Por O Dia

O escritório de campanha que montei no quintal aqui da minha caverna desde o início da minha reclusão na pandemia, uma espécie de pracinha - ou gazebo -, vai chegando ao fim. O frio é de lascar... Estou em local com mais de 60 metros acima do nível do mar, área descampada, em frente à Serra dos Pretos Forros, latitude 22.900.1808 - longitude 43.306384, para ser mais preciso.

Venta muito. O laptop, o celular e o velho radinho de pilhas, que faziam o mobiliário do home office, ficam empoeirados e quase congelam.

É melhor eu procurar abrigo no pequeno escritório que fica no imóvel (ou caverna?), protegido das intempéries. Vou ficar longe dos pássaros que me cercam, empoleirados nas árvores que se espalham na área, sempre atentos às migalhas e alpiste que deixo em pontos estratégicos.

Ficarei mais distante do pé de bergamota. Ah, da nêspera também. A muda de maçã, que plantei em março, já está grande. As três parreiras, devidamente podadas, aguardam a chegada dos cachos. A acerola e a pitanga, já adultas, prometem dar frutos em breve. As frutas de conde já despontaram no solitário pé. As duas bananeiras, presente de um empresário do ramo de bar e restaurante - dono de sítio em Itaboraí - vingaram. Logo vão deixar surgir os frutos, do tipo prata. O pé de figo, que atraíam as ararinhas, foi atacado por fungo. Mas tô tratando dele. O meu xodó, entretanto, o pessegueiro não teve sorte (eu, também), e secou.

Estou disposto a fazer campanha pela internet: "Aceito doação de muda de pêssego". Ainda não decidi. Afinal, quem comia os frutos eram os sanhaços (Thraupis, nome científico da ave) e eu nunca briguei com eles. Aliás, esses sanhaços, ainda gostam das uvas e chegam em bandos para se alimentar por aqui. Maravilha da natureza. Diariamente, mesmo no inverno e com o vento implacável dessas bandas, as sabiás vêm para o banquete também.

Ainda mantenho flores. Afinal, não posso esquecer dos miúdos, ligeiros e simpáticos beija-flores. Eles são em bandos distintos e têm vários nomes. Um deles, o mais conhecido em nossas bandas, é o colibri. Lembram? São da família Picidae. Um casal chegou a se apoderar do pessegueiro, a árvore que secou. Eu ficava um tempão esperando que os dois afugentasse outros da espécie que tentavam se aproximar das flores da fruta. Incrível a fúria que mostravam para defender o "território" .

Outro miudinho que aparece mais raramente é o famoso pica-pau. Menor que o beija-flor, atrai o meu olhar pelo barulho que faz bicando os troncos de árvores. O cardápio dele, entretanto, são larvas de insetos. Nem dá bola para as frutas.

Então, como bom anfitrião, mantive troncos de um pé de goiaba que podei exclusivamente para esse gosto de ver os pássaros no meu quintal... Vez por outra, lá vem o danadinho diretamente no tronco velho. Deu Certo! Não sei se é o mesmo pássaro. Não enxergo bem. Ô maldita catarata...

Ah, têm as rolinhas. São mais de cem que disputam o alpiste que jogo três vezes ao dia. Mas vou me retirando desse paraíso. Vou ficar mais recluso dentro de casa (caverna). O escritório, pequeno, está bem em frente ao quintal. Já tirei a poeira do binóculo e vou ficar de vigia enquanto trabalho. O amigo-vizinho suíço, o Fred, sabedor do meu gosto ornitológico, já decretou: "Isso é coisa de velhos. Eu também aprecio os pássaros no meu quintal..." Dito isso, sorve mais um gole de stanheiger: "Saúde!"

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