Deputado federal Daniel Silveira - Divulgação
Deputado federal Daniel SilveiraDivulgação
Por CÁSSIO BRUNO
RIO - Daniel Silveira, de 37 anos, deputado federal, bolsonarista e policial militar, foi um dos protagonistas da maior crise até aqui envolvendo a República. Nascido em Petrópolis e eleito com 31.789 votos, está sob ameaça de cassação do mandato. Foi ele quem se infiltrou na reunião do PSL para gravar o colega Delegado Waldir, líder da legenda na Câmara e integrante do grupo de Luciano Bivar, presidente nacional do PSL que briga com Jair Bolsonaro. No áudio, Waldir chamou o presidente de "vagabundo". Dias antes, Silveira, que quebrou a placa em homenagem a Marielle Franco, causou polêmica ao "visitar" o Colégio Pedro II. Em entrevista à Coluna, defende a "censura parcial" contra doutrinação em sala de aula.

O DIA: Por que a crise entre Bolsonaro e o PSL chegou neste ponto?

DANIEL SILVEIRA: O PSL dormiu um teco-teco e acordou um Jumbo. Era um partido pequeno e, de repente, vem para a maior bancada depois do PT. Isso trouxe um fundo partidário monstro e, claro, a sede pelo poder. Mas tem que respeitar quem saiu da sua casa para votar.

O PSL, então, não respeitou o eleitor?

Não. Quando você larga a ideologia para ter cargo e dinheiro, para manter campanhas milionárias... Tudo bem, necessita de dinheiro para poder se eleger. O racha dentro do partido aconteceu por divisão de poder.

A crise é reversível?

Evidente. No momento que eles perceberem que o nosso grupo é coeso também, claro que eles vão ser suprimidos. Vão ser o quê? Vinte deputados e alguns outros de diretório, contra quase toda a população brasileira quase em peso? E o nosso grupo, além de estar coeso, bem planejado, a população está do lado do presidente. Não tem como perder essa guerra. A gente vai alinhar, de uma maneira ou de outra. Se o presidente tiver que sair, saímos com ele. Vamos vencer essa guerra pelo Brasil.

Ele sairá do PSL?

Se tudo der da maneira errada, sairá. Só que eu acredito que não vai chegar neste ponto. Mas existe a hipótese.

Porque, agora, fica a questão da confiança. Um gravando o outro, enfim…

Eu fiz o que deveria ser feito. A minha gravação foi necessária porque era uma coisa contra a República e contra a Presidência. As situações extremas requerem medidas extremas.

De quem foi a ideia do senhor se infiltrar?

Minha e dos filhos do presidente, Flávio e Eduardo, e do (deputado federal Carlos) Jordy… Tínhamos um plano para coletar as informações. Isso é um jogo muito pesado porque ia trazer prejuízo para o Brasil, não tinha jeito.

O senhor não acha imoral? Se infiltrar em uma reunião, gravar sem autorização. E o eleitor?

Uma figura muito séria, Martin Luther King, disse uma vez: "temos o dever moral de desobedecer normas imorais". E isso, para mim, foi uma normal imoral. Se você entra em conluio para a derrubada de poder, evidentemente o outro lado tem que mostrar sua disposição. É uma atitude de fidelidade à República. Por isso foi feito.

A bancada federal do PSL do Rio está dividida. Alguns assinaram a permanência do Delegado Waldir na liderança do partido. É traição ao presidente?

Eles não fizeram por traição. Não perceberam o que estava sendo articulado. Eles não tiveram a leitura que tivemos. Isso está sendo construído de outra maneira, mas não posso falar.

Como assim?

Estamos articulando uma (nova) listagem para apresentá-la. Vamos reapresentar para ficar na liderança.

Quando?

Segunda-feira (hoje).

O senhor acha que crise atrapalhará as eleições municipais, em 2020?

Sim. Contudo, vai estabilizar e, se fosse enfraquecer alguém, seria o PSL. O presidente está tentando mostrar que existe um sistema de compra de poder enquanto a sociedade está pagando.

Se arrepende do episódio do Colégio Pedro II?

De forma alguma. Não foi invasão. Foi ação de prestação de contas. Recebemos denúncias de pais e mães por doutrinação ideológica.

Mas, em nota, os pais e mães repudiaram.

Alguns. Quem denunciou agradeceu. Havia vasto material de doutrinação. Professor é professor. Quando um militante entra em sala, é inadmissível. Tanto "Lula Livre" quanto "Bolsonaro" não devem ser falados.

A reitoria e os pais dos alunos disseram que não havia nada de ideológico.

Temos filmagens e fotos. Tinham murais sobre feminismo e sobre prazer. Aclamação a Paulo Freire: "o meio forma o indivíduo". Uma ideologia marxista. É doutrinação.

Não é censura a atitude?

De maneira nenhuma. Você pode falar sobre Josef Stalin? Pode! Mas adorar ao indivíduo? Podemos falar quem foi Hitler e Holocausto? Sim! Adorar o indivíduo? Não! Essa censura parcial tem que existir.

Censura parcial?

Censura parcial de proibir o imoral.