Chico Alencar - Alexandre Brum / Agencia O Dia
Chico AlencarAlexandre Brum / Agencia O Dia
Por CÁSSIO BRUNO

Após 16 anos, o deputado federal não reeleito Chico Alencar (PSOL), 69 anos, se despede do Congresso. O professor de História, agora, se dedicará à sala de aula. Em entrevista à Coluna, fala sobre Marielle, Eduardo Cunha, Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Lula e PT, seu ex-partido. "Financiar campanhas com pagamentos em paraísos fiscais foi decepcionante".

O DIA: Se arrependeu de disputar o Senado e não ter concorrido à reeleição para deputado?

Chico Alencar: De jeito nenhum. A vida é feita de escolhas e essas, conscientes, nunca nos encolhem. O PSOL precisava e precisa de um representante no Senado. Na Câmara, dobramos nossa bancada. Perder é do jogo. Parlamentar não é profissão, é mandato eletivo temporário.

Qual é o principal legado deixado pelo senhor na Câmara?

O legado pode ficar largado (risos). Mais que os 100 PLs (projetos de lei), é o da firmeza nas convicções, sem ofender os adversários; da franqueza nos argumentos, em meio a tanta hipocrisia; da rejeição ao corporativismo; da permanente interlocução com a população; da opção preferencial pelos pobres.

Qual foi o pior momento da carreira?

Foi o da terrível execução de Marielle e Anderson. Em ponto muito menor, coloco a denúncia falsa de (Eduardo) Cunha (ex-presidente da Câmara e preso na Lava Jato) e Paulinho da Força contra mim no Conselho de Ética (por supostamente ter usado recursos da Câmara para fins eleitorais e apresentado notas frias de serviços prestados por empresa fantasma), que acabou derrotada por 16 a 0, e a fofoca de um suposto beija-mão servil em Aécio. Nada disso tinha substância, mas dá trabalho e chateia. Já o assassinato de Marielle e Anderson nos devastou de forma irreparável.

Como foi a relação com Jair Bolsonaro no Congresso?

Divergência total, mas nunca passou dos limites da civilidade. E, como Jair nunca foi um deputado de presença constante em comissões, nem de grandes intervenções em plenário, nosso dissenso nunca pôde se manifestar com frequência. Ele sempre foi bitemático: segurança/repressão e controle do afeto alheio.

O ex-presidente Lula te decepcionou?

Não me decepcionou propriamente. Tudo foi objeto de continuada divergência na direção do PT, onde ele sempre teve força para as escolhas de governabilidade que fez, afastando-se da base popular e aproximando-se de graúdos que agora o denunciam. Mas financiar campanhas com pagamentos em paraíso fiscal foi, de fato, muito decepcionante. Para mim e para os militantes, que não queriam que o PT se tornasse igual aos outros.

Como foi a última vez que esteve com Lula?

No impeachment da Dilma, no Senado. Nos abraçamos com afeto. Ele estava com Chico Buarque e me deu parabéns pela postura do PSOL no processo, com a concordância do xará.

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