Por O Dia
Publicado 29/02/2020 00:00

Não se faz marchinhas e sambas de Carnaval como antigamente. Notaram que as músicas dos blocos de rua, e até das bandas dos bairros, executam as velhas, saudosas e inesquecíveis músicas do tempo em que as mulheres usavam saias modelo Godê e os homens seguravam as calças com suspensórios? Somente os blocos patrocinados, que geralmente concentram e não saem, apresentam as músicas - rock, funk e outros gêneros - adaptados ao samba, As cantoras entoam seus mais recentes sucessos e o povo vai no embalo.

As velhas marchinhas, verdadeiras crônicas de costumes, de hábitos e de momentos, permanecem firmes. Até o Trem das Onze, do paulistano Adoniran Barbosa, ganhou as ruas do Rio de Janeiro no Carnaval de 1964 e é tocada e cantada até os dias de hoje. Nem vou lembrar do Abre Alas, a marcha-rancho de 1899,de Chiquinha Gonzaga, a mais tocada e cantada em todos tempos, homessa!

O Teu Cabelo Não Nega, Mulata Bossa Nova, Cabeleira do Zezé, Me dá Um Dinheiro Aí, e outras tantas que animavam os bailes dos clubes, do Teatro Municipal, do Sírio e Libanês, do Country, o das Bonecas, são de letras simples mas que são sucessos eternos no Carnaval do Rio e de São Paulo, Bahia e Belo Horizonte.

No Nordeste, o frevo é quase imbatível. Amigos, nem a geosmina foi lembrada nas músicas durante o Reinado de Momo.

Somente o detalhe das músicas para levar à lembrança dos costumes da época. No subúrbio, não faltavam os Bate Bolas. Fantasias de índios - nacionais e importados - dominavam os dias de calor. Parece que eram as mais adequadas ao verão, as máscaras, masculinas e femininas, não causavam medo ou desconfianças nas pessoas. Confete, serpentina e lança-perfume eram inocentes em meio dos olhares furtivos dos homens que miravam as pernocas das mulheres. Ah, para o povão assistir os desfiles das escolas não pagavam nada. Cada um levava o seu embornal (hoje seriam chamados de farofeiros). Tudo 0800.

A Polícia Civil prendia os mais exaltados, que cometiam pequenos delitos, e deixava os caras no xadrez da Delegacia de Vigilância e Capturas, ali na Avenida Marechal Floriano, até na quarta-feira de cinzas. A libertação desses "foliões", geralmente ao meio-dia das quartas-feiras, era um espetáculo à parte. Os presos saíam pela rua, a maioria ainda fantasiada, rumo às casas,ou trabalhos, ou direto a um bar para afogar as mágoas. E tinha plateia cativa que aplaudia, vaiava, xingava, ria, zombava dos caras.

Formidável - hoje o pessoal do Direitos Humanos iria se queixar à ONU. Ah, o carioca apelidou a saída dos presos de "O que que vou dizer em casa"... E lá saíam, cantarolando o "Mundo Melhor de Pixinguinha", samba enredo da Portela em 1974, de autoria de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, os reis do boleros. Ah, eu adorava o "Rancho da Goiabada", de João Bosco, um pouquinho mais moderno...

Essa mesma delegacia, que agora é a Polinter, tão logo sepultou o bloco dos presos, montou um salão frente de rua, para mostrar aos transeuntes - maioria era de gente que desembarcava, ou embarcava, nos trens da Central do Brasil, ali pertinho - punguistas, ventanistas, malandros, golpistas, ou vadios. Era uma maneira de apresentar, ou mostrar os "marginais". Ficavam entre 10 e 20 malandros na "sala de manjamento", todos sentados em bancos de ferro, monitorados por um policial.

Vez por outra, alguém era reconhecido, ou por parente, vizinho, conhecido, ou rival e até mesmo uma vítima. Nesse caso, o preso acabava autuado pelo crime que, na ocasião, cometeu. E era uma festa... A Sala de Manjamento, igualzinha a do Carnaval, não durou muito. Também, o prédio antigo, estava condenado, ameaçando cair. E, não esqueçam, nos desfiles não havia os infectos banheiros químicos... Viva o Bola Preta, o Tenentes do Diabo e outros mais.

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