Por O Dia

Ah, a vida no subúrbio...Tem de tudo. Depende da ótica do morador, é claro. Diante disso, tratei de fazer as adaptações possíveis para poder viver uma vida melhor. Plantei frutíferas no quintal - o pêssego, a laranja seleta e o figo foram atacados por pragas - e posso colher uvas, acerolas, pitangas, fruta de conde, nêsperas, caqui e, em breve, maçãs. Estou distante do trabalho pouco menos de 15 quilômetros, o IPTU cabe no bolso e só me aborreço com vizinhos que estacionam carros na porta da garagem. Mas, vai parar na porta deles. Mas, amigos, vizinhos e parentes a gente não escolhe...

O padeiro passa na porta, o carro do ovo, o funileiro (é o cara que conserta panelas, amola facas e conserta fechaduras) e o vassoureiro, também. Para comodidade, o sacolão e a drogaria entregam os produtos em casa. O da pamonha sumiu. Amém!

Desisti da piscina - atrai parentes chatos e vizinhos indesejáveis nos fins de semana - e optei por uma pracinha, tipo coreto, onde passo as manhãs de folga ouvindo Sílvio Caldas, Charles Aznavour, Bienvenido Granda, Dolores Duran e Elizeth Cardoso. Tudo ao lado do laptop, e do celular, com o "silêncio" que me obriga a ouvir os pássaros.

Um vizinho é dono do "secos e molhados" meu fornecedor oficial da cerveja gelada e o tira-gosto (os pastéis de carne seca, ou de mexilhão, a sardinha frita e caldo de piranha são espetaculares), me obrigam a praticar a vadiagem. Para evitar a "longa" caminhada até o banheiro de casa, uns 80 metros de distância, fiz um mictório ao lado da pracinha. Me inspirei nos mictórios de Amsterdã, quase devassados, com meia paredes. Ô vida arretada. Mas, como tudo não são flores, tenho que varrer o quintal e ensacar as folhas das árvores. A patroa quer que essa operação seja diária! Missão dada, missão cumprida!

Vários amigos já conhecem o "local do crime" lá de casa. Todos aprovaram. As filhas e a patroa reclamam que o "mictório" é estritamente masculino. Discriminação? Jamais. Vou juntar um dinheirinho para ampliar o local e adaptá-lo para as mulheres. Afinal, também são filhas de Deus e bebem cerveja. Um amigão da antiga - hoje é coronel reformado da PM - o Monteiro, chegou a ser quase proibido pela mulher - também oficial da PM - de frequentar esse santo antro. É que ele saía de casa com a missão de fazer pequenas compras de fins de semana e regressar antes do almoço. Monteiro passava de carro em frente a minha casa e geralmente parava. Conversa vai, conversa vem, entrava para um inocente copo de cerveja. Caramba, o papo rendia e ele ficava umas três ou quatro horas. Numa ocasião, a esposa saiu possessa da vida e foi cobrar as compras. Ih, que inquérito policial-familiar dos brabos. Já o Amauri reclamava do mictório. É que não tem portas e as paredes são de metro e meio de altura. Amauri é meio tímido e queria que eu fechasse o ambiente... Nunca! Já o Fred, o vizinho e amigo suíço, já avisou: "estamos a 60 metros acima do nível do mar".

O lado ruim, na minha opinião, são os fogos de artifício. Frequentadores de um terreiro pertinho, em ocasiões festivas da religião, passam as noites e madrugadas disparando aqueles foguetes barulhentos. Durante toda a madrugada! Será que as explosões são para acordar as "entidades"? Lei do Silêncio? Que que é isso? Existe? Um vizinho metido a entender de leis - o apelido dele é Zé Butina e já desencarnou tem uns três anos - chegou a afirmar que em fins de semana e feriados, não tem nada de Lei do Silêncio. Eu apenas perguntei: "tem Lei que folga em fins de semana?" Ele não soube responder.

Para esse fim de semana, o cardápio do "secos e molhados", vai ser de pastéis de linguiça caseira mineira e nacos de carne seca à moda milanesa. Um mimo. Com direito a banho de mangueira, sem cheiro de areia! Esqueci de informar que o meu CEP diz que eu moro no bairro do Encantado. Prefiro em francês: enchantment.

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