Publicado 24/12/2020 05:00 | Atualizado 24/12/2020 19:45
A situação do Rio é difícil. Para o prefeito que chega corrigir os erros do que já saiu, terá que se valer de um recurso posto de lado nos últimos anos: a velha e boa política.
A operação policial da terça-feira passada, que resultou na prisão do prefeito Marcelo Crivella e de outros cinco acusados de corrupção, foi o desfecho de um ano que passará para a história como um dos mais trágicos da história do Rio de Janeiro. Por decisão do Tribunal de Justiça, que autorizou a ação policial, o prefeito foi afastado do cargo apenas nove dias antes do fim de seu mandato. Em prisão domiciliar por ordem do STJ, Crivella não poderá comparecer à solenidade da posse de seu sucessor, Eduardo Paes.
Não é o caso de discutir aqui as circunstâncias da operação nem de falar da culpa ou da inocência de Crivella. O importante é dizer que o afastamento, neste momento, não torna mais leve nem mais pesado o desafio que aguarda seu sucessor. Na reta final do mandato, nada poderá ser feito pelo presidente da Câmara Municipal, Jorge Felipe (DEM), que assumiu o cargo vago, para entregar a Paes uma cidade com menos problemas do que tinha no dia em que o prefeito foi afastado.
SEM AGLOMERAÇÕES! — A situação do Rio de Janeiro, como todo carioca sabe, é delicada. Como se não bastassem os equívocos administrativos que deixaram a cidade e o estado em situação de calamidade, o coronavírus ainda veio piorar um ano que teria sido ruim mesmo sem ela. Por causa da pandemia, este ano não contará sequer com o espetáculo da queima de fogos que sempre marcou o réveillon na orla.
É melhor que seja assim. Por mais que seja tentador sair de casa e se juntar na praia para se livrar das energias negativas de 2020, tudo o que o carioca não precisa é de uma aglomeração que aumente a contaminação e sobrecarregue ainda mais um sistema de saúde pública que já está em colapso.
TEMPO PROMISSOR — A situação é difícil. Ainda assim, é possível encontrar entre os escombros deixados por uma crise que vinha se desenhando há anos, motivos para acreditar que, mesmo sem os fogos para lhe dar as boas vindas, o ano que está chegando será melhor do que este que está para acabar. E, com os olhos voltados para 2021, lembrar os versos da velha marcha-rancho de Humberto Silva e Paulo Sette e dizer: “Este ano não vai ser igual àquele que passou”.
A mudança de administração pode ser a chave de um tempo mais promissor — mas quem imaginar que a troca do prefeito será suficiente para restituir o ânimo da cidade está muito enganado. Mas é preciso dar um voto de confiança ao novo prefeito: Eduardo Paes conhece como poucos a máquina pública municipal e justamente por isso sabe não pode vender ilusões. A prefeitura que ele assumirá no dia 1º de janeiro, está em frangalhos e ele precisa de todos para reergue-la. Inclusive do governo Federal e do estadual.
PREOCUPAÇÃO COM O PRESENTE — A cidade tem pressa. Se o novo prefeito não apontar uma saída rápida para os problemas mais evidentes (entre os quais, os salários atrasados e a deficiência do serviço municipal de saúde), logo terá contra ele as mesmas vozes que, hoje, aplaudem sua chegada. Se é assim, onde estão as razões para acreditarmos que 2021 será melhor do que 2020?
Bem... Deixando de lado a preocupação com a pandemia, que é mundial, o Rio precisa encontrar na boa e velha política as forças capazes de gerar os resultados que a população cobra com urgência. E, se existe uma característica evidente na trajetória de Paes, é a de que ele não apenas gosta da política como sabe praticá-la. Além disso, é um bom administrador.
PARA ONTEM — Por ter começado muito cedo a carreira como gestor público (tinha 23 anos quando assumiu a Sub-Prefeitura da Barra da Tijuca, nomeado por César Maia), Paes acabou se tornando, jovem ainda, um dos mais experientes administradores públicos do Brasil. E essa experiência será essencial para que o Rio possa inaugurar, em 2021, uma nova era. Uma era que deixe para trás a tristeza que, nos últimos anos, tomou conta de uma cidade conhecida por seu espírito feliz e otimista.
A sugestão a ser dada neste momento é simples: o Rio precisa viver no presente e todas as forças políticas do município e do estado precisam entender a gravidade da situação e saber que, se cada um continuar cuidando apenas dos próprios interesses, o problema se agravará ainda mais. Todos precisam trabalhar juntos. Sejam de direita ou de esquerda, simpáticos ou não ao presidente Jair Bolsonaro, interessados ou não em disputador o governo do estado, precisam entender que ainda não é hora de se preocupar com 2022. Os problemas do Rio não são para amanhã; são para ontem.
MÃOS NA MASSA — O problema mais grave e urgente de todos é a falta de dinheiro. Os cofres estão limpos, as contas se acumulam e, sem recursos, não será possível colocar os salários dos servidores em dia nem recuperar os estragos do sistema público de saúde. Da mesma forma, porém, é preciso saber que de nada adiantará conseguir uma ajuda emergencial dos governos federal e estadual e continuar gastando o dinheiro com a mesma falta de critérios que se gastou até hoje. É preciso promover uma ampla reforma administrativa, que reduza o custo da máquina, e encontrar novas formas de se obter recursos.
O Rio de Janeiro não conseguirá dinheiro na quantidade que necessita se não obtiver autorização para contrair empréstimos em caráter emergencial e, com isso, conseguir o dinheiro para pagar as obrigações mais urgentes. Da mesma forma, não conseguirá dotar a administração municipal da eficiência necessária se não recorrer às Parcerias Público Privadas. Com elas, a prefeitura, ao invés de ser cobrada pela qualidade do serviço público, a prefeitura passará a exigir que a população seja bem atendida.
Não há nada de original nessas medidas — e para saber se darão certo ou não só existe um caminho. Por as mãos na massa e começar logo a trabalhar. E já!
Feliz Natal e um ótimo 2021!
A operação policial da terça-feira passada, que resultou na prisão do prefeito Marcelo Crivella e de outros cinco acusados de corrupção, foi o desfecho de um ano que passará para a história como um dos mais trágicos da história do Rio de Janeiro. Por decisão do Tribunal de Justiça, que autorizou a ação policial, o prefeito foi afastado do cargo apenas nove dias antes do fim de seu mandato. Em prisão domiciliar por ordem do STJ, Crivella não poderá comparecer à solenidade da posse de seu sucessor, Eduardo Paes.
Não é o caso de discutir aqui as circunstâncias da operação nem de falar da culpa ou da inocência de Crivella. O importante é dizer que o afastamento, neste momento, não torna mais leve nem mais pesado o desafio que aguarda seu sucessor. Na reta final do mandato, nada poderá ser feito pelo presidente da Câmara Municipal, Jorge Felipe (DEM), que assumiu o cargo vago, para entregar a Paes uma cidade com menos problemas do que tinha no dia em que o prefeito foi afastado.
SEM AGLOMERAÇÕES! — A situação do Rio de Janeiro, como todo carioca sabe, é delicada. Como se não bastassem os equívocos administrativos que deixaram a cidade e o estado em situação de calamidade, o coronavírus ainda veio piorar um ano que teria sido ruim mesmo sem ela. Por causa da pandemia, este ano não contará sequer com o espetáculo da queima de fogos que sempre marcou o réveillon na orla.
É melhor que seja assim. Por mais que seja tentador sair de casa e se juntar na praia para se livrar das energias negativas de 2020, tudo o que o carioca não precisa é de uma aglomeração que aumente a contaminação e sobrecarregue ainda mais um sistema de saúde pública que já está em colapso.
TEMPO PROMISSOR — A situação é difícil. Ainda assim, é possível encontrar entre os escombros deixados por uma crise que vinha se desenhando há anos, motivos para acreditar que, mesmo sem os fogos para lhe dar as boas vindas, o ano que está chegando será melhor do que este que está para acabar. E, com os olhos voltados para 2021, lembrar os versos da velha marcha-rancho de Humberto Silva e Paulo Sette e dizer: “Este ano não vai ser igual àquele que passou”.
A mudança de administração pode ser a chave de um tempo mais promissor — mas quem imaginar que a troca do prefeito será suficiente para restituir o ânimo da cidade está muito enganado. Mas é preciso dar um voto de confiança ao novo prefeito: Eduardo Paes conhece como poucos a máquina pública municipal e justamente por isso sabe não pode vender ilusões. A prefeitura que ele assumirá no dia 1º de janeiro, está em frangalhos e ele precisa de todos para reergue-la. Inclusive do governo Federal e do estadual.
PREOCUPAÇÃO COM O PRESENTE — A cidade tem pressa. Se o novo prefeito não apontar uma saída rápida para os problemas mais evidentes (entre os quais, os salários atrasados e a deficiência do serviço municipal de saúde), logo terá contra ele as mesmas vozes que, hoje, aplaudem sua chegada. Se é assim, onde estão as razões para acreditarmos que 2021 será melhor do que 2020?
Bem... Deixando de lado a preocupação com a pandemia, que é mundial, o Rio precisa encontrar na boa e velha política as forças capazes de gerar os resultados que a população cobra com urgência. E, se existe uma característica evidente na trajetória de Paes, é a de que ele não apenas gosta da política como sabe praticá-la. Além disso, é um bom administrador.
PARA ONTEM — Por ter começado muito cedo a carreira como gestor público (tinha 23 anos quando assumiu a Sub-Prefeitura da Barra da Tijuca, nomeado por César Maia), Paes acabou se tornando, jovem ainda, um dos mais experientes administradores públicos do Brasil. E essa experiência será essencial para que o Rio possa inaugurar, em 2021, uma nova era. Uma era que deixe para trás a tristeza que, nos últimos anos, tomou conta de uma cidade conhecida por seu espírito feliz e otimista.
A sugestão a ser dada neste momento é simples: o Rio precisa viver no presente e todas as forças políticas do município e do estado precisam entender a gravidade da situação e saber que, se cada um continuar cuidando apenas dos próprios interesses, o problema se agravará ainda mais. Todos precisam trabalhar juntos. Sejam de direita ou de esquerda, simpáticos ou não ao presidente Jair Bolsonaro, interessados ou não em disputador o governo do estado, precisam entender que ainda não é hora de se preocupar com 2022. Os problemas do Rio não são para amanhã; são para ontem.
MÃOS NA MASSA — O problema mais grave e urgente de todos é a falta de dinheiro. Os cofres estão limpos, as contas se acumulam e, sem recursos, não será possível colocar os salários dos servidores em dia nem recuperar os estragos do sistema público de saúde. Da mesma forma, porém, é preciso saber que de nada adiantará conseguir uma ajuda emergencial dos governos federal e estadual e continuar gastando o dinheiro com a mesma falta de critérios que se gastou até hoje. É preciso promover uma ampla reforma administrativa, que reduza o custo da máquina, e encontrar novas formas de se obter recursos.
O Rio de Janeiro não conseguirá dinheiro na quantidade que necessita se não obtiver autorização para contrair empréstimos em caráter emergencial e, com isso, conseguir o dinheiro para pagar as obrigações mais urgentes. Da mesma forma, não conseguirá dotar a administração municipal da eficiência necessária se não recorrer às Parcerias Público Privadas. Com elas, a prefeitura, ao invés de ser cobrada pela qualidade do serviço público, a prefeitura passará a exigir que a população seja bem atendida.
Não há nada de original nessas medidas — e para saber se darão certo ou não só existe um caminho. Por as mãos na massa e começar logo a trabalhar. E já!
Feliz Natal e um ótimo 2021!
Leia mais
Comentários