Rodrigo Neves - Luciana Carneiro/Divulgação
Rodrigo NevesLuciana Carneiro/Divulgação
Por CÁSSIO BRUNO
RIO - Sociólogo formado pela UFF, Rodrigo Neves, de 43 anos, é prefeito de Niterói, um dos principais colégios eleitorais do estado. Petista histórico, passou pelo PV e, hoje, está no PDT, em seu segundo mandato. Diz ter seis pré-candidatos e escolherá um para apoiá-lo à sucessão. No entanto, teve o currículo manchado ao ficar três meses na cadeia. Rodrigo foi alvo da Operação Alameda, um desdobramento da Lava Jato no Rio, em 10 de dezembro do ano passado. Investigadores afirmaram que o prefeito recebeu R$ 10 milhões do reembolso da gratuidade de ônibus na cidade, o que ele nega. Em entrevista à Coluna, contou a rotina no cárcere e de ter conversado com o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), o ex-aliado.

O DIA: Quem apoiará em 2020 para sucedê-lo?

RODRIGO NEVES: A eleição está longe. Quem está governando tem que se concentrar em realizar as entregas para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Mas o senhor está indeciso entre sete pré-candidatos, certo?

Temos o Axel Grael (PV), que foi meu vice-prefeito e é secretário de Planejamento. A Giovanna Victer (sem partido), que hoje é a secretária de Fazenda. O Comte Bittencourt (Cidadania), meu candidato a vice-prefeito em 2016 e atual secretário municipal de Governo. O deputado estadual Waldeck Carneiro, presidente da comissão de Ciência e Tecnologia. O deputado estadual Paulo Bagueira (Solidariedade). O deputado federal Chico d'Ângelo (PDT).

E o ex-deputado federal Sergio Zveiter (DEM)?

Decidiu priorizar, nos próximos anos, o seu escritório de advocacia. Não se põe à disposição para a eventual missão no ano que vem.

Mas o que pesará na escolha? Quem estiver melhor nas pesquisas?

Além das pesquisas, consultas às lideranças da sociedade civil e às lideranças políticas da cidade.

São tantos pré-candidatos. Não é medo de perder?

Acredito que será uma eleição onde a sociedade vai expressar um reconhecimento das ações positivas da gestão municipal que fez a cidade superar a grave crise que herdamos. Realizamos projetos em todas as regiões da cidade, em todas as frentes e políticas públicas.

Mas existe um fato novo: o PSL, de Jair Bolsonaro. Provavelmente, deve ser o deputado federal Carlos Jordy. Como enfrentar?

Nossos principais adversários são a extrema-direita, com o filhote de Mussolini (refere-se a Jordy), e a extrema-esquerda, que, muitas das vezes, se equipara e que não tem um projeto de gestão para Niterói.

O governador Witzel (PSC) apoiará o seu candidato ou um adversário?

Temos um diálogo muito positivo com o governador Witzel e o vice-governador Claudio Castro, superando diferenças partidárias e ideológicas para o desenvolvimento de ações de cooperação, sobretudo na segurança pública. E isso é importante porque, em uma democracia, após a eleição, os governantes têm que deixar as diferenças partidárias de lado para o bem comum.

Mas o senhor corre o risco de enfrentar uma eleição sem o peso do apoio de um presidente da República e de um governador.

A eleição municipal tem menos peso ideológico e nacional. Assumimos Niterói com R$ 300 milhões de dívidas. Pagamos todas. Reservamos mais de R$ 1 bilhão para investimentos até o final de 2020. Estamos investindo pesado em segurança.

Não acredita na força eleitoral do Bolsonaro?

Ninguém ganha de véspera e não é razoável. Não podemos subestimar os adversários. Mas Niterói continuará seguindo em uma trajetória de gestão fiscal responsável, transparente e de indução do desenvolvimento local e de políticas sociais.

Como foram os três meses na prisão?

O que ocorreu é absolutamente inaceitável no estado democrático de direito. Nunca fui ouvido até hoje. Foram omitidos dados do Coaf, da quebra de sigilo que corroboram com a minha simplicidade e idoneidade. O meu governo contrariou os interesses de concessionárias ao unificar as três tarifas previstas no contrato feito pela administração anterior. O contrato previa oito aumentos de tarifa em seis anos. Só concedemos quatro.

E a rotina na prisão?

Tive oportunidade de ler mais de 43 livros de sociologia, de antropologia, de ciência política. Reli Machado de Assis. Virei especialista em África do Sul porque li a respeito do Apartheid e de Nelson Mandela, exemplo de resiliência. A leitura, a oração e o exercício físico são atividades indispensáveis para manter a lucidez. Sempre fui católico praticante. E a experiência dolorosa para mim, para minha família, foi a oportunidade de aumentar a intimidade com Deus. Sempre fui um homem de fé.

Se encontrou com o Cabral e outros presos da Lava Jato em Bangu 8?

Ocasionalmente.

Sobre o que vocês conversaram lá dentro?

Isso é um espaço de intimidade das pessoas.