Por O Dia

Ah, nossos publicitários. São considerados os mais criativos e competentes do mundo. Bolam criações incríveis. Atraem o cliente envolvendo, e quase obrigando, a nós, o alvo, a comprar o que mostram. Isso desde os tempos da brilhantina, da Guaraína (Dor? Guaraína), da lâmpada GE, da Ducal (inventaram o terno que vinha com duas calças), Emulsão de Scott.

Quando a criança, de madrugada, acordava chorando com dor de ouvido, saíamos, de pijamas, para ir até a 'pharmácia de plantão' para comprar Auri Sedina. O anúncio vinha acompanhado de uma musiquinha-calmante. Espetacular. Ainda não haviam inventado os anúncios com atletas, artistas, jogadores de futebol.

Os anúncios de saias, vestidos, blusas e outros apetrechos femininos eram recheados de mulheres, a maioria desenhadas, bem cheinhas e saudáveis. Eu lembro. E, vocês aí, mais vividos? Jornais e revistas viviam abarrotados de produtos. Ah, nos bondes, também. Enceradeiras, batedeiras, geladeiras, automóveis, roupas, terrenos na Praia de Copacabana, ou Leblon, mostravam casais em trajes ousados, caminhando à beira-mar. Lembro de um comercial que mostrava o homem pescando. A mulher e dois filhos aguardavam construindo um castelo de areia. Emocionante, sedutor e irresistível. Bora comprar um terreno naquela área a ser desbravada!

Tô lembrando dessas 'propagandas' — assim chamávamos os anúncios — enquanto permaneço isolado, aqui, na minha caverna, equipada com wi-fi. É pra passar o tempo. O meu e o de vocês, que me acompanham nas divagações dessa vida. Afinal, recordar é viver. Parece enrolação de um veterano jornalista. Bem, quase que é.

Tô criando coragem para contar, um pouquinho mais adiante, um golpe publicitário que já dura 72 anos. É isso mesmo. Aqui nesta terra tropical, onde ainda tem gente que acredita que não tem terremotos. Bom lembrar que, até em Mangaratiba, aqui do lado, já aconteceu no ano passado. Vamos deixar as desgraças de lado. Já temos bastante nos cercando. Calma, gente. Ainda tô arrumando um pouco de coragem para contar o tal golpe publicitário. Pensaram que era outro golpe? O golpe de ar? Ou o golpe de mestre? Não sou propedeuta... nem político. Tenho, nessa curta vida, três carteiras: a profissional, a do dinheiro — sempre vazia — e a de sinesíforo. E chega.

Bem, conversa demais enjoa. Vamos aos finalmente: o dia de ontem, 12 de junho, Dia dos Namorados, véspera do dia dedicado ao santo casamenteiro — tem gente que acredita — Santo Antônio, foi introduzido no Brasil em 1948. Quem lembra levanta o braço! Na Europa e nos Estados Unidos, o Dia dos Namorados é, até hoje, comemorado em 14 de fevereiro, Dia de São Valentim. Mas aí entrou a genialidade do publicitário. Um jovem dono da agência Standart Propaganda, João Dória, pai do atual governador paulista, foi procurado por empresário dono de uma rede de lojas de artigos variados.

O diálogo deve ter acontecido, segundo a minha imaginação, mais ou menos assim:

"Em junho, quase não vendo nada, o movimento nas lojas é fraco. O que faremos?"

E o Dória respondeu:

"A solução é trazer o Dia dos Namorados para o Brasil. Que tal no dia 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, o dos casamentos? Tem tudo a ver com os namorados, noivos, casados, amantes, parceiros, amizade colorida..."

O empresário sorriu de orelha a orelha.

"Espetacular! Bora fazer a propaganda desse dia que vai salvar as vendas!"

Pronto. Foi criado o dia que deixa o comércio sorridente. Até mesmo nas crises! Então, foram surgindo o Dia da Avó, do Avô, do Amigo, do Vizinho, do Inimigo, do Político, do Jornalista, o Dia do Fico (esse, nunca existiu...).

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