Fabiana Bentes, ex-secretária estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos  - Luiza Bastos/Divulgação
Fabiana Bentes, ex-secretária estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos Luiza Bastos/Divulgação
Por CÁSSIO BRUNO
RIO - Bloqueia isso! O pedido foi feito pelo governador Wilson Witzel numa conversa com Fabiana Bentes, ex-secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Os dois estavam reunidos no Palácio Guanabara quando um empresário propôs que ela fosse a candidata do PSC à Prefeitura do Rio, em 2020. O segredo é revelado nesta entrevista exclusiva à coluna. Formada em Jornalismo, pós-graduada em Relações Internacionais e com MBA em gestão, Fabiana, de 43 anos, conta ainda ter recebido pedidos para nomear "mais de uma centena" de pessoas "sem sequer ver o currículo". E também fala detalhes sobre a crise que culminou em sua saída do governo embaixo de críticas de seu ex-chefe.

O DIA: O que de fato ocorreu para a sua saída?

FABIANA BENTES: A minha saída foi provocada nos meus últimos 30 dias, quando toda a questão de governança e do compliance que havia implementado iria se esvair com o pedido de nomear mais de uma centena de pessoas em cargos comissionados sem sequer eu ver o currículo. O critério técnico foi uma promessa de governo, foi por isso que entrei, foi pela mesma razão que saí.

Por que isso aconteceu?

Era evidente que o aspecto político falava mais alto que o critério profissional. Meus subsecretários não tinham vinculação partidária.

Você se decepcionou com o governador Witzel?

A minha questão com o governador Wilson Witzel foi profissional e de crença em valores apenas profissionais. Decepção, mágoa e outros sentimentos a gente guarda para situações pessoais.

Mas se arrependeu de assumir a secretaria?

De forma alguma. Foi uma experiência incrível corroborar minha capacidade de administração e de interlocução entre lideranças da direita e da esquerda. Meu comportamento sempre foi suprapartidário, apesar de estar filiada a um partido político, ninguém me olhava com este viés. Reforçava desde a transição para a minha equipe que quando você é responsável por implementar políticas públicas o seu patrão é a sociedade, independente de ideologia. Somos funcionários pagos pelo povo, para atender a sua demanda e não as demandas de interesses pessoais de quem quer que seja.

Durante a crise, o governador fez duras críticas ao seu trabalho.

Faz parte da política desmerecer pessoas publicamente para fazer movimentos de caráter partidário e neutralizar potenciais concorrentes. Havia um grande receio por parte do governador de que eu viesse como candidata a prefeita do Rio. Meu nome era citado sem parar no governo pelo trabalho que vinha fazendo. Em maio, sem eu saber, um empresário, em reunião com ele no Palácio Guanabara, pediu pessoalmente que eu viesse como candidata. Eu estava na ante sala do gabinete do governador. Quando acabou a reunião, ele me chamou num canto e disse: "Bloqueia isso!" Tomei até um susto. Por qual razão eu teria que bloquear? Mas, realmente, não estava nos meus planos e disse que não se preocupasse porque eu estava ali para trabalhar. Ele só esqueceu que eu era do partido dele, não concorrente. Mas eu incomodava os planos do partido.

Mas você quer ser candidata a Prefeitura do Rio?

A candidatura é irrelevante. O importante é falarmos menos de pessoas e mais de projetos que tenham objetivos claros que mudem a cultura política e visem o desenvolvimento da cidade. Estou construindo este projeto e tenho confiança que sou um agente de transformação seja na esfera pública ou na iniciativa privada.

Você disse que incomodava os planos do PSC. Que planos são esses?

Não sei. Só sei que eu não estava nos planos (risos). Eu não era da patota.

Você declarou à coluna Informe do Dia que não entrou no governo para fazer politicagem. A que e a quem você se referia?

A ninguém, precisamente. Foi um desabafo geral. Nosso país perde muito em produtividade com a briga dos cargos na administração pública. Esse jogo provoca evidente paralisação de processos, descumprimento do planejamento, atraso na execução orçamentaria e etc.

Por que você pediu intervenção na Fundação Leão XIII?

Com orientação da Procuradoria do Estado, recomendei a intervenção da FIA (Fundação para a Infância e Adolescência) e da Leão XII. Eu estava reticente em assumir sem saber o que estava acontecendo.

A Leão XIII foi alvo de operação da polícia por suspeita de corrupção. O que encontrou lá dentro?

Saiu da minha gestão na primeira semana de governo e foi para a vice-governadoria. Essa é uma pergunta para o vice-governador (Cláudio Castro).

O que você tem feito atualmente?

Atuo como relações institucionais na iniciativa privada em um grupo de lideranças empresariais, continuo me dedicando a governança no esporte, e, claro, ajudando voluntariamente no desenvolvimento de comunidades.