira-gostos". Um velho amigo, que frequenta ainda o Beco da Cirrose, o Antônio, sempre avisou: "Vou ao bar para beber e comer. Não vou para conversar ou olhar pra mulher dos outros".
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E, por fim, não poderia esquecer do Beco Sem Saída. Esse está presente até nos dias de hoje. Ele é meu companheiro em todas as segundas quinzenas de cada mês.