Edson Santos está no PT desde 1994Divulgação
Por Alexandre Braz
Publicado 01/02/2020 00:00 | Atualizado 03/02/2020 14:14

O PT está dividido no Rio de Janeiro pensando nas eleições municipais de outubro. Uma ala do partido defende a tese de que o melhor caminho é fazer uma coligação com outra sigla. Há outra parte da legenda que deseja a candidatura própria por entender que é o momento de se reafirmar. A segunda opção é defendida pelo ex-deputado federal e ex-ministro Edson Santos que tem trabalhado com correligionários e com aliados em busca do "protagonismo petista". "A eleição de 2020 será uma eleição onde o PT e os demais partidos terão que se apresentar com sua identidade. No caso do Rio, o partido perdeu muito espaço e protagonismo na medida que o partido fez alianças e apoiou candidatos de outras legendas", afirma Edson. Para isso, diz ter um nome definido. "O principal nome no momento é da deputada federal Benedita da Silva". Confira outros trechos da entrevista.

ODIA: Por que o senhor e outros membros do PT são contrários a uma coligação para a eleição de outubro?
EDSON SANTOS: Cada eleição tem uma história, uma característica. Será a primeira eleição após o pleito de 2018, onde eu espero que tenha se encerrado o período político mais difícil da vida do Partido dos Trabalhadores. Nós tivemos vários líderes presos, inclusive a prisão do ex-presidente Lula, o impeachment da presidenta Dilma, O PT viveu sobre um cerco muito intenso do setor judiciário, que acabou impactando a eleitorado. A eleição de 2020 é onde o PT e os demais partidos vão ter que se apresentar com sua identidade, construir bases para a eleição presidencial de 2022. Nós perdemos muito espaço e protagonismo no Rio na medida que o partido fez alianças e apoiou candidatos de outros partidos. Isso afetou muito a representação do PT na capital porque não aparece nem cresce. Nesse momento nós precisamos de ter um candidato, uma candidatura de perfil que dialogue com os setores que foram positivamente impactados pelos governos do PT. Respeito às demais candidaturas de esquerda, mas precisamos apresentar um programa para a cidade. Uma candidatura que está prevista a relação com aquilo que eu chamo de base petista, referenciada ao presidente Lula.

Há dois lados nessa questão. Um lado quer o candidato próprio e o outro quer a coligação com outro membro de outra sigla. Como buscar o entendimento no diretório do partido?
O partido tirou uma calendário de debates que vai ocorrer no mês de março, a cidade foi divididas por áreas e teremos discussões nessas áreas sobre as duas visões. A partir daí haverá um consenso decisório do partido.
 
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Na ideia defendida pelo senhor, qual nome pleitearia a prefeitura do Rio em outubro?
O principal nome no momento é da deputada federal Benedita da Silva, a única do partido no estado, foi senadora da República e governadora. Sua vida política se confunde com a história do PT. A Benedita tem uma grande legitimidade para representar o partido. É uma pessoa capacitada a defender os governos do PT, defender o presidente Lula, coisa que um candidato mesmo que aliado à legenda, teria dificuldade de fazer, uma candidatura que dialogue com setores populares e evangélicos. O Rio tem um grande contingente populacional de evangélicos e a Benedita supre esse predicado que é importante, coisa que o ex-presidente Lula tem dado muita ênfase na estratégia do PT.
 
Não é estranho estabelecer como meta atingir um segmento religioso, apesar da crescente participação de fiéis e religiosos na política?
Não. Uma coisa é você assumir ideias fundamentalistas, de qualquer religião, na sua própria forma política. Mas buscar na disputa política, falando de eleição, buscar dialogar com esse segmento, acho válido. Porque não podemos cair numa postura de discriminação, negar a existência, rejeitar as pessoas porque tem uma fé numa determinada religião. Eu acho que dialogar com esse segmento, a partir do que nós acreditamos de um estado governado com uma coalizão que tem a questão da solidariedade como marca, acho que é positivo.
 
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Quem defende uma candidatura com aliança aponta qual candidato?
Com o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).
 
E o senhor acredita que Freixo não tem os mesmo ideais esquerdistas que o PT?
Ele tem um outro tipo de perfil, dialoga com segmentos médios da cidade do Rio. Eu o considero um excelente parlamentar. É legítima a candidatura dele e o diálogo com essa base dele. Mas o PT precisa buscar o seu caminho, buscar ter nitidez política de restabelecer um protagonismo na cidade, na política, na capital. O PT hoje têm uma postura de coadjuvante. Ou está aliado com um ou está aliado com outro.
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O senhor falou em perda de protagonismo, afastamento do seu eleitorado e prisão de seus líderes. Onde o PT errou para chegar a esse ponto?
Acredito que o problema foram as virtudes do PT. Na verdade é isso. Até porque as acusações que foram feitas aos líderes e membros do nosso partido não se confirmaram. Não há nenhuma conta de qualquer membro do nosso partido que tenha sido encontrada na Suíça ou em qualquer outro lugar do mundo. Pela devassa que foi feita na vida deles e em nossa organização seja pelo Ministério Público seja pela Polícia Federal, em parceria com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, seria impossível - caso houvesse alguma irregularidade -, que eles não tivessem vindo à luz com a materialidade necessária (que provasse as denúncias). Então, tendo em vista isso, o PT foi o partido político mais perseguido da história do Brasil. Isso se dá de forma implacável. Uma perseguição no sentido de inviabilizar a sua volta ao cenário nacional na condição de eleger um presidente da República. O que nos levou à derrota foram os nossos acertos. Acerto em elevar o nível de vida da população, de mudar o perfil das universidades públicas, que têm hoje uma quantidade expressiva de negros e pobres, de possibilitar as viagens de avião, a regularização dos empregados domésticos. Esse ódio se deu pelas nossas políticas públicas, que conferiu cidadania aos menos favorecidos.

Então, na opinião do senhor, o PT não falhou em momento algum?
Se for para eu apontar uma falha, eu diria que foi o de não termos percebido o tamanho da ofensiva anti petista, não termos percebido ali no calor da batalha o tamanho da ofensiva, qual era a estratégia dos nossos adversários, que era de excluir o PT da política. Não nos preparamos para aqueles embates. Isso talvez tenha sido uma falha nossa.

A decisão de ter ou não candidato próprio envolve o diretório nacional?
Sim. Envolve até o nacional, porque o Rio é uma capital, uma das cidades mais importantes do país, até em relação ao pensamento do Brasil, ela tem um peso muito grande. A direção nacional vai se envolver nessa discussão. Espero que nós tenhamos a capacidade de convencer os demais companheiros de que a candidatura própria é o melhor caminho para o partido retomar o protagonismo no estado.

O senhor disse que o PT precisa resgatar o protagonismo e se reaproximar do seu público. O PT ainda é o Partido dos Trabalhadores?
É claro. É lógico que o perfil do trabalhador no Brasil não é o mesmo da época em que o PT foi fundado (em 1980). Naquela ocasião tínhamos dezenas de milhares de pessoas trabalhando em fábricas de automóveis no ABC Paulista. Isso foi reduzido devido aos processos de automação no processo de produção, por exemplo. Hoje há uma "uberização", uma precarização. Isso traz um reflexo grande na seguridade social, na proteção de trabalhadores e aposentados. Mudou o perfil, mas continuamos fiéis ao nosso ideal de representar o trabalhador, ele está exposto. O Brasil tem que dar conta disso. O Rio perdeu seus estaleiros. Onde estão os funcionários do estaleiros, das empresas terceirizadas da Petrobrás? Há uma precarização. A classe trabalhadora mudou e o PT está mudando com ela.

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