Por O Dia
Do ponto de vista histórico, sociológico e cultural, a família é o núcleo de base da sociedade. Foi sua instituição, quando passamos de coletores a agricultores, nos fixando em um lugar, que permitiu o desenvolvimento e o crescimento das primeiras comunidades.

Milhares de anos depois, a família continua sendo essencial para o desenvolvimento, proteção e crescimento dos seus indivíduos. É onde temos nossas primeiras interações interpessoais. Como célula social, ela tem passado por diversas e profundas transformações ao longo da história, principalmente do início do século 19 para cá.

O conceito clássico de família composto de pai, mãe e filhos foi ampliado com novos perfis em função de diversas modificações sociais, econômicas e culturais. Podemos citar a bem-vinda maior participação da mulher no mercado de trabalho. Na advocacia elas já são maioria, por exemplo.

A diminuição da taxa de fecundidade, a legalização e aumento do número de divórcios e separações, o crescimento do número de recasamentos são alguns dos outros fatores que forçaram essas transformações.

Órgão de Estado responsável por reunir informações estatísticas sobre o país, o IBGE sempre foi muito cauteloso ao definir conceitos. Não usa o termo favela, por exemplo. Mas classifica oficialmente uma família como um "conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica, ou normas de convivência residentes na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que more só em uma unidade domiciliar". Isso engloba muitas possibilidades e arranjos diferentes.

Foi uma forma de se adaptar a uma nova realidade. O modelo tradicional de pai, mãe e filhos é minoria no país desde 2006. Segundo o IBGE, em 2015, esse arranjo funcionava em 42,3% dos lares brasileiros. Quase 1/5 das famílias (19,9%) eram de casais sem filhos; e 14,4% eram casas onde viviam apenas uma pessoa. O fenômeno em ascendência é aquilo que especialistas chamam de família mosaico: quando pessoas casadas anteriormente, com filhos, se casam novamente e ampliam a família.

Seja qual for sua configuração, a importância da família persiste. E agora, em tempos de pandemia, a necessidade da quarentena lhe confere nova força. Seja porque é com ela que estamos confinados nesse momento ou porque, por razões diversas, estamos longe dela.

Em situações como essa, as famílias ajudam a suportar o peso emocional, afetivo, econômico e psicossocial da crise. Servem de abrigo para seus membros, cuidando das crianças que estão fora da escola, por exemplo.

Por isso, as consequências da crise podem ser maiores para as pessoas que vivem sozinhas ou no formato de famílias monoparentais, tendo que lidar com essa situação sem contar com ninguém, e ainda tendo que cuidar das atividades laborais e os afazeres da própria casa.

Este ano, em função da pandemia que assola o mundo, a ONU divulgou um comunicado celebrando a data e ressaltando que "o apoio às famílias vulneráveis, incluindo àquelas que perderam renda, que tem crianças, pequenas, idosos e pessoas com deficiência, é mais necessário agora do que nunca".

Uma crise como essa ressalta a importância de trabalhar políticas sociais de proteção aos indivíduos e famílias mais vulneráveis. É uma oportunidade para repensar o modelo existente.

A luta por uma sociedade mais justa e menos desigual passa também por um processo de igualdade nas famílias, que elas sejam menos desiguais entre elas e que o papel de cada um de seus integrantes seja mais equilibrado.
Luciano Bandeira é presidente da OABRJ.