Publicado 23/10/2020 18:48 | Atualizado 23/10/2020 19:10
A influência da milícia e do tráfico na capital fluminense foi quantificada esta semana pela pesquisa “O Mapa dos Grupos Armados do Rio De Janeiro”, uma iniciativa de diversos organismos e que incluiu o Núcleo de Estudos da Violência da USP, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, o Disque-Denúncia, as plataformas Fogo Cruzado e Pista News.
O resultado é assustador e mostra como as estratégias usadas até agora na área de segurança pública não têm se mostrado minimamente eficientes. Também apresenta evidências de como a milícia, que tem uma origem paramilitar, tem se fortalecido.
Mais da metade da população carioca vive em áreas com presença da milícia (33,1%) ou do tráfico (24%): 57,1% na soma. E os bairros onde há presença de milícia ou do tráfico ocupam três quarto da área do município. É um amplo domínio territorial e populacional.
Isso não quer dizer que o resto da cidade esteja livre dessa influência. O estudo indica que há disputa entre as duas gangues na maioria do que sobra. Apenas treze bairros do Rio (1,9% da cidade) não teriam qualquer presença de tráfico ou milícia. Lugares como Urca, Lagoa, Jardim Botânico, Abolição e Vista Alegre.
Na Região Metropolitana a situação não é muito melhor. A milícia está presente em 29,2% dos bairros e os traficantes em 28,2%. Mais de 7 milhões de pessoas viveriam em áreas dominadas por essas organizações.
É uma quantidade assombrosa de pessoas que têm seu cotidiano afetado de alguma forma pela violência e pela insegurança provocada por esses grupos.
É uma quantidade enorme de pessoas que estão sem proteção efetiva do poder público, das autoridades legais, à margem do Estado. Estão submetidas a um poder paralelo, onde não há Justiça e não existe o Estado Democrático de Direito.
A ascensão meteórica da milícia nas últimas duas décadas é avassaladora. Criada como grupo paramilitar por integrantes e ex-integrantes de órgãos de segurança pública, e amparada por um discurso de combate à criminalidade e defesa da ordem, a milícia começou cobrando por proteção. Mas foi ampliando suas atividades para diversos ramos. Passou a exercer controle do transporte alternativo, grilagem de terras, vendas de imóveis irregulares. Ampliou para outras atividades que inicialmente coibia, como o tráfico de droga. E não parou ai. Além do controle territorial e social, passou a querer controlar toda a atividade econômica.
Deu um passo além dos serviços ilícitos migrando para atividades econômicas regulares que servem de cobertura para suas atividades clandestinas. Essa semana foram fechadas algumas farmácias que se prestariam a isso, segundo investigação.
A milícia também busca influência e respaldo político participando cada vez mais ativamente de eleições e infiltrando representantes seus no poder público. Coisas que o tráfico tem dificuldade maior de fazer.
O Rio está em uma situação difícil e é preciso que encontremos soluções para restaurar o Estado Democrático de Direito em toda a cidade. A população do Rio não pode ficar restrita a duas opções: viver sob o tráfico ou sob a milícia.
Luciano Bandeira é presidente da OABRJ
O resultado é assustador e mostra como as estratégias usadas até agora na área de segurança pública não têm se mostrado minimamente eficientes. Também apresenta evidências de como a milícia, que tem uma origem paramilitar, tem se fortalecido.
Mais da metade da população carioca vive em áreas com presença da milícia (33,1%) ou do tráfico (24%): 57,1% na soma. E os bairros onde há presença de milícia ou do tráfico ocupam três quarto da área do município. É um amplo domínio territorial e populacional.
Isso não quer dizer que o resto da cidade esteja livre dessa influência. O estudo indica que há disputa entre as duas gangues na maioria do que sobra. Apenas treze bairros do Rio (1,9% da cidade) não teriam qualquer presença de tráfico ou milícia. Lugares como Urca, Lagoa, Jardim Botânico, Abolição e Vista Alegre.
Na Região Metropolitana a situação não é muito melhor. A milícia está presente em 29,2% dos bairros e os traficantes em 28,2%. Mais de 7 milhões de pessoas viveriam em áreas dominadas por essas organizações.
É uma quantidade assombrosa de pessoas que têm seu cotidiano afetado de alguma forma pela violência e pela insegurança provocada por esses grupos.
É uma quantidade enorme de pessoas que estão sem proteção efetiva do poder público, das autoridades legais, à margem do Estado. Estão submetidas a um poder paralelo, onde não há Justiça e não existe o Estado Democrático de Direito.
A ascensão meteórica da milícia nas últimas duas décadas é avassaladora. Criada como grupo paramilitar por integrantes e ex-integrantes de órgãos de segurança pública, e amparada por um discurso de combate à criminalidade e defesa da ordem, a milícia começou cobrando por proteção. Mas foi ampliando suas atividades para diversos ramos. Passou a exercer controle do transporte alternativo, grilagem de terras, vendas de imóveis irregulares. Ampliou para outras atividades que inicialmente coibia, como o tráfico de droga. E não parou ai. Além do controle territorial e social, passou a querer controlar toda a atividade econômica.
Deu um passo além dos serviços ilícitos migrando para atividades econômicas regulares que servem de cobertura para suas atividades clandestinas. Essa semana foram fechadas algumas farmácias que se prestariam a isso, segundo investigação.
A milícia também busca influência e respaldo político participando cada vez mais ativamente de eleições e infiltrando representantes seus no poder público. Coisas que o tráfico tem dificuldade maior de fazer.
O Rio está em uma situação difícil e é preciso que encontremos soluções para restaurar o Estado Democrático de Direito em toda a cidade. A população do Rio não pode ficar restrita a duas opções: viver sob o tráfico ou sob a milícia.
Luciano Bandeira é presidente da OABRJ
Comentários