Projota lança nova música - Pedro Dimitrow/Divulgação
Projota lança nova músicaPedro Dimitrow/Divulgação
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EM PLENA CAMPANHA para eleger quem vai comandar o Brasil, Projota lança 'Sr. Presidente'. A música fala sobre a situação difícil vivida pelos brasileiros. Na entrevista a seguir, o rapper conta que não vota em Bolsonaro. "Essa eleição é muito difícil e eu espero que as pessoas tenham bastante consciência na hora de votar. Não acho que estamos bem representados. E acho que todo mundo está com essa sensação". O cantor afirma que está satisfeito com suas conquistas profissionais e que agora pensa em ter uma família: ele acaba de reatar o noivado com Tâmara Contro.

O que você quer trazer ao seu público com 'Sr Presidente'?

Eu acredito que não seja bem trazer, né? Mas sim representar o meu público. Recebo muitas mensagens pedindo para que eu fale sobre isso. Então, eu sempre faço essas músicas que falam sobre política, sobre a realidade da nossa sociedade e mais uma vez eu venho representar o que meu público pensa. A grande maioria dele representa uma parte do Brasil que está desamparada, se sentindo sem uma representação política, e "Sr. Presidente" fala exatamente sobre isso. Ela fala com quem vier a ser o novo presidente, que a situação está difícil e que a gente está de olho.

Não teme pela repercussão dessa música em ano de eleição?

De forma alguma! Nós todos temos o direito de protestar. E esta música é um protesto, não é mera coincidência ser lançada no ano da eleição. Eu costumo escrever sobre política. Esse ano fiz 'MayDay', assim como 'O Portão do Céu'. Não é uma coincidência esse rap sair esse ano. A partir do momento que eu compus a música eu sabia que tinha que lançar na próxima eleição, porque é a hora de conversar com o Brasil, com o povo e com os representantes.

E no clipe? Teremos imagens que remetem ao descaso enfrentado pelo nosso país?

Sim. Em um momento do clipe eu estou em uma sala e existem várias projeções de matérias sobre toda a história política do Brasil. Essa música não fala só de agora. A gente tem enfrentado dificuldades, principalmente os mais pobres, desde o início da democracia. Essa é uma música para todos os presidentes, de todos os tempos.

O que te levou a produzir algo assim?

A mesma coisa que me levou a cantar rap desde os 15 anos de idade. Essa vontade de falar sobre o que precisa ser dito, uma necessidade de gritar e protestar.

Acha que com esse novo trabalho vai conseguir conscientizar o povo politicamente falando?

Eu não sei. A gente faz a nossa parte. O 'Racionais MC's' faz e fez já tantos anos a parte deles, cada artista faz a sua. No meu caso, a música é o que eu posso fazer de melhor. Eu espero que ela provoque as pessoas, mexa com elas, estimule a reflexão. Essa eleição é muito difícil e eu espero que as pessoas tenham bastante consciência na hora de votar.

Acha que com os candidatos que temos hoje estamos bem representados?

Não acho que estejamos bem representados. E acho que todo mundo está com essa sensação. Converso com as pessoas de todos os lugares, todas as idades, e a grande maioria está desamparada e não sabe em quem votar. Eu mesmo ainda não sei. O que eu quero é que as pessoas tenham consciência, pesquisem sobre cada candidato com calma. Eu não tenho como apontar para eles uma direção. O que posso fazer é pedir para que pensem bem. Mas, no fim das contas, é uma democracia e a gente tem que respeitar a escolha de cada um.

Qual deles você não votaria de jeito nenhum e por quê?

Eu não voto no Bolsonaro porque, entre todos os candidatos, é o que deu mais declarações que vão contra as coisas que eu penso. Somente por isso. Mesmo que ele venha a vencer, eu sei respeitar as pessoas que votam, tenho que respeitar as outras visões.

Você é um poeta moderno?

Sim, sou um poeta desde muito novo, desde meus 11 anos eu já gostava muito de escrever. Até hoje escrevo poesias que não são musicadas, mas, com certeza, as músicas são poesias e eu tenho muita honra disso. Tenho muita honra de me sentir um poeta.

Você faz muitas parcerias. Existe algum critério na escolha de quem convidar pra cantar com você?

O critério que eu adoto é exatamente fazer música com quem eu admiro, com pessoas que eu gosto e de quem eu curto o som. Parece até meio clichê, mas para mim é isso o que conta, né? Se identificar musicalmente, curtir o trabalho da pessoa e enxergar a possibilidade de sintonizar a minha música com a da pessoa.

Essas parcerias são bem ecléticas, inclusive. Porque resolveu apostar em outras vertentes da música?

Eu sempre ouvi de tudo. Cresci ouvindo rock, samba, MPB e sertanejo por influência do meu pai. No carro, eu ouço rádio, então estou sempre por dentro do que está tocando. Algumas eu gosto, outras, nem tanto, naturalmente as parcerias foram surgindo.

A sua música é feita para quebrar padrões e preconceitos?

Com certeza. Eu sempre falo sobre isso nas músicas, enfrentando o preconceito classista e o racial também. Por ter vindo de família pobre, frequentar certos lugares era muito difícil, as pessoas olhavam torto, era sempre enquadrado na rua. Então a música acaba sendo um desabafo, uma válvula de escape para falar sobre as coisas que eu sinto e vivo, e outras pessoas se identificam pois sentem o mesmo que eu.

Quem são suas referências na música?

Como o rock foi minha primeira referência, e o ritmo que eu cresci ouvindo, me inspiro em Renato Russo, Cazuza, Chorão. Quando comecei a ouvir rap, veio 2Pac, que tem muitas músicas que conversam comigo sobre superação, acreditar em você mesmo, e tem também Racionais MC's, Gabriel Pensador, MV Bill, Marcelo D2, todos eles têm muita música que conversam comigo, que me impulsionaram para uma direção. Eu segui esse caminho graças a essas músicas, e as mensagens que estavam contidas nelas.

Muitas mulheres se identificam com o seu trabalho. Como o público feminino enxerga tua arte?

Desde o inicio, quando eu gravava as músicas em casa e divulgava pelo Orkut, eu fiz músicas românticas. Com o tempo, algumas dessas músicas acabaram se destacando e, mais pra frente, entraram no rádio. Isso fez com que elas fossem chegassem até muitas pessoas. As músicas românticas se tornaram mais populares, atingiram um público que nem escuta rap e, por causa disso, acabou conhecendo o meu trabalho. E começa também a ouvir outros tipos de rap, até outros artistas, isso é muito bacana. Eu fico muito feliz por ter mulheres acompanhando meu trabalho, desde o início divulgaram muito meu trabalho, foi muito importante pra mim. Fico feliz pela quantidade de mulheres fazendo rap hoje, temos várias representantes femininas, sempre tivemos, mas hoje temos um número bem grande, Drik Barbosa, Karol Conka, Flora Matos, a Negra Li que já está aí há bastante tempo, Cynthia Luz, Stefanie, tem várias, isso é muito bom.

Qual seu maior sonho hoje?

Meu maior sonho, nem envolve minha carreira, na verdade é criar uma família, ter filhos, a música é minha profissão, faz meu olho brilhar. Eu já conquistei tudo que eu esperava pela música, eu continuo fazendo música, entregando meu dom e minha arte para as pessoas, tudo que Deus fala para eu fazer, vou lá e faço, mas meu maior sonho entra mais na questão pessoal do que na profissional.

Você já fez um filme. Pensa em investir na carreira de ator ou é só um hobby?

Eu fiz um filme e participei da minissérie 'Carcereiros'. É algo surreal na minha vida, fez toda a diferença ter aprendido esse processo, começar algo depois dos 30 anos. Eu canto desde os 15 anos e, de repente, você começa algo do zero. Fiz com maior prazer e tenho sim vontade de fazer mais coisa, o que me falta é tempo para estudar, mas sempre que eu tiver essa oportunidade, vou participar de workshops e oficinas para poder aprender mais. Atuar foi uma das grandes alegrias da minha vida.

Foi difícil chegar até aqui?

Foi muito difícil chegar até aqui, muito mesmo. Todo dia pensava em desistir, o dinheiro não entrava, cantei por oito anos pra receber meu primeiro cachêzinho: R$ 90 (risos). Esses oito anos foram bem difíceis e depois o começo também, mesmo quando comecei a receber pra cantar. Tive conta atrasada, aluguel... Hoje eu agradeço a Deus por estar aqui onde estou e poder ajudar a minha família.

Pode resumir um pouco do seu passado antes da fama?

Eu cresci na periferia de São Paulo, zona norte, eu era rueiro demais, brincando de todo tipo de coisas, curtindo junto com meus amigos e aproveitei muito a minha adolescência. Antes da fama também, o rap quando chegou, eu me entreguei. Depois ganhei bolsa para faculdade e fiz educação física, trabalhei com um monte de coisa, balconista, estamparia, secretário numa escola, curso de administração, fiz de tudo e até as coisas darem certo na música.

Você é viciado em videogame?

Sim, sou completamente viciado em videogame. (risos)

É um nerd no quesito game play?

Eu sou um nerd em todos os quesitos (risos). Eu gosto de videogame, gosto de série, filmes, hq's, animes, várias coisas relacionas ao mundo geek, coleciono miniaturas, gosto de Star Wars, Senhor dos Anéis, sou um nerd mesmo, bastante até (mais risos).

Já pensou em seguir outra profissão?

Eu fiz educação física. Queria ser técnico de futebol.

O que sua família te disse quando você contou que queria seguir carreira como rapper?

Eles apoiaram. Perdi minha mãe muito cedo, aos 9 anos. Cresci com minha vó, meu pai e meu irmão. A minha mãe, quando jovem, foi cantora e atriz. Ela fazia várias coisas na arte e todo mundo acreditou em mim, sentiu que estava na minha veia. Eles apoiaram, mas ninguém me patrocinou para isso. Mas também não foram contra, o que foi bem importante para mim.

Você reatou o noivado com Tâmara Contro recentemente. Quando sai o casório?

Estou muito feliz, fase mais feliz da minha vida. Estamos muito bem juntos, tudo dando muito certo. A gente não marcou data ainda, mas acredito que logo mais. (risos)

Você é muito assediado nas ruas?

Eu tento sempre não parar de fazer minhas coisas do dia a dia, ir ao mercado, shopping, eu ando na rua e faço as coisas que eu tenho que fazer pra que isso aconteça de uma forma natural, pra que eu não me assuste com o assédio das pessoas na rua. Fico muito de boa, fico feliz quando as pessoas param e pedem foto... Fico triste quando não acontece (risos). Adoro quando falam comigo, sentir esse reconhecimento, afinal eu devo tudo ao público.

A fama tem um preço? Qual?

Cara, sabe que eu não sei dizer se tem um preço, tipo eu não posso ir no Hopi Hari em um dia comum, não tem como eu fazer isso, não conseguiria brincar, mas isso é um preço? Não sei! Não vejo problemas. Hoje, com a maturidade que eu tenho, com as experiências que tenho, não vejo problema nenhum, só consigo enxergar coisa boa na minha vida. Só tenho a agradecer a Deus, aos meus fãs, as pessoas que admiram meu trabalho. Não tenho nada para reclamar, as pequenas coisas que eu tenho que me privar por conta da fama, nem se comparam ao tanto de coisa boa que eu recebo com a admiração das pessoas, do carinho delas com o meu trabalho.

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