Publicado 23/08/2020 06:00
A deputada estadual Renata Souza é cria da Maré, feminista negra e defensora dos direitos humanos. Formada em Jornalismo pela PUC-Rio, Doutora e Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ; foi eleita por 63.937 pessoas. Sua vitória política e eleitoral foi conduzida coletivamente. É a mais votada da esquerda no Rio de Janeiro. Sua atuação legislativa é realizada há mais de dez anos ao lado de Marcelo Freixo, na Alerj, e Marielle Franco, na Câmara do Rio. O jornal O Dia promoveu lives com os pré-candidatos à Prefeitura do Rio. A única que não foi entrevistada, Renata Souza, expressa aqui suas opiniões sobre poltica.
Qual é o significado da sua pré-candidatura no cenário político da cidade do Rio de Janeiro?
Esperança é, sem dúvida, o maior significado. Ainda vivemos as profundas consequências do ciclo PMDB de Paes, Cabral e Pezão, lideranças que somaram forças para saquear os cofres do Estado e deixar um legado que não se manteve em pé, em uma cidade cara para se viver. Na sequência, caímos nas mãos de um prefeito que tem preconceito com as manifestações populares cariocas, como Carnaval, e que se alinha agora à política de morte, do ódio e negacionismo que piorou ainda mais as consequências da Covid-19. O povo precisa estar na Prefeitura. O Rio terá o rosto, o corpo e a disposição de uma mulher preta, feminista, favelada e doutora como protagonista da disputa por uma cidade de direitos. Precisamos mover as estruturas dessa cidade com ousadia e responsabilidade.
Em que o seu programa de governo é diferente dos demais?
Eu vivi as mazelas da cidade. Frequentei a escola pública, sempre fui atendida pelo SUS, só usava transporte público. Eu mesma bati a laje da minha casa na favela e, graças a um pré-vestibular comunitário na Maré, consegui entrar na universidade. Hoje tenho pós-doutorado. Mais do que os outros pré-candidatos nesta eleição, sei o quanto a ação do poder público pode melhorar - ou piorar - a vida das pessoas, principalmente as mais pobres. Sou a favor de um Estado presente e atuante, que não entrega à iniciativa privada o essencial para uma vida digna. Meu programa é todo pensado em diminuir desigualdades, sem compactuar com esquemas e enriquecer grupos que assumiram e geriram uma boa parte da administração da cidade de forma incompetente, como vimos nas gestões Paes e Crivella.
A senhora se apresenta como feminista negra, cria da Maré e defensora dos direitos humanos. Para as pessoas que se identificam com este perfil, no dia a dia do povo da periferia, o que é mais difícil?
O mais difícil é se manter vivo. Hoje, a maior ameaça concreta é o coronavírus, os números por si só falam a tragédia que está sendo esse vírus mortal para a população pobre. Segundo os estudos, quase 80% dos 6.735 óbitos registrados na capital até o dia 13 de junho ocorreram nas áreas mais pobres da cidade. Outra ameaça aos mais pobres, que em sua maioria é negra, é o racismo. O racismo explica o descaso do Estado com a vida das pessoas nesses territórios, permite que crianças sejam mortas, dentro de casa como foi o João Pedro, dentro da escola como a Maria Eduarda, ou na volta para casa como a Agatha. Infelizmente, as páginas desse jornal seriam insuficientes para todos os nomes. A falta de saneamento básico, de atendimento médico decente, de educação de qualidade, faz parte do projeto que mata todo dia a população negra.
Seus adversários mais à direita dizem que a senhora defende traficantes. Como a senhora reage a estes ataques?
Na última vez que isso aconteceu, foi no plenário da Assembleia Legislativa. Eu e a deputada Monica Francisco fizemos uma representação contra o deputado do Partido Novo que fez essa declaração fruto de preconceito. Quem faz qualquer declaração leviana como essa não conhece e nem nunca pisou em uma favela. Não vou me intimidar com esse discurso populista fácil, racista que, diariamente, associa a população preta e favela, que mantém essa cidade de pé com o seu trabalho, à criminalidade. Reagimos e reagirei recorrendo à Justiça, porque acredito nas instituições, porque eu defendo a lei. Defendo a Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei, que todos têm direito à defesa. A defesa à Constituição, e nada tem a ver com a impunidade, pelo contrário, é o respeito à Justiça, é a defesa aos direitos humanos.
O assassinato de Marielle Franco será tema da campanha municipal?
A vida política da Marielle é o símbolo de compromisso com o bem público no Rio. Vamos colocar em prática suas leis, como a criação das Casas de Parto e também a assistência técnica para moradias populares. Crivella não regulamentou essas leis por falta de vontade política. Marielle deixou um legado de políticas para a redução da mortalidade materna e infantil para a cidade. Além de apontar para um processo habitacional importante com a assistência técnica. Marielle presente para mim e para o povo do Rio não é uma hashtag, é um compromisso de ação política para a defesa da vida das mulheres negras. Precisamos reconhecer que o seu assassinato, além de doloroso e antidemocrático, deixou a política no Rio órfã. Além, é claro, de denunciarmos a violência política para que essa barbárie não volte a ocorrer. Queremos justiça.
Quais são as suas suspeitas sobre o assassinato de Marielle?
Não cabe a mim especular sobre isso. Eu vejo muito descaso das autoridades nas investigações, mas eu sigo confiando nas instituições, que devem estas respostas ao povo brasileiro. A polícia já prendeu os executores, mas é fundamental que os mandantes sejam desvendados e punidos. Enquanto o feminicídio político de Marielle não for desvendado, a democracia e toda figura pública (em especial as mulheres negras) seguem correndo riscos.
Qual o maior sofrimento do favelado que poderia mudar numa eventual vitória da sua candidatura?
A desumanização diária, quando precisa de atendimento médico, de transporte público, de creche, de saneamento básico. A solidariedade que sempre me foi ensinada na favela deve ser lanterna no caminho que trilharemos, principalmente no pós-pandemia. É preciso ousadia para recuperar a cidade da crise econômica e torná-la um espaço de bem-estar para todas e todos.
O que é ser de esquerda hoje no Rio de Janeiro?
É, antes de mais nada, ser solidário com o próximo e ter empatia com aqueles que mais precisam. É lutar contra todo esse desgoverno autoritário que coloca interesses econômicos acima do bem estar e da vida das pessoas. É não se calar quando ver o prefeito colocando um tomógrafo no pátio da igreja ao invés do equipamento médico da prefeitura na comunidade, como aconteceu na Rocinha. É encontrar estratégias para garantir a preservação da vida dos mais pobres como a lei de minha autoria junto com outros deputados que garantiu R$ 20 milhões da Alerj para que a Fiocruz possa combater a Covid-19 nas favelas. É combater toda essa ameaça autoritária, esse discurso de ódio, é lutar por uma sociedade com igualdade de direitos e oportunidades.
Sua vitória política e eleitoral foi conduzida coletivamente. Será diferente a condução da sua campanha?
De forma alguma. Vamos construir coletivamente um programa que efetivamente combata as desigualdades sociais e contemple as demandas efetivas da população. Preciso de toda população do Rio de Janeiro comigo para construir um “Rio de gente”.
Qual é o significado da sua pré-candidatura no cenário político da cidade do Rio de Janeiro?
Esperança é, sem dúvida, o maior significado. Ainda vivemos as profundas consequências do ciclo PMDB de Paes, Cabral e Pezão, lideranças que somaram forças para saquear os cofres do Estado e deixar um legado que não se manteve em pé, em uma cidade cara para se viver. Na sequência, caímos nas mãos de um prefeito que tem preconceito com as manifestações populares cariocas, como Carnaval, e que se alinha agora à política de morte, do ódio e negacionismo que piorou ainda mais as consequências da Covid-19. O povo precisa estar na Prefeitura. O Rio terá o rosto, o corpo e a disposição de uma mulher preta, feminista, favelada e doutora como protagonista da disputa por uma cidade de direitos. Precisamos mover as estruturas dessa cidade com ousadia e responsabilidade.
Em que o seu programa de governo é diferente dos demais?
Eu vivi as mazelas da cidade. Frequentei a escola pública, sempre fui atendida pelo SUS, só usava transporte público. Eu mesma bati a laje da minha casa na favela e, graças a um pré-vestibular comunitário na Maré, consegui entrar na universidade. Hoje tenho pós-doutorado. Mais do que os outros pré-candidatos nesta eleição, sei o quanto a ação do poder público pode melhorar - ou piorar - a vida das pessoas, principalmente as mais pobres. Sou a favor de um Estado presente e atuante, que não entrega à iniciativa privada o essencial para uma vida digna. Meu programa é todo pensado em diminuir desigualdades, sem compactuar com esquemas e enriquecer grupos que assumiram e geriram uma boa parte da administração da cidade de forma incompetente, como vimos nas gestões Paes e Crivella.
A senhora se apresenta como feminista negra, cria da Maré e defensora dos direitos humanos. Para as pessoas que se identificam com este perfil, no dia a dia do povo da periferia, o que é mais difícil?
O mais difícil é se manter vivo. Hoje, a maior ameaça concreta é o coronavírus, os números por si só falam a tragédia que está sendo esse vírus mortal para a população pobre. Segundo os estudos, quase 80% dos 6.735 óbitos registrados na capital até o dia 13 de junho ocorreram nas áreas mais pobres da cidade. Outra ameaça aos mais pobres, que em sua maioria é negra, é o racismo. O racismo explica o descaso do Estado com a vida das pessoas nesses territórios, permite que crianças sejam mortas, dentro de casa como foi o João Pedro, dentro da escola como a Maria Eduarda, ou na volta para casa como a Agatha. Infelizmente, as páginas desse jornal seriam insuficientes para todos os nomes. A falta de saneamento básico, de atendimento médico decente, de educação de qualidade, faz parte do projeto que mata todo dia a população negra.
Seus adversários mais à direita dizem que a senhora defende traficantes. Como a senhora reage a estes ataques?
Na última vez que isso aconteceu, foi no plenário da Assembleia Legislativa. Eu e a deputada Monica Francisco fizemos uma representação contra o deputado do Partido Novo que fez essa declaração fruto de preconceito. Quem faz qualquer declaração leviana como essa não conhece e nem nunca pisou em uma favela. Não vou me intimidar com esse discurso populista fácil, racista que, diariamente, associa a população preta e favela, que mantém essa cidade de pé com o seu trabalho, à criminalidade. Reagimos e reagirei recorrendo à Justiça, porque acredito nas instituições, porque eu defendo a lei. Defendo a Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei, que todos têm direito à defesa. A defesa à Constituição, e nada tem a ver com a impunidade, pelo contrário, é o respeito à Justiça, é a defesa aos direitos humanos.
O assassinato de Marielle Franco será tema da campanha municipal?
A vida política da Marielle é o símbolo de compromisso com o bem público no Rio. Vamos colocar em prática suas leis, como a criação das Casas de Parto e também a assistência técnica para moradias populares. Crivella não regulamentou essas leis por falta de vontade política. Marielle deixou um legado de políticas para a redução da mortalidade materna e infantil para a cidade. Além de apontar para um processo habitacional importante com a assistência técnica. Marielle presente para mim e para o povo do Rio não é uma hashtag, é um compromisso de ação política para a defesa da vida das mulheres negras. Precisamos reconhecer que o seu assassinato, além de doloroso e antidemocrático, deixou a política no Rio órfã. Além, é claro, de denunciarmos a violência política para que essa barbárie não volte a ocorrer. Queremos justiça.
Quais são as suas suspeitas sobre o assassinato de Marielle?
Não cabe a mim especular sobre isso. Eu vejo muito descaso das autoridades nas investigações, mas eu sigo confiando nas instituições, que devem estas respostas ao povo brasileiro. A polícia já prendeu os executores, mas é fundamental que os mandantes sejam desvendados e punidos. Enquanto o feminicídio político de Marielle não for desvendado, a democracia e toda figura pública (em especial as mulheres negras) seguem correndo riscos.
Qual o maior sofrimento do favelado que poderia mudar numa eventual vitória da sua candidatura?
A desumanização diária, quando precisa de atendimento médico, de transporte público, de creche, de saneamento básico. A solidariedade que sempre me foi ensinada na favela deve ser lanterna no caminho que trilharemos, principalmente no pós-pandemia. É preciso ousadia para recuperar a cidade da crise econômica e torná-la um espaço de bem-estar para todas e todos.
O que é ser de esquerda hoje no Rio de Janeiro?
É, antes de mais nada, ser solidário com o próximo e ter empatia com aqueles que mais precisam. É lutar contra todo esse desgoverno autoritário que coloca interesses econômicos acima do bem estar e da vida das pessoas. É não se calar quando ver o prefeito colocando um tomógrafo no pátio da igreja ao invés do equipamento médico da prefeitura na comunidade, como aconteceu na Rocinha. É encontrar estratégias para garantir a preservação da vida dos mais pobres como a lei de minha autoria junto com outros deputados que garantiu R$ 20 milhões da Alerj para que a Fiocruz possa combater a Covid-19 nas favelas. É combater toda essa ameaça autoritária, esse discurso de ódio, é lutar por uma sociedade com igualdade de direitos e oportunidades.
Sua vitória política e eleitoral foi conduzida coletivamente. Será diferente a condução da sua campanha?
De forma alguma. Vamos construir coletivamente um programa que efetivamente combata as desigualdades sociais e contemple as demandas efetivas da população. Preciso de toda população do Rio de Janeiro comigo para construir um “Rio de gente”.
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