A juíza aposentada Denise Frossard, ex-deputada federal - Arquivo pessoal
A juíza aposentada Denise Frossard, ex-deputada federalArquivo pessoal
Por CÁSSIO BRUNO
RIO - Pela primeira vez, desde quando perdeu a eleição para o governo do Rio, em 2006, no segundo turno para Sérgio Cabral, a juíza aposentada Denise Frossard, ex-deputada federal, de 68 anos, admite que se envolverá novamente em uma eleição. E será para a Prefeitura do Rio no ano que vem. Em entrevista à Coluna, ela conta que pretende construir uma candidatura com o jornalista Fernando Gabeira, também ex-deputado. "Já conversamos várias vezes", diz. Denise não concorrerá, mas conta que "está procurando um Zema", referência ao governador Romeu Zema, do Partido Novo, surpresa na eleição em Minas Gerais. Filiada ao PPS, fala ainda sobre Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Wilson Witzel.

O DIA: O que está achando do governo Bolsonaro?

DENISE FROSSARD: Ele conseguiu fazer três pilares interessantes que, na verdade, dão sustentação. O Ministério da Justiça, com o (Sergio) Moro; o Ministério da Economia, com o (Paulo) Guedes; e os valores da família militar. É muito pouco tempo, mas ele está tomando medidas acertadas. O nosso problema é a economia. Temos que acertar. É questão de vida ou morte.

A Reforma da Previdência sai ou não?

Sai. Não tem como não sair. Aliás, eu nunca vi o povo indo à rua para enaltecer um ministro da Economia.

Houve protestos contra os cortes na educação.

Sim. Mas é a democracia. O problema é o seguinte: temos um orçamento. O que cabe dentro do orçamento? Não é que as pessoas gostariam de cortar na Saúde, na Educação. Mas temos um orçamento. Tem que caber lá dentro. Se não, é uma irresponsabilidade. Agora, parece que não houve corte. Houve contingenciamento, o que é diferente. Pode até nem haver o corte. Mas tem que acertar a economia. Se não, não temos nada.

A senhora falou que o Moro é um dos pilares do governo Bolsonaro. O Moro mandou o Lula para cadeia e o tirou da eleição. Meses depois, o Moro assumiu o ministério. Nestas circunstâncias, a senhora, como juíza, aceitaria o convite do presidente?

Há certos convites que são, de regra, irrecusáveis. E não devem ser pleiteados. Você fazer parte de um governo em um momento de crise como o que nós estamos é algo que os bons brasileiros não deveriam dizer "não". Também não devem pleitear. Acho que ele se viu nessa situação. Você tem um Brasil dividido, o que é terrível. Eu não estava aqui no Brasil. Passei o ano todo fora escalando montanhas. Mas, de longe, eu acompanhava e fiquei muito preocupada com o confronto. Foi de tal ordem que houve uma facada. Como foi no Bolsonaro, poderia ter sido no adversário dele. Na democracia, ninguém perde e ganha. Perde, sim, nesse confronto. Então, foi uma decisão acertada do Moro. De modo que ele foi chamado por um governo nitidamente em um momento de crise, em que havia do outro lado um profissional excepcional, que é o Guedes.

Um ex-juiz foi eleito governador do Rio. Como avalia a gestão do Witzel?

Não o conheço. Também acho um prazo muito curto para dizer se o governador está indo bem ou não. Ele pegou um governo com problemas seriíssimos, canibalizado, largado e, o que é pior, com uma sociedade que descrê da sua classe política.

Como se enfrenta as milícias hoje?

Investigação, como combati o crime organizado há 27 anos (ela condenou a cúpula do jogo do bicho). O Ministério Público e a polícia. E o Judiciário, segura.

Mas há estrutura?

Claro que há. E, evidentemente, o Ministério da Justiça está aí para ajudar nisso mesmo, ajudar no que for possível. Além das próprias Forças Armadas.

A senhora está filiada ao PPS. Pretende voltar um dia para a política?

Não. Um pesquisador disse assim: "Tem duas pessoas que travessam o túnel (Rebouças) em termos de votos e os dois não são candidatos a nada". Somos Gabeira e eu. Mas, evidentemente, que tanto o Gabeira quanto eu temos o dever de ajudar a melhorar o Rio. Como? Procurando um Zema para ser candidato aqui nas eleições. E o Rio de Janeiro é uma cidade que é a porta de entrada do Brasil. Tem que ser transformado em um case.

A senhora pretende mudar de partido?

Não é a minha intenção, mas é a minha intenção ajudar o Rio de Janeiro.

Será a primeira eleição, depois de 2006, que a senhora pode ter uma participação. Não sendo candidata, mas apoiando algum candidato, construindo alguma candidatura junto com o Gabeira. É isso?

Eu pretendo chamar o Gabeira. Já conversamos várias vezes. Temos em comum essa situação: nós dois, segundo as pesquisas, atingimos toda a Zona Sul e atravessamos o túnel.

A chance é zero de ser candidata?

Não tenho vontade de ser candidata a nada, mas é a cidade que escolhi para viver. Estou envolvidíssima em apoiar uma candidatura que tenha compromisso com algumas bandeiras para o Rio. Que tenha por dístico o mesmo do Infante Dom Henrique: o talento do bem fazer.